Renda dos mais pobres cresceu 73% no Piauí; maior que do Brasil

“O ganho de renda maior entre os pobres e vulneráveis é um denominador comum em quase todos os estados. Isto sugere que o crescimento nacional foi “pró-pobre”

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A renda dos piauienses mais pobres cresceu, em média, 7,3%, por ano, de 2002 a 2012. No acumulado do período a alta foi de 73%, a maior do Brasil.

Os dados são do relatório “Prosperidade Compartilhada e Erradicação da Pobreza na América Latina e Caribe” divulgado na semana passada pelo Banco Mundial. No mesmo período, a renda dos piauienses que não se enquadram na condição de pobreza cresceu 56%.

“O ganho de renda maior entre os pobres e vulneráveis é um denominador comum em quase todos os estados. Isto sugere que o crescimento nacional foi “pró-pobre”.

De fato, em relação ao segmento superior da distribuição de renda em cada estado, a renda real cresceu mais rapidamente entre os indivíduos mais carentes, exceto em Roraima (onde a taxa foi a mesma para pobres e o restante da população), Maranhão e Tocantins.

Em muitos estados, incluindo alguns com níveis iniciais mais elevados de pobreza, a diferença absoluta nas taxas de crescimento entre a média total e a população carente foi notável”, diz, em tradução livre, o relatório do Banco Mundial.

O documento mostra que a pobreza foi reduzida mais rapidamente em estados que tiveram as taxas mais elevadas até 2001. Em Pernambuco, segundo colocado no aumento da renda dos mais pobres, o nível de renda desse segmento cresceu 67%, enquanto a população em geral avançou 41% entre 2002 e 2012.

A instituição internacional aponta que o crescimento tem beneficiado o grupo dos mais pobres significativamente no Brasil, o que é um sinal positivo de compartilhamento da prosperidade.

“A melhora desse indicador tem sido substancial: os rendimentos entre os mais pobres aumentou a uma taxa média anualizada de 6,5% de 2002 a 2012 – em dez anos 65%. Isso é quase o dobro da taxa de crescimento da renda média dos países da América Latina e Caribe, que foi de 3,6% por ano – ou 36% em 10 anos.

Há evidência de que o progresso econômico brasileiro favoreceu os pobres mais do que o restante da população proporcionalmente. O Brasil registrou uma taxa média de crescimento anual de renda de 4,8% - 48% nos dez anos entre 2002-12”, aponta a análise sobre os dados feita pelo Banco Mundial.

A redução da desigualdade tem sido evidente em áreas urbanas e rurais e são convergentes. No entanto, a desigualdade é mais ampla em áreas urbanas do que em áreas rurais no Brasil; a partir de 2012, o índice Gini em áreas urbanas foi de 0,52, em comparação com 0,49 em áreas rurais.

O relatório faz uma ressalva que apesar do ritmo notável de redução do número de pobres, muitos indivíduos não possuem os ativos e habilidades para enfrentar a pobreza.

Prova disso é que o número médio de anos de escolaridade alcançado pelos chefes de família entre os pobres é de 4,7, em comparação com 7,4 entre os chefes de famílias não pobres.

Além disso, menos da metade de todos os pobres vivem em habitações ligadas a redes de esgotos, e cerca de dois terços têm ligações de água, enquanto que as ações correspondentes entre as famílias não pobres são 78,5% e 95,4%, respectivamente.

A grande maioria dos pobres trabalha em empregos informais, em contrasta com 27,5% por cento dos não pobres no Brasil.

"Brasil praticamente eliminou a pobreza"

O Banco Mundial é taxativo ao apontar que a pobreza extrema foi praticamente aliminada no Brasil, tendo o país alcançado essa condição de forma mais rápida que seus vizinhos da América Latina e do Caribe. O relatório ressalta que o número de brasileiros vivendo na pobreza extrema - com menos de 2,5 dólares (cerca de 7,5 reais) por dia - caiu para apenas 4% em 2013.

O estudo mostra que cerca de 60% dos brasileiros alcançaram um maior nível de renda entre 1990 e 2009. No geral, cerca de 25 milhões de brasileiros saíram da pobreza extrema; isso significa uma em cada duas pessoas que escaparam, durante o período, da pobreza na América Latina e no Caribe.

Até 1999, os índices de pobreza extrema no Brasil e no restante da região eram semelhantes e rondavam os 26%. Nos anos seguintes, a instituição começou a observar uma maior redução da pobreza em território brasileiro.

O Banco Mundial apresenta três razões para a queda da pobreza extrema no Brasil. A primeira é o crescimento econômico a partir de 2001, "bastante mais estável que o registrado durante as duas décadas anteriores".

Em segundo, são elogiadas as políticas públicas que têm como objetivo a erradicação da pobreza, como o Bolsa Família, que oferece uma renda mensal em troca da escolarização dos filhos, ou o Brasil sem Miséria.

Na sequência está o mercado de trabalho nacional, onde as taxas de emprego formal aumentaram 60% e a evolução do salário mínimo, hoje de cerca de 260 dólares (788 reais).

Entre as recomendações do Banco Mundial para continuar enfrentando a pobreza estão ajustes fiscais para promover o gasto público eficiente para incentivar a competitividade, melhorar a infraestrutura e os serviços públicos, além de não abandonar os programas sociais.

Uma reforma tributária, segundo os especialistas, favoreceria os mais pobres já que muitos impostos são cobrados na compra de produtos, para onde vai a maior parte da renda dos mais pobres no Brasil.

Pobreza setorial caiu 87% em 12 anos

O aumento de renda entre os pobres no Brasil foi acompanhado, nos últimos anos, por uma melhor condição de vida, que inclui maior escolaridade e acesso a bens e serviços. A pobreza no Brasil caiu 87% em 12 anos, quando consideradas essas várias dimensões da pobreza.

Estudo mostra que a pobreza multidimensional no país caiu de 8,3% da população, em 2002, para 1,1%, em 2013. Para calcular a chamada pobreza multidimensional crônica, o Banco Mundial considera sete dimensões da pobreza, além da renda.

São consideradas privações situações como nenhum membro do domicilio ter completado oito anos de estudo ou o domicílio ter pelo menos uma criança entre 7 e 17 anos sem frequentar a escola.

Além da escolaridade, são considerados o acesso à infraestrutura e a bem e serviços. Quem não tem acesso à energia elétrica, água encanada ou de poço, rede de esgoto ou fossa séptica, mora em casa que não seja de alvenaria ou de madeira tratada é considerado sob privação.

Também é levado em conta o acesso a bens como geladeira e telefone. São situações que tornam mais difícil a superação da pobreza.

O estudo mostra ainda que as ações do Programa Bolsa Família e do Plano Brasil Sem Miséria conseguiram alcançar o núcleo mais resistente da pobreza, constituído por negros, crianças e nordestinos.

Analisadas separadamente, as curvas de queda de pobreza são mais acentuadas nesses grupos. Entre negros, por exemplo, a queda foi de quase 11 pontos percentuais, contra 4 pontos percentuais entre brancos, no mesmo período de tempo.

Os resultados mostram que os principais objetivos da estratégia de combate à pobreza vêm sendo alcançados: paralelamente à garantia de um piso de renda aos brasileiros, pago pelo Bolsa Família, de forma que nenhuma família beneficiária viva com menos de R$ 77 mensais por pessoa, houve um grande esforço para melhorar a escolaridade e os indicadores de saúde, assim como as oportunidades de geração de renda e emprego e acesso a bens e serviços.

A pobreza severa ainda remanescente no Brasil encontra-se entre moradores da zona rural, com acesso precário a saneamento e famílias chefiadas sobretudo por jovens com baixa escolaridade. A grande maioria está no mercado de trabalho, mas ocupando postos na informalidade

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