O aquecimento global terá efeitos catastróficos sobre a Agricultura. A elevação das temperaturas vai forçar a migração e até inviabilizar plantios. Os Cerrados piauienses, área de grande produtividade para a soja, se tornaria totalmente imprópria para o cultivo do grão no caso de aumento de temperatura de 3° C na temperatura global. A projeção foi feita no estudo A Nova Geografia da Produção, divulgada em 2007, pela Embrapa. Eduardo Assad, um dos autores do estudo, conta que a pesquisa estimou que, em 2020, as perdas com a soja no sul do Brasil seriam 7 bilhões de reais.” Erramos. O prejuízo em 2020 foi de 7 bilhões...de dólares “, corrige.
Sobre o cultura da soja, Assad e os demais pesquisadores trabalharam com três cenários de elevação de temperatura. Há 15 anos, a área favorável para o plantio, com baixo risco, era de 3,4 milhões de km². Ela incluía o Rio Grande do Sul, parte dos Cerrados ( sul do nordeste, do Piauí ao sudoeste da Bahia), Mato Grosso e a região do Pantanal. Se o aumento projetado da temperatura global fosse de 1°C, a perda seria de 4 mil km². Mais 2° C de aumento e não será possível plantar o grão no sul do país e o sudeste perderia metade de área cultivável.“Minas Gerais, na área do triângulo mineiro, o leste de Goiás, o estado de Tocantins, o sul do Maranhão e também o estado do Piauí não teriam mais possibilidade de plantio de soja sem riscos”
O último cenário prevê uma temperatura global 5,8 ºC aumentada. Nessa situação, o Brasil reduziria a produção em 70%. Os cenários em relação ao café e arroz não são menos preocupantes. No caso deste último, trata-se de uma planta mais resistente ao calor. Ainda assim, o país corre o risco de perder metade da área agricultával para o arroz. Em relação ao café, o relatório do estudo faz o seguinte prognóstico “no cenário otimista, grande parte do norte e do leste mineiro seriam inaptos ao plantio”. A variação de 1°C na temperatura traria um prejuízo de 500 milhões de dólares em termos de produção bruta de café.
Celeiro de plantas resistentes
Em entrevista ao Programa Notícias da Boa ( TV Jornal Meio Norte), Assad alerta que o semiárido nordestino será um das regiões mais afetadas devido à carência hídrica.A região é considerada um “hot spot” por ser um “armazém genético de plantas tolerantes á alta temperatura e deficiência hídrica”. O pesquisador, que trabalha em Campinas,São Paulo, acredita que a região, rica em plantas resistentes à falta de chuvas, pode mostrar para o mundo a solução para a adaptação de culturas.
Divulgado em agosto, o relatório global do IPCC ( Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima) , indica que a temperatura média do planeta tende aumentar 1,5 ºC nas próximas duas décadas.A elaboração da Nova Geografia da Produção - que também teve as participações dos pesquisadores Jurandir Zullo Junior,(Unicamp), Hilton Silveira Pinto e Fábio Ricardo Marin (USP) - deu início ao mapeamento da vulnerabilidade das culturas em relação ao aquecimento quando o tema ainda era desacreditado. A pesquisa foi pioneira ao estudar os cenários e apontar eventuais soluções.
Criando supersementes
A Embrapa também investe em melhoramento genético de culturas ,“o foco tem sido na cultura da soja, que sofre com a deficiência hídrica, mas também estão sendo feitas pesquisas em relação ao milho e ao feijão”. Assad também reforça que, além das experiências cientificas
é preciso reduzir emissões de gases. “Está surgindo uma onda interessante”, ele diz ao citar a criação, pela Fundação Getulio Vargas, do Observatório da Bioeconomia. A plataforma, lançada no último dia 5, busca estimular a utilização de produtos da biodiversidade. No caso do semi-árido os exemplos já estudados – e que podem tornar-se plantas utilizadas na alimentação, com grande valor nutricional – estão o mandacaru, a palma forrageira, o umbu e o baru.
O caminho trilhado pelos pesquisadores do mundo consiste em preparar as plantas para resistir a um clima à qual elas não sobreviveriam sem melhoramento genético. A ação, entretanto, prescinde das políticas públicas que cobram, com urgência, a redução das queimadas, o investimento em sistemas agrícolas que contribuam para limpeza da atmosfera e o investimento para que a biotecnologia possa trazer as soluções que garantirão a sobrevivência da humanidade. “Não é futuro. Já está acontecendo e há muito tempo”, alerta Assad.