O deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pressionou e extorquiu o lobista Júlio Camargo para que lhe fosse pago propina de US$ 5 milhões, cerca de R$ 16 milhões, justificando que “tinha uma bancada de mais de duzentos deputados para sustentar” na Câmara. É o que diz o próprio lobista, delator da operação Lava Jato, em depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira, dia 08. A afirmação foi feita diante do próprio Cunha, que estava presente na sala de audiência na 6ª Vara Criminal Federal da Justiça Federal em São Paulo.
Cunha foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O ex-presidente da Câmara é acusado de receber ao menos US$ 5 milhões de propina referentes a contratação de um estaleiro para a construção de dois navios-sonda pela Diretoria Internacional da Petrobras, em 2006 e 2007.
A presença do ex-presidente da Câmara não intimidou Júlio Camargo. Frente a frente com o acusado, o delator reiterou os detalhes da extorsão que afirma ter sofrido. No início da audiência, a defesa do peemedebista requereu a suspensão do ato. O juiz Paulo Marcos de Farias, instrutor do Supremo, indeferiu o pedido do ex-presidente da Câmara.
Em seu relato, Júlio Camargo manteve as informações que já havia revelado à força-tarefa da Lava Jato sobre propinas para Cunha no âmbito de um contrato para operação de navio-sonda da Petrobras. Anteriormente, à Justiça Federal ele contou que na época em que estava sofrendo pressão de Cunha chegou a procurar ajuda do então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB/MA).
Segundo ele, Lobão ligou para o deputado e disse. "Eduardo, você está louco?" O telefonema, segundo o delator, ocorreu no final da tarde de um domingo, em 2011, na Base Aérea do Aeroporto Santos Dumont, no Rio.