Como mostrado, a congestão nasal pode ocorrer em resfriados ou alergias, por exemplo, em que a secreção sai sem que se perceba. Mas há momentos em que o corpo não consegue eliminar todo esse muco nasal e muitas pessoas recorrem aos descongestionantes vendidos em farmácias.
Há dois tipos principais deles: os que são administrados diretamente no nariz e os que são administrados pela boca (em forma de xarope ou comprimido). Em geral, esses medicamentos têm um papel de contraírem os vasos sanguíneos do nariz (vasoconstrição), melhorando o incômodo da congestão e ajudando a respirar melhor.
Mas essa melhora não é natural, já que foi obtida pelo produto farmacêutico, então o alívio (benefício para algumas pessoas) é temporário. Um tempo depois, os vasos sanguíneos do nariz voltam a dilatar e a congestão volta. A partir daí, há um vaivém de contrair e descontrair os vasos do nariz que para algumas pessoas é sinônimo de alívio.
Apesar dos benefícios envolvidos, há também diversos riscos, principalmente para crianças, grávidas, lactantes e idosos.
"Os orais só são liberados em crianças a partir dos 4 anos de idade. Alguns seguem o critério de que só pode usar a partir de 6 anos, mas dependendo das formulações só podem ser usados a partir de 12 anos. Além disso, é proibido o uso de descongestionantes orais em grávidas e lactantes. Os de uso tópico, em forma de gota, eventualmente se pode usar. O problema é que eles funcionam tão bem que a pessoa tem a tendência de começar a usar excessivamente porque na gestação normalmente o nariz fica mais congestionado, e aí pode entrar a questão da dependência", afirma Roithmann, da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.
Segundo o otorrinolaringologista, gestantes e lactantes devem conversar com seus médicos sobre o uso desse tipo de medicamento, mas, "de maneira geral, não se usa descongestionantes nem tópicos (aplicado no local), nem sistêmicos (medicamentos orais) em gestantes e lactantes."
Há duas saídas possíveis para grávidas e lactantes, sugere Roithmann. Uma é a lavagem nasal (leia mais abaixo) e a outra é o uso de medicamentos anti-inflamatórios de uso tópico, que também podem ser usados de forma segura na rinite da gestação e durante o período de lactação. Mas é importante ressaltar que eles não são descongestionantes.
E por que há toda essa preocupação em torno do uso de descongestionantes nasais?
Roithmann explica que esse tipo de medicamento é absorvido pela circulação sanguínea e pode gerar alterações na frequência cardíaca e de pressão, sem falar de alterações no sistema nervoso central.
Por isso, devem ficar atentos pacientes com condições cardíacas, como isquemia cardíaca, hipertensão, alterações hormonais como hipertireoidismo, diabetes, glaucoma e uso de outros medicamentos, como alguns tipos de antidepressivos.
"Se você pinga essa medicação, ele descongestiona essas estruturas internas do nariz e você em 2 minutos está respirando melhor. Mas qual é o problema disso? Passado um tempo tem um fenômeno chamado efeito rebote", explica o especialista. "Se usar mais do que três a cinco dias, continuamente, o organismo começa a precisar do congestionante para funcionar. E começa a pedir que a pessoa use cada vez mais. Isso gera uma situação que tem até um nome e é uma doença, que se chama 'rinite da gota', 'rinite medicamentosa', e que é difícil de tratar, exigindo em alguns casos intervenção cirúrgica do nariz para resolver."
Há um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados em que torna obrigatória a apresentação e a retenção de uma receita médica para a compra de medicamentos para desobstrução nasal que contenham corticoides e vasoconstritores.
O autor da proposta, o deputado federal Dr. Zacharias Calil (DEM-GO), cita no texto dados da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, que aponta que "os descongestionantes nasais são os medicamentos mais procurados na automedicação, em torno de 7% das vendas" e que "de 25% a 50% dos usuários dessas substâncias poderá desenvolver rinite medicamentosa".
O projeto, que cita outros efeitos colaterais possíveis (como malformações cardíacas fetais no primeiro trimestre de gravidez e redução da espessura da mucosa nasal), aguarda parecer do relator na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
"Uma coisa importante para as mães e pais entenderem: a gente tem tanto receio do uso de descongestionante em criança porque a dose que ajuda, ou seja, a dose que descongestiona, é muito próxima da dose que gera efeitos colaterais. Então, é muito comum intoxicação por descongestionante, inclusive visitas à emergência pelos efeitos do excesso de descongestionante", afirma Roithmann.
Segundo ele, "a tendência hoje da maior parte dos tratamentos, tanto de rinite crônica, quanto de sinusite crônica, é através de lavagens nasais".