Você já parou pra pensar sobre a influência que a música tem sobre nós, seres humanos? Afinal, ela está presente em todas as fases da vida e dita o ritmo das mais variadas situações e momentos. Pode reparar: até mesmo os bebês recém-nascidos fazem sons com a boca e são atraídos por barulhos muito antes de dizerem as primeiras palavras.
Para a ciência, não há dúvidas de que a música tem um impacto nas emoções, no comportamento e, em última análise, até na saúde de cada um de nós. Quando tocamos um instrumento ou ouvimos alguma gravação, diversas áreas do cérebro são instigadas — poucas atividades intelectuais têm um efeito tão amplo.
“Regiões responsáveis por atividade motora, memória, linguagem e sentimentos são recrutadas para interpretar os estímulos sonoros”, destrincha a enfermeira Eliseth Leão, pesquisadora do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, na capital paulista.
Mas essas reações não se limitam à massa cinzenta. Experimentos mundo afora vêm testando e reconhecendo o poder terapêutico das melodias para enfrentar os males que abalam a mente e também o corpo. Tanto é que estudiosos já ousam encará-las como um remédio de verdade, com prescrição de dose e esquema de uso.
Os trabalhos pioneiros nessa área foram iniciados na psiquiatria e mostraram que as composições têm um papel a cumprir em doenças como a ansiedade e a depressão.
“Elas também são capazes de reduzir o nível de estresse durante um procedimento cirúrgico, baixam a pressão arterial e a frequência cardíaca e até aceleram a recuperação após uma sessão de exercícios físicos”, lista o fisiologista Vitor Engrácia Valenti, da Universidade Estadual Paulista, em Marília, que publicou uma série de pesquisas que investigam essas questões. Mas será que todos os estilos musicais têm o mesmo efeito?
Os efeitos de cada estilo musical na saúde
Intuitivamente, nós sabemos selecionar o melhor tipo de som para cada ocasião. Na academia de ginástica, por exemplo, preferimos ritmos mais acelerados, que ajudam a dar aquele gás extra para o esforço físico. Já durante a meditação ou a leitura, apostamos em composições mais calmas, que auxiliam a focar e relaxar. Mas é preciso considerar que isso muda de acordo com o lugar onde você nasceu.
“Na cultura ocidental, batidas mais rápidas e progressivas são sinal de alegria, enquanto um compasso lento denota certa tristeza”, ensina o neurocientista Raphael Bender, do Centro Estadual de Educação Profissional Professora Lourdinha Guerra, em Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Em alguns países orientais, essa lógica se inverte.
Com base nessas observações, cientistas começaram a questionar se havia um estilo musical que fosse mais vantajoso que os outros. A escolha natural na maioria das pesquisas são as músicas clássicas compostas por Mozart, Bach ou Vivaldi. “É impressionante como elas continuam a transmitir uma mensagem mesmo após três ou quatro séculos de seu lançamento”, observa Eliseth.
Porém, não dá pra cravar que esse seja o estilo mais saudável de todos. Ora, se você não curte a Nona Sinfonia de Beethoven, escutá-la repetidamente só vai deixá-lo mais incomodado. Por isso, nesse processo é essencial botar na balança os gostos pessoais de cada um.
É justamente aí que entra a figura do musicoterapeuta, profissional que faz uma graduação ou uma pós-graduação com o objetivo de aplicar a música como um tratamento complementar às mais diversas condições.
“Lançamos mão de técnicas que envolvem a audição, a recriação de sons, a composição e o ato de tocar um instrumento para alcançar um objetivo terapêutico, sempre levando em consideração o histórico e as preferências do paciente”, explica o musicoterapeuta José Davison da Silva Junior, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.
Essa profissão, que começa a ganhar mais força e destaque no Brasil, tem atuação garantida em diversas áreas da saúde. Pode aprimorar, por exemplo, o aprendizado na infância ou até mesmo dar suporte para que crianças autistas interajam melhor com amigos e familiares.
“Por meio dos sons, trabalhamos habilidades importantes, como os movimentos corporais, a memória e o raciocínio, além da percepção auditiva e espacial”, lista o psicopedagogo Junior Cadima, do Instituto Brasileiro de Formação de Educadores, em São Paulo.
A musicoterapia ganha espaço em outras fases da vida. Ela vem se mostrando um recurso importante após um acidente vascular cerebral (AVC), especialmente nos casos em que o indivíduo desenvolve uma sequela chamada afasia.
Nessas situações, há uma dificuldade em encontrar as palavras para descrever as coisas e se comunicar com os outros. Por meio das canções, essa recuperação se torna mais suave e natural. O mesmo princípio se encaixa em outras doenças, como o Alzheimer e o Parkinson.