Um novo estudo publicado no Journal Of Hepatology, apontou que a interrupção constante do ciclo circadiano pode aumentar o risco de câncer, especificamente o câncer de fígado. Esse alerta vale especialmente para aqueles que trabalham fora do horário habitual para o corpo humano. O tumor de fígado é a terceira principal causa de morte por câncer em todo o mundo. No Brasil, dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimam cerca de 10,7 mil novos casos por ano no triênio 2023-2025.
O que é o ciclo circadiano?
O ciclo circadiano é um padrão biológico que ocorre aproximadamente a cada 24 horas, influenciando processos fisiológicos e comportamentais, como o sono, regido principalmente pela alternância entre luz e escuridão no ambiente.
Horário de trabalho e relação com desenvolvimento do câncer
As pessoas mais vulneráveis a essa mudança no ritmo circadiano são aquelas que trabalham em turnos noturnos por um longo período de tempo, ou viajam constantemente por vários fusos horários. Portanto, mesmo dormindo por horas suficientes, os horários inversos ao ritmo natural podem trazer efeitos negativos.
Detalhes do estudo
O pesquisador Karl Dimiter Bissig, da Universidade Duke, criou um modelo de rato de laboratório humanizado, melhor dizendo, um camundongo com células hepáticas humanas aplicadas em seu próprio fígado. Isso permitiu que os cientistas estudassem o efeito da interrupção do ritmo circadiano no desenvolvimento do câncer tanto em animais quanto em seres humanos.
Os ratos da pesquisa foram divididos em dois grupos:
- grupo: ficou em sincronia com o ciclo natural de dia e noite;
- grupo: esteve exposto a períodos de luz e escuridão invertidos. Algo comparável à mudança que uma pessoa passa ao voar de San Francisco para Londres todas as semanas durante várias semanas.
Resultados do estudo
Os roedores expostos ao ciclo circadiano bagunçado demonstraram uma especial propensão ao desenvolvimento de câncer, tanto em suas células hepáticas animais quanto nas humanas. Além disso, foi constatada a correlação entre a alteração constante do sono e o aumento de incidência de cirrose e icterícia.
Ao comparar análises de sangue e amostras microscópicas dos fígados dos camundongos e de humanos com câncer hepático, foi possível perceber que grande parte das alterações provocadas pela mudança do ciclo circadiano são similares em ambas as espécies. Os cientistas observaram o aumento da intolerância à glicose, acumulação anormal de gordura no fígado, inflamação e fibrose.
Em contrapartida, é importante ressaltar, no entanto, que a readequação dos ratos a um ciclo circadiano normal retardou o desenvolvimento do câncer e preveniu metástases, segundo os autores. Diante disso, os resultados da pesquisa mostram-se promissores para o desenvolvimento de tratamentos mais eficientes para o câncer de fígado.