Uma idosa foi picada por uma cobra na frente de casa, em Itanhaém, no litoral paulista. Segundo o marido da vítima, ela sofreu dois acidentes vasculares cerebrais (AVCs) por conta do veneno, e está internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Informações do G1.
Maria de Fátima Barbosa Greca, de 63 anos, chegava em casa, na Rua Manoel Moreira Senne, no bairro Chácara das Tâmaras, quando, ao abrir o portão, pisou acidentalmente no filhote de serpente da espécie jararacuçu (Bothrops jararacussu), que a picou no calcanhar.
Em entrevista ao G1, Cesar Deivid Greca, de 67 anos, marido da vítima, contou que ouviu a esposa chamando pelo nome do filho, e saiu correndo para ver o que havia acontecido.
"Eu estava em casa com meu outro filho, quando ouvi o grito dela pedindo pelo meu filho David e falando 'socorro'. Na hora, sai correndo. Foi quando vimos que ela tinha sido picada pela cobra, e que já tinha sofrido o primeiro AVC. Saímos correndo para levá-la ao hospital", conta.
De acordo com Cesar, a esposa foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Sabaúna, onde deu entrada por volta das 17h de quinta-feira (18). Foi aplicado soro antibotrópico, para neutralizar o veneno. No início da noite, a idosa começou a sentir o braço e a perna formigando. Era um novo AVC. Na sexta-feira (19), a médica responsável verificou que a respiração da paciente estava fraca, e decidiu entubá-la.
Segundo Danielle Greca, filha de Maria de Fátima, tanto na UPA como no Hospital Regional da cidade não há ala exclusiva para pacientes com Covid-19, o que preocupou a família.
"É um descaso o que fizeram, tanto na UPA como no hospital. Estão recebendo pacientes com Covid-19. Então, as pessoas são colocadas na mesma ala. Minha mãe, que é hipertensa, não poderia ficar parada lá, deveria ter sido levada para uma UTI rapidamente", reclama.
A família alega que tentou fazer a transferência da mãe, mas não conseguia vaga. Até que, no fim da tarde de sexta, por volta das 17h, surgiu uma vaga no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande. O médico da unidade a avaliou e, na mesma hora, decidiu realizar uma cirurgia, por conta de um coágulo na cabeça. Ela está internada na UTI desde então.
Jararacuçu
O biólogo Eric Comin explica que a jararacuçu é uma espécie grande, que pode medir até 2 metros de comprimento. Geralmente, as fêmeas são bem maiores que os machos. Elas têm o hábito de ficar ao sol durante o dia, e é comum a espécie ser encontrada na região, por conta da Mata Atlântica, se alimentando de pequenos roedores e aves.
Segundo o biólogo, o veneno da serpente é bem potente. "O veneno dessa cobra é muito forte, pode ocorrer necrose, choque, grande hemorragia externa grave, e causar insuficiência renal, insuficiência respiratória, e em alguns casos, até um edema cerebral", alerta.
O professor doutor da Faculdade de Medicina de Botucatu e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e consultor do Ministério da Saúde Vidal Haddad Júnior explica que o filhote da jararacuçu, quando pica, provoca um pequeno sangramento no local. "O filhote tem um veneno que provoca mais sangramento do que uma espécie adulta, que destrói o local picado por destruição direta de células do sangue [hemácias], e por um mecanismo paradoxal, consumindo fatores de coagulação. Quando estes acabam, a pessoa começa a sangrar", afirma.
Segundo Haddad, o AVC que ocorreu com Maria de Fátima não é comum, mas pode estar relacionado com o veneno da cobra ou por ela ser hipertensa. Ele afirma que a maioria das mortes por este grupo de serpentes ocorre por sangramento intracerebral, entretanto, é muito pouco provável que isso aconteça se o soro antibotrópico for aplicado precocemente. O especialista ainda alerta que as cobras não atacam voluntariamente, apenas quando se sentem ameaçadas.
Em nota, a Prefeitura de Itanhaém confirmou ao G1 que Maria de Fátima foi até a UPA por meios próprios, com uma picada de cobra no calcanhar, que estava consciente e tinha diabete descompensada, sendo aplicado o soro antibotrópico.
A administração reiterou que as UPAs recebem os pacientes de emergência via Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ou presencial, e após triagem, os mesmos são divididos conforme a gravidade. Durante o processo inicial de atendimento e análise de informações, todos seguem o mesmo fluxo, mas não procede a informação de que pacientes que têm Covid-19 ou não têm são destinados ao mesmo local na unidade de saúde, diz a prefeitura.