O fogão a gás é a escolha mais popular na cozinha dos brasileiros. O eletrodoméstico é a escolha mais comum por consumir muito menos energia do que os fogões elétricos tradicionais, além de acessível e funcionar com gás natural encanado ou botijão de gás (GLP – Gás Liquefeito de Petróleo), fontes de baixo impacto ambiental. Apesar de querido, o ato de cozinhar em fogão a gás não é favorável à saúde, aponta novos estudos.
A utilização do fogão a gás pode deixar as pessoas mais doentes, pois aumenta a poluição presente no ar do interior das residências, segundo a conclusão de um relatório divulgado pelo Rocky Mountain Institute, dos Estados Unidos, que afirma que o ar interno de casas que usam esse tipo de fogão pode ficar de duas a cinco vezes mais poluído do que o ar externo. No entanto, esse não é seu único contra.
Um novo estudo publicado na revista científica Environmental Science & Technology, mostrou que pesquisadores da Universidade Stanford descobriram que fogões a gás aumentam os níveis internos do carcinógeno benzeno acima dos encontrados ao redor de fumantes passivos de tabaco, já que o preparo libera no ar o benzeno, um químico conhecido pelo seu potencial cancerígeno. Outros compostos nocivos também são liberados, como o dióxido de nitrogênio.
O estudo avaliou 87 residências nos Estados Unidos, que mostrou que esse elevado nível de liberação do químico cancerígeno é obtido no uso comum do fogão a gás. Por exemplo, quando o cozinheiro usa uma chama alta ou ajusta a temperatura do forno para 176 °C ou mais. Além da emissão momentânea, o benzeno consegue permanecer por algumas horas poluindo o ar dentro da casa e chegando aos quartos. Na contramão, a mesma pesquisa descobriu que os cooktops por indução não emitem benzeno detectável.
O que é benzeno?
Devido aos seus riscos, a substância está na lista dos 10 maiores problemas químicos para a saúde, elaborada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com capacidade de afetar tanto o meio-ambiente quanto a saúde de uma população. Entre as pessoas, é associado com um risco aumentado para leucemia e outros tipos de câncer no sangue. "A principal fonte de exposição ambiental ao benzeno ocorre por meio da evaporação da gasolina", explica o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Inclusive, "nos grandes centros urbanos, onde há maior concentração de veículos, a população em geral está exposta a concentrações preocupantes de benzeno no ar", acrescenta o instituto.
"Agora sabemos que o benzeno também se forma nas chamas dos fogões a gás em nossas casas”, pontua Rob Jackson, autor sênior do estudo e professor da Stanford, em nota sobre os riscos do subproduto da combustão. “Uma boa ventilação ajuda a reduzir as concentrações do poluente [na cozinha], mas descobrimos que os exaustores eram frequentemente ineficazes na eliminação da exposição ao benzeno”, complementa.
Como reduzir o benzeno emitido pelo fogão a gás?
Diante das evidências que apontam a emissão de benzeno associado ao fogão a gás, uma proposta radical é trocar o eletrodoméstico atual por um fogão elétrico. No entanto, essa é uma medida pouco viável, ainda mais quando não existem incentivos ou campanhas nacionais que facilitem essa troca de hábito. Uma boa estratégia é sempre cozinhar com as janelas e portas abertas da cozinha, garantindo o máximo de ventilação, mesmo que isso impacte um pouco a força da chama. Usar exaustores ou ventiladores podem ajudar nessa dispersão, mesmo que não sejam 100% eficazes.
Embora o atual estudo não tenha medido este risco, é válido destacar que os cuidados devem ser redobrados entre aqueles que cozinham diariamente, já que são as mais expostas ao benzeno liberado pelo fogão a gás. Além do benzeno, esse tipo de fogão já é conhecido pelas altas emissões de metano, gás associado ao efeito estufa. Estudos anteriores identificaram que a liberação de metano continua, mesmo quando o eletrodoméstico está desligado.