Uma das principais consequências da infecção pela Covid-19 é a perda de olfato. Muitos acometidos pelo vírus Sars-CoV-2 convivem com o problema meses após se curarem da doença. Mas a ciência ainda busca entender como acontece essa manifestação e as chances de recuperar o sentido. É o que investigaram cientistas da França e do Canadá, em um estudo publicado no último dia 24 de junho no periódico científico Jama Infectious Diseases.
Em abril de 2020, eles selecionaram pessoas que haviam testado positivo para o novo coronavírus em exame RT-PCR e que estavam sem olfato há, no mínimo, sete dias. A cada quatro meses durante um ano, os voluntários responderam a questionários e fizeram testes para avaliar sua função olfativa. No total, participaram da pesquisa 97 pessoas, sendo que 51 passaram tanto por análises subjetivas quanto objetivas da recuperação do olfato e 46 fizeram apenas as etapas subjetivas, reportando suas percepções sobre o próprio sentido.
Na primeira análise quatro meses após o início do estudo, 23 dos 51 (45,1%) participantes que fizeram testes junto aos cientistas já haviam recuperado totalmente a capacidade de sentir odores. Em 27 deles (52,9%), o sentido havia retornado parcialmente, e apenas um (2%) ainda não conseguia detectar cheiro algum.
Passados oito meses do começo da investigação, 49 desses 51 voluntários (96,1%) já poderiam cheirar novamente. Um ano após terem Covid-19, dois pacientes ainda permaneceram hipósmicos (apenas com parte da função olfativa), com anormalidades persistentes.
Entre os voluntários que fizeram o próprio acompanhamento, 13 de 46 (28,2%) já conseguiam cheirar em níveis suficientes após quatro meses do início do experimento. Os outros 33 só recuperaram o sentido no final do período de 12 meses.
Segundo os autores, as discrepâncias entre os dois grupos podem ser explicadas por distúrbios qualitativos que afetam a autoavaliação (por exemplo, a parosmia, que é a falta de sensibilidade acurada do olfato) e/ou a capacidade limitada dos testes olfatórios de avaliar um retorno completo à função. Outro ponto limitante do estudo é que apenas metade dos voluntários realizou os testes objetivos para avaliar o olfato.