A microbiota intestinal tem um papel importante na saúde e no funcionamento do trato gastrointestinal. Há evidências de que condições como a síndrome do intestino irritável (SII) frequentemente tem relação com uma microbiota alterada. Na realidade, ela tem um papel até mais amplo na saúde, e isso é determinado em grande parte nos primeiros anos de vida.
O microbioma começa a se desenvolver assim que nascemos, quando os micróbios colonizam o intestino humano. Bebês nascidos de parto normal têm mais bactérias no intestino do que os nascidos por cesariana por causa de seu contato com as bactérias intestinais e vaginais da mãe, explica Lindsay Hall, coordenadora da pesquisa de microbiomas no Instituto de Biociência Quadram.
"Crianças nascidas de cesárea perdem a inoculação inicial, e alguns dos micróbios com os quais entram em contato serão da pele e do ambiente", diz Hall.
"Isso é muito importante para as crianças desenvolverem seus sistemas imunológicos. Um trabalho recente sugeriu que os distúrbios no microbioma intestinal na primeira infância têm consequências negativas para a saúde do hospedeiro", diz ela.
"Vários estudos mostram que as cesáreas afetam a saúde em longo prazo, e há fortes evidências de que isto aumenta o risco de desenvolver alergias e ecossistemas menos robustos, o que significa que você fica mais suscetível a mudanças e distúrbios, como antibióticos.
"No entanto, não há evidências robustas do que essas diferenças significam especificamente para o sistema imunológico", afirma.
Há também diferenças nos microbiomas de bebês amamentados e alimentados com fórmula. As bifidobacterium, grupo de bactérias associadas à saúde, são frequentemente encontradas no estômago de bebês amamentados.
"Sabemos que as bifidobacterium podem digerir os componentes do leite materno. Eles não são normalmente encontrados na fórmula láctea, e é por isso que os bebês alimentados com fórmula têm menos dessas bactérias", diz Hall.
Cientistas estão perto de entender como o intestino pode ser usado para tratar doenças. Um dos mais novos tratamentos na área é o transplante de microbiota fecal, no qual a microbiota de uma pessoa saudável é colocado no intestino de um paciente.
O procedimento serve para tratar bactérias intestinais resistentes aos antibióticos, que podem infectar o intestino e causar diarreia. Embora não haja evidências conclusivas sobre o mecanismo subjacente, sabe-se que o transplante atua repovoando o microbioma com bactérias que contribuem com a tarefa.
A grande questão em torno desses transplantes é definir o que é um microbioma intestinal normal.
"Não estabelecemos o que é normal, mas o que é normal para cada indivíduo. Isso depende de etnia, ambiente e outras coisas pelas quais o corpo passou", diz Fiona Pereira, chefe de desenvolvimento de negócios e estratégia do departamento de cirurgia e câncer no Imperial College London, que supervisiona a pesquisa sobre a relação entre o microbioma e a dieta.
Pereira diz que, se os cientistas puderem ter uma compreensão clara do que é saudável em diferentes grupos étnicos e etários, eles podem ver como o intestino de uma pessoa varia e com o que isso está relacionado - pode ser dieta, ambiente ou predisposições genéticas para certas doenças.