Integrantes do Instituto de Mulheres Negras Ayabás farão protesto nesta terça-feira, 12, contra a encenação de uma peça teatral, "Uma Escrava chamada Esperança" que retrata a vida de Esperança Garcia e terá a ex-bbb Gyselle Soares, uma atriz não negra, como protagonista. "Vamos levar nossos cartazes e fazer protesto contra esse golpe contra nossa representatividade", diz a presidente do Instituto, Halda Regina. "Nossa esperança é negra"!
Ao anunciar em seu perfil numa rede social que faria o papel, a atriz comparou sua trajetória à da escrava "olhando a Esperança, me lembro de tantos desafios que já enfrentei na vida", escreveu. Gyselle é piauiense e ficou conhecida ao participar do Reality Show da Rede Globo.
A publicação da atriz recebeu comentários negativos, " uma mulher branca não deve representar uma escravizada, que foi escravizada pela cor da sua pele. Como uma mulher branca vai repreentá-la? Vai se pintar de preto? Questinou a professora Maria Sueli Rocha . Em resposta, Gyelle defendeu sua escolha para o papel afirmando " estamos com uma proposta totalmente humanitária" mas sem entrar em detalhes sobre essa opção cênica, que será digirida por Valdsom Braga.
Segundo Sueli, o primeiro e mais grave erro da peça é embranquecer a história de Esperança. " Seguem tentando, como sempre, falar de nós, sem nós! ".
A professora atuou no processo de reconhecimento de Esperança Garcia como primeira advogada do Piauí. "O Movimento Negro tem entendido a peça como mais uma tentativa de apropriar da história do povo preto, para geração de dinheiro. Ela completa "a escravização de pessoas negras pelo colonialismo permanece em forma de racismo". O figurino da peça também recebeu críticas.
A Primeira Advogada
Esperança Garcia nasceu na Fazenda Algodões, hoje município de Nazaré do Piauí, aproximadamente em 1751. Em 6 de setembro de 1770, após anos de escravidão, enviou uma petição ao então presidente da Província de São José do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho Castro, com denúncias de maus-tratos e abusos físicos contra ela e seu filho, pelo feitor da Fazenda.
A carta de Esperança Garcia é considerada "a primeira petição escrita por uma mulher na história do Piauí" o que a torna uma precursora da advocacia no estado. Em 2017, ela foi reconhecida pela OAB-PI, como a primeira advogada do estado, em solenidade promivida pela Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil. A data da entrega da carta é o Dia Estadual da Consciência Negra.