O homem americano pisou em solo piauiense há mais de cem mil anos a as gravuras e objetos encontrados nos arredores de São Raimundo Nonato tem todas as condições de provar este fato científico de maneira confortável. No entanto, apesar da importancia do fato e da privilegiada condição que nos foi legada pela história, o Parque Nacional passa, mais uma vez, por problemas seríssimos que serão agravados se providências imediatas não forem tomadas por pessoas competentes.
Através de e-mail, a professora Niède Guidon agradece o artigo comentado aqui anteriormente e nos remete à real situação do parque, que transcrevo literalmente a seguir, através de carta enviada por ela para o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e para o para o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Leia e conclua, o leitor, se este é realmente um país sério.
VEJA O CÓPIA DO EMAIL:
São Raimundo Nonato, 10 de maio de 2011
Exmo. Sr.
Rômulo José Fernando Barreto Mello
DD. Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Senhor Presidente,
O Parque Nacional Serra da Capivara, premiado e elogiado por diversas organizações internacionais, está passando por sérios problemas, resultantes da falta de um orçamento fixo.
Desde 1992 esta Fundação tem-se ocupado da proteção e preservação do Parque, sempre lutando com o problema da falta de recursos fixos. Sempre dependemos da inteligência, boa vontade dos dirigentes. Uma mudança no sistema, como o que aconteceu com as verbas de Compensação Ambiental, altera a disponibilidade. E, como temos funcionários, que devem receber seus salários, o governo federal que nos cobra, mensalmente, todos os encargos sociais, temos que ter a segurança de dispor de uma soma fixa.
Além do mais, em razão de uma decisão, com a qual não concordamos, do Procurador do Trabalho de Picos, fomos obrigados a mudar o horário de trabalho das agentes de portaria, que se ocupavam das 25 guaritas construídas em todo o entorno do Parque. Desde quando construímos as guaritas, elas trabalhavam uma semana, recebiam 20% a mais do salário mínimo e descansavam uma semana. Cada guarita tinha sempre 2 agentes de modo que, se uma ficasse doente, houvesse um acidente, a outra poderia pedir ajuda. Outra função importante era comunicar, pelo rádio, qualquer sinal de fumaça o que nos permitia intervenções rápidas para evitar que os incêndios destruíssem as pinturas rupestres. Hoje, cada uma deve permanecer 10 horas no local de trabalho, trabalhar 8 e descansar 2 e deve ir dormir em casa. Em razão disto muitas pediram demissão por não querer, diariamente, fazer muitos quilômetros. Tivemos que fechar todas as guaritas que distavam mais de 30 km de um local habitado. Deste modo, justamente os locais mais procurados pelos caçadores ficaram completamente desprotegidos.
E, 15 dias atrás, a Polícia Federal veio fazer batidas no Parque Nacional porque traficantes estão aproveitando as estradas do mesmo, nos locais hoje desguarnecidos, para passar droga. Deste modo evitam as BRs e os postos de polícia. Outro problema: caçadores estão atirando nas pinturas porque vastas áreas estão desguarnecidas e o número de vigilantes do ICMBio é insuficiente.
Deste modo, em breve, este Parque, que já foi um orgulho nacional, vai ser um local de tráfico, banditismo, o que vai ajudar a afastar os turistas, já escassos em razão do estado calamitoso das estradas. E, de um aeroporto que se transformou em um dos maiores embustes no que se refere a obras públicas na região. Os recursos são liberados e o aeroporto nunca é terminado! A FUMDHAM montou um programa que, se o aeroporto houvesse sido construído, quando da liberação da verba para sua construção, em 1997, hoje este Parque seria completamente autossustentável.
Em razão disto fizemos um orçamento, o ideal, que permitiria contratar agentes de portaria para reabrir todas as guaritas, seguindo as ordens do Procurador, o que exigiria 150 agentes. Além dessas agentes temos o problema da Br-020, que atravessa o Parque Nacional, na qual muitos animais são mortos pelos veículos que por ai passam. Eu mesma já encontrei caminhões enormes, pesados, correndo a 120 km por hora, quando a sinalização indica 60 km. Programamos então colocar um posto de guarda na entrada norte da Br-020 e outro na entrada sul, de modo que os guardas darão a cada veículo que entra no Parque, um cartão com a hora de entrada e a hora autorizada de saída. Se o veículo chegar ao outro posto, antes da hora exata da saída, terá que ficar esperando, o que vai eliminar a correria e a morte dos animais.
Na situação atual, qual o valor anual que deveria nos ser repassado para podermos continuar, com a mesma qualidade, protegendo tanto o patrimônio cultural como o natural e garantindo a conservação deste Patrimônio da Humanidade.
Somente para as despesas com o pessoal, seguindo a decisão do Procurador, teríamos um total anual fixo e sujeito aos aumentos anuais de salario de R$ 2.489.000,0. E, em razão da exigência do Procurador do Trabalho, devemos considerar também que todas essas pessoas precisam ser deslocadas e serão necessários novos veículos, no mínimo 5. O caminhão cisterna precisa ser substituído, assim como o trator. Devemos pensar então numa verba de equipamento de pelo menos R$ 850.000,00. Os diferentes itens de custeio, que ascendem a um mínimo de R$ 150.000,00 por mês, terão um aumento significativo pois gastaremos uma quantia muito maior de combustível, com as idas e vindas para troca das agentes de portaria.
Se o governo federal não puder garantir o repasse anual, fixo, de tal soma, com os aumentos oficiais dos salários e demais encargos tributários e outros mais envolvidos na gestão dos trabalhos, esta Fundação não poderá mais ser responsável pela proteção e manutenção do Parque Nacional Serra da Capivara. Neste caso solicitamos a Vossa Senhoria que designe um responsável do ICMBio para vir verificar em que situação está o Parque atualmente, de modo a documentar como cumprimos nossa parte da parceria.
Enviamos cópia deste documento ao Presidente do IPHAN, Luís Fernando de Almeida, responsável pelo Patrimônio Cultural.
Agradecendo a atenção, cordialmente,
Niéde Guidon
Diretora Presidente
Fonte:Saoraimundo.com