Conheça a diferença entre a remissão do câncer e a cura da doença

Algumas doenças não têm cura, mas entram em remissão e é possível não apresentar sintomas por um longo tempo

O tratamento com células CAR-T é uma nova forma de tratar alguns tipos de câncer por meio da reprogramação das células de defesa do corpo | Reprodução: Internet
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Para quem enfrenta alguma doença cruel, é ótimo poder ouvir que está curado e saber que está livre de um problema. Mas você sabia que, em muitos casos, a pessoa pode não apresentar mais nenhum sintoma para o resto da vida e ainda ter a doença? E não se trata de erro médico. Existe diferença entre cura e remissão de uma doença, e esses conceitos geram certa confusão, por não ser de conhecimento do público geral.

Remissão é o período em que o problema permanece sob controle. Ou seja, o paciente pode estar sem qualquer evidência da doença (remissão completa), mas não é considerado curado pois ainda existe o risco de o mal retornar ou há necessidade de controlá-lo com remédios. O termo é utilizado principalmente para problemas como câncer, doenças autoimunes e infecciosas (como Aids). 

Usando como exemplo um problema oncológico como o câncer, de acordo com Rodrigo Calado, professor titular de hematologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, a cura é quando a doença é totalmente erradicada. No entanto, este diagnóstico só é possível depois de ao menos cinco anos sem sinal da doença. Antes disso, o termo correto é "remissão". Recentemente, um paciente teve remissão completa de um linfoma não-Hodgkin – tipo de câncer que se origina no sistema linfático – em apenas um mês

A evolução foi celebrada por pesquisadores, pois ele é um dos 14 pacientes que participam de estudo com a terapia CAR-T Cell desenvolvido pelas Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), pela Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, em parceria com o Hemocentro da cidade do interior paulista e pelo Instituto Butantan. Essa nova terapia usa células de defesa do próprio corpo, modificadas em laboratório, para atacar linfomas e leucemia. 

Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular da rede D’Or, diz que o paciente em remissão deve, inicialmente, passar por exames a cada três meses, quatro meses, seis meses e, depois, uma vez ao ano. "Logo depois, tem que ter cuidado com infecção. Depende muito do tipo de tratamento, mas, geralmente, três meses depois de remissão é vida normal. Um transplante de medula óssea, dependendo o tipo de transplante, é cerca de seis meses. É vida normal, fazer tudo o que quer, com moderação", pontua.

O que é CAR-T Cell?

A terapia CAR-T Cell  utiliza os linfócitos T, que compõem o sistema imunológico e que, ao serem geneticamente modificados, tornam-se mais ativos contra as neoplasias do sangue. É um medicamento totalmente individualizado e personalizado. Até o momento, 14 pacientes foram tratados com o CAR-T Cell no estudo que usa verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

A versão brasileira da técnica é aplicada no Brasil pela USP, em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto, de forma compassiva, quando o estudo aceita o paciente em estágio avançado da doença, e os médicos conseguem com a Anvisa a autorização para a aplicação do método. Nenhum dos pacientes brasileiros é considerado curado, mas em remissão. O primeiro foi em 2019, há menos de 5 anos. Ele, no entanto, morreu semanas depois em um acidente doméstico em casa.

Todos os pacientes tratados no estudo tiveram remissão de ao menos 60% dos tumores. A recuperação foi no Sistema Único de Saúde (SUS). O método CAR-T Cell tem como alvo três tipos de cânceres: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que atinge a medula óssea. O tratamento contra o mieloma múltiplo ainda não está disponível no país. 

A técnica é utilizada em poucos países. No Brasil, no segundo semestre, 75 pacientes devem ser tratados com o CAR-T Cell com verba pública após autorização da Anvisa para o estudo clínico (leia mais abaixo). Atualmente, o tratamento só existe na rede privada brasileira, ao custo de ao menos R$ 2 milhões por pessoa.

Segundo a Novartis, laboratório responsável pela fabricação e comercialização do medicamento com as células CAR-T, a empresa está em constante diálogo com a comunidade de pacientes e os demais atores do sistema de saúde, com o compromisso de avançar e apoiar o acesso a esse tipo de terapia, juntamente com os órgãos competentes da saúde pública e suplementar, a sociedade médica, os centros de excelência e as associações de pacientes, contribuindo para a sustentabilidade do sistema de saúde e a acessibilidade a inovações.  

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