O cientista político Cleber de Deus concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Meio Norte, onde avalia a última semana da campanha eleitoral no Piauí, especialmente em Teresina. Cleber acredita em uma consolidação do quadro de disputa no segundo turno entre os candidatos Firmino Filho e Elmano Férrer, avalia com restrição a influência do governador Wilson Martins na sucessão na capital, analisa o dilema petista caso não chegue ao segundo turno em Teresina, avalia o impacto da presença de lideranças nacionais na campanha na capital e aponta qual deve ser a meta dos candidatos na reta final da campanha em Teresina.
Jornal Meio Norte - As pesquisas de intenção de votos apontam Firmino Filho e Elmano Férrer no segundo turno da eleição em Teresina. Esse quadro está consolidado? Ou ainda é possível uma reviravolta nessa última semana da eleição?
Cleber de Deus ? O cenário para o segundo turno já está definido. Será mesmo entre Firmino Filho (PSDB) e Elmano Férrer (PTB). Diante do desempenho dos candidatos e nos programas eleitorais qualquer grande alteração no quadro mostra-se completamente improvável. Os outros candidatos apontaram desempenho fraco e candidaturas sem nenhuma articulação. O isolamento marcou as duas candidaturas que apresentavam algum potencial de disputarem o segundo turno. A lógica da competição no segundo turno se dará entre a marca tucana versus a máquina partidária petebista.
Jornal Meio Norte - O governador Wilson Martins disse que terá um lado no segundo turno com ou sem Beto Rego na disputa eleitoral. Qual deve ser o impacto dessa adesão nas candidaturas de Firmino ou Elmano?
Cleber de Deus ? O apoio de um governador é sempre importante por, em tese, ser capaz de transferir um potencial de votos para determinado candidato. Não obstante, a avaliação do governo estadual na presente conjuntura não é tão elevada. Isso certamente contará na decisão do eleitor. O apoio ao candidato Firmino Filho ou Elmano Férrer será pautado com base no quadro sucessório de 2014. Nesse ponto, as especulações são muitas. Além disso, o eleitorado da capital, historicamente, apresenta um perfil de maior independência no que diz respeito a influência de governadores na disputa para prefeitura. Isso é o que nos mostram os resultados das últimas eleições em Teresina.
Jornal Meio Norte - Caso Wellington Dias não chegue ao segundo turno, como apontam as pesquisas de intenção de votos, qual deve ser o impacto na campanha e no futuro do PT no caso de uma adesão ao PSDB? Ou de uma aliança com o PTB? Ou ainda em caso de se liberar a militância em Teresina?
Cleber de Deus ? É necessário tecer um comentário sobre esse ponto. O PT ainda não se constituiu em uma força hegemônica nas disputas para Prefeitura de Teresina. Se formos nos pautar pelo cenário nacional, o eleitor petista, em geral, não votaria em uma candidatura tucana. Entretanto, a competição municipal fundamenta-se, segundo a perspectiva do eleitor, por questões locais e pontuais. A nacionalização das campanhas municipais em 2012 vem mostrando-se pouco eficaz para os candidatos que utilizam tal estratégia. Assim como no caso do PSB, o eventual apoio do PT é condicionado, também, pela disputa da governadoria de 2014 e afetará diretamente o futuro do PT.
Mesmo conseguindo eleger um número maior de prefeitos, como assim prevê, o aumento é pouco substantivo no cenário da política estadual já que isso provavelmente ocorrerá em cidades de baixíssima densidade eleitoral. No caso de tomar uma decisão em deixar a militância livre, essa optará por uma ou outra candidatura analisando as circunstâncias locais. O voto petista não tem mais raiz ideológica como foi até a década de 1990.
Jornal Meio Norte - O senador Aécio Neves e os ministros Garibaldi Alves e Aguinaldo Ribeiro apareceram na semana passada nas campanhas, respectivamente, de Firmino e Elmano. Qual a influência dessas figuras nacionais na decisão do eleitor teresinense?
Cleber de Deus ? Particularmente, vejo como sendo de baixíssimo impacto. Se perguntar ao eleitor teresinense quem são esses ministros e senadores, certamente eles não saberão responder. A lógica em apresentar esses políticos está em mostrar uma articulação com o plano nacional e sinalizar aos eleitores que em um eventual governo eles terão apoio desses líderes na apresentação de seus respectivos projetos.
Jornal Meio Norte - Qual deve ser o foco dos candidatos na última semana de eleição?
Cleber de Deus - A meta dos candidatos é atentar para o chamado eleitor flutuante. Esse eleitor que ainda pode mudar de voto. Tentar conquistar esse eleitor é fundamental para pretensões tucanas e petebistas. Um fator adicional é centrar a campanha nas regiões e pontos onde os candidatos apresentam desempenho mais fraco e nos locais muito competitivos para tentarem angariar o apoio do eleitor. A última semana é decisiva em uma campanha que se mostra acirradíssima.