Um dos remédios mais comuns no Brasil para o combate a febres e dores é a dipirona e, por isso, costuma estar na lista dos fármacos mais vendidos no país. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apenas no ano de 2022, mais de 215 milhões de doses desse fármaco foram comercializadas no Brasil.
Como ele é visto em outros países? Em outros países, no entanto, esse remédios não costumar ter toda essa popularidade. Na União Europeia e Estados Unidos, por exemplo, a circulação desse remédio já foi proibida há alguns anos. Isso acontece por causa de um possível efeito colateral atribuído ao fármaco, que é a agranulocitose. Esse é um problema grave de alteração no sangue, que pode ser fatal.
Pesquisas fizeram alerta. A dipirona já foi um medicamento disponível em vários países do mundo, até metade das décadas de 1960 e 1970. No entanto, nessa época, tiveram início as primeiras pesquisas que acabaram emitindo alertas sobre o risco da agranulocitose. Um estudo publicado em 1964 revelou que esse problema grave no sangue estaria presente em um indivíduo a cada 127 que ingeriram a aminopirina, que é uma substância com estrutura bem semelhante à da dipirona.
“Tendo como base essa semelhança química, os autores não fizeram distinção entre as duas moléculas e assumiram que os dados obtidos para a aminopirina seriam também aplicáveis à dipirona”, foi o que revelou um artigo da Universidade Federal de Juiz de Fora e da Universidade de São Paulo, publicado em 2021.
Efeitos. Com isso, e se baseando também em outras evidências, a agência regulatória dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), decidiu, em 1977, que a dipirona deveria ser retirada do mercado americano. Pouco depois, países como Japão, Austrália, Reino Unido e partes da União Europeia tomaram a mesma decisão.
Evidências sobre a segurança
Novas evidências sobre a segurança da dipirona começaram a aparecer a a partir dos anos 1980 e isso jogou ainda mais controvérsia na discussão. Realizado em oito países, como Itália, Israel, Hungria, Alemanha, Suécia, Bulgária e Espanha, o Estudo Boston, por exemplo, coletou dados de 22,2 milhões de pessoas.
Seus resultados demonstraram a incidência de 1,1 caso de agranulocitose a cada 1 milhão de pessoas que ingeriram o remédio, o que é considerada uma frequência muito baixa. Já estudo realizado em Israel, com 390 mil pessoas hospitalizadas, revelou um risco de 0,0007% de desenvolver essa alteração no sangue e de 0,0002% de morrer por causa desse evento adverso.