Você é flexível? O quanto consegue “esticar” e usar todo o movimento das articulações, dos tendões e dos músculos de todo o corpo? A resposta a essa pergunta pode trazer indícios de quantos anos você vai viver e fazer você mudar de hábitos o mais rápido possível.
Essa conclusão foi tirada após uma pesquisa realizada no Brasil, publicada nesta quarta-feira (21), no periódico acadêmico Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports.
COMO FOI FEITA A PESQUISA?
O trabalho reuniu dados de 3.139 homens e mulheres com idades entre 46 a 65 anos. Nele, todos passaram por avaliações de flexibilidade. Após um acompanhamento médio de 12 anos, 302 participantes do estudo haviam morrido.
Após uma série de ajustes estatísticos — e a exclusão dos óbitos por covid-19 ou causas externas, como episódios de violência e acidentes — os autores concluíram que a flexibilidade está "inversamente associada" à mortalidade.
RISCOS DE UMA MORTE PRECOCE
Os participantes com uma baixa flexibilidade corporal, de acordo com um teste realizado em consultório da pesquisa, tendem a morrer mais cedo em comparação com aqueles que apresentam uma boa amplitude de movimentos.
Segundo dados compilados no estudo, homens e mulheres com baixos índices de flexibilidade tinham 1,87 e 4,78 vezes mais risco de morrer, respectivamente, quando comparados aos participantes que obtiveram bons resultados nessa avaliação.
É NORMAL A ELASTICIDADE DIMINUIR COM O TEMPO
O médico Claudio Gil Araújo, em entrevista ao G1, autor principal da pesquisa recém-publicada e diretor da Clinimex, explica que a flexibilidade é uma das pouquíssimas variáveis que a gente começa a perder logo após nascer.
"Uma criança de 2 anos chega praticamente ao pico de flexibilidade. Depois, a tendência é só piorar", compara ele.
Além disso, a flexibilidade não é um conceito único, que vale para o corpo inteiro. Uma pessoa pode ter um ombro muito flexível e um quadril totalmente rígido, pontua o especialista.
"Vemos isso, inclusive, em atletas profissionais. Nadadores, por exemplo, têm muita flexibilidade nos ombros e nos tornozelos, mas praticamente não usam o tronco. Já para ginastas, o tronco é fundamental para realizar movimentos bonitos", afirma.
DÁ PRA MELHORAR A FLEXIBILIDADE?
O fisiologista Bruno Gualano, explica que um exercício específico de flexibilidade, como sessões de alongamento, por exemplo, vai ter como resultado a melhora da capacidade de se alongar e ter mobilidade.
"Isso pode ser importante em algumas condições específicas e garantir a realização de atividades cotidianas de indivíduos que têm pouca flexibilidade, estão 'encurtados' e apresentam dificuldade para fazer tarefas como amarrar o próprio tênis", diz.
No entanto, o pesquisador teme que dar foco num atributo físico específico — como a flexibilidade — pode complicar ainda mais as coisas em um cenário em que o sedentarismo reina absoluto.
"Em termos de saúde pública, precisamos levar em conta que o tempo das pessoas é escasso para a prática de atividade física. O Brasil tem uma das populações mais inativas do mundo", aponta ele.
O especialista vê a necessidade de personalizar as recomendações de exercício conforme a aptidão física de cada um.