Desde que Francisca Trindade deixou a Assembleia Legislativa do Piauí para integrar a bancada piauiense na Câmara Federal, nunca mais o Legislativo Estadual elegeu uma mulher negra. E já fazem 20 anos que ela chegou à Brasília, graças a uma votação recorde de 165.190 votos. Muitos eram os sonhos e os projetos que a tornaram, ainda jovem, símbolo de resistência e representatividade. Um ano depois, ela morreria, aos 37 anos de idade, vítima de um aneurisma cerebral. Dezenove anos depois, oito mulheres negras que foram companheiras de luta nos movimentos sociais lançam “Francisca Trindade O poder e a Resistência da Mulher Negra”, livro que busca resgatar o legado histórico da líder popular para as novas gerações “trazemos um pouco das nossas memórias afetivas para que os mais jovens possam, não apenas conhecê-las mas entender o contexto em que ela viveu”, diz a educadora social Sônia Terra, uma das autoras da obra.
Na década de 1980, o país vivia se preparava para uma mudança política com o fim da ditadura militar. Em Teresina, jovens ligados à Igreja Católica fortaleceram os movimentos sociais e enfrentavam o autoritarismo ainda relutante. A desigualdade social se refletia na população que lutava por moradia. A Federação das Associações de Moradores encabeçava esse movimento. Nesse contexto, destacava-se a liderança de Trindade. “Ela sempre foi alguém que não aceitou o papel que era destinado a ela”, define Terra. O ativismo de Trindade deu-se como líder comunitária no bairro Água Mineral e em grupos de jovens. Graduou-se em Teologia e participou ativamente na formação de movimentos de jovens, negros e trabalhadores. Foi daí que surgiu a Política partidária.” Trindade firmou sua trajetória sem se perder dos seus princípios”, defende.
O diferencial do livro, disponível apenas em formato digital, é que o resgate do legado de Trindade é feito a partir de atos da memória afetiva e coletiva. “Amigas de vida e de luta”, diz Sônia Terra. “Fomos descobrindo no movimento das lutas. Às vezes, era difícil se impor. Ela foi abrindo esses caminhos, da militância social “, revela. O lado humano de Trindade também aparece nos artigos. “As pessoas se sentiam representadas pela sua generosidade”, finaliza.
A organização ficou à cargo da Prof. Dra. Assunção Sousa e tem, ainda as participações de Lúcia Araújo, Hortênsia Mendes. Halda Silva, Lucineide Barros, Conceição Dilva e Rosângela Amorim e Francisca Maria do Nascimento Sousa.
Para baixar o livro, acesse o link: https://editora.uespi.br/index.php/editora/catalog/book/101