Você é adepto ao leite puro? Isto é, aquele extraído das vacas e que não passa por processo industrial algum, comum de ser tomado por moradores da zona rural ou por quem curte um fim de semana em hotéis-fazenda. Muitas pessoas afirmam que, além do sabor diferente, o leite puríssimo ainda possui uma série de benefícios à saúde, como melhora na saúde gastrointestinal, fortalecimento do sistema imune e proteção contra alergias. No entanto, isso é verdade? O que a ciência tem a dizer sobre as propriedades deste leite “cru”?
O consumo do leite cru, não é indicado por especialistas e pode fazer muito mal à saúde. O leite de uma vaca doente pode gerar prisão de ventre, indigestão, refluxo e até transmitir doenças crônicas, como tuberculose e brucelose. Por isso, vender leite cru é proibido no Brasil desde 1969. De acordo com um levantamento feito pela Universidade Tufts, em Nova Iorque, a primeira coisa que devemos ter em mente quando formos tomar leite é saber se ele foi ou não pasteurizado.
A pasteurização é um processo de fervura do leite que reduz dramaticamente a quantidade de bactérias e microorganismos presentes na bebida, aumentando a vida útil do produto. Há uma série de bactérias muito nocivas à saúde humana que são comumente encontradas no leite não-processado, como listeria, salmonela, E. coli e campylobacter. Por isso, leite não-pasteurizado não é indicado para crianças, os mais velhos, mulheres grávidas e pessoas com deficiências no sistema imune. De acordo com o governo norte-americano, a incidência de doenças relacionadas às bactérias mencionadas acima é 2 vezes maior em cidades nos EUA onde o comércio de leite não-pasteurizado é permitido.
Algumas pessoas afirmam que o leite não-pasteurizado melhora a digestão e não causa intolerância à lactose. Pesquisas, porém, descartam estas noções por completo. De acordo com a literatura científica, o leite cru não possui quantidades de probióticos suficientes para melhorar, de fato, o funcionamento do estômago e dos intestinos. Além disso, tanto o leite cru quanto o pasteurizado não possuem lactase, a enzima necessária para digerir a lactose e que está em falta em quem possui intolerância aos derivados de leite. Ou seja, beber leite cru não altera o fato da pessoa ser intolerante ou não à lactose.
Outro ponto interessante é que estudos mostraram que o leite cru também não tem grandes quantidades de lactobacilos, aquelas bactérias presentes no leite fermentado que a gente compra nos supermercados e que ajudam a digerir a lactose.Também não há evidência de que o leite cru pode tratar e curar alergias e asma. Um estudo chamado “PARSIFAL” é muito citado como prova de que leite não-pasteurizado combate estas doenças, porém boa parte da bebida utilizada no trabalho havia sido fervida, ou seja, não estava crua de fato.
Além disso, a pasteurização influencia muito pouco na estrutura das proteínas presentes no leite, portanto pessoas com alergias ao leite vão sofrer do mesmo jeito, seja o leite cru ou industrializado. Para mais não alterar a estrutura das proteínas, a pasteurização também não modifica muito a quantidade de vitaminas no leite. O calor da pasteurização diminui um pouquinho a quantidade das vitaminas B12 e C, é verdade. No entanto, vale notar que um copo cheio de leite, mesmo pasteurizado, contém mais da metade da recomendação diária de vitamina B12, e o leite não costuma ser a fonte primária de vitamina C na nossa dieta.
Segundo o levantamento da Tufts, beba leite “cru” por sua conta e risco. Apesar dos benefícios à saúde parecerem tentadores, há pouquíssimas evidências dando suporte às teorias. Sabendo que você pode ter a mesma qualidade nutricional bebendo tanto leite cru quanto pasteurizado, a dica é optar pelo segundo, já que, no mínimo, ajudará a evitar um monte de potenciais infecções que são perigosas à nossa saúde e ao nosso bem estar.