Por Rany Veloso
Em meio à disputa pela presidência da Câmara, o PT impôs uma condição crucial para seu apoio: o veto à anistia dos condenados pelos atos de 8 de janeiro. A posição do partido aumenta a pressão sobre os candidatos Hugo Motta (Republicanos-PB) e Elmar Nascimento (União-BA).
O PT está dividido. Inicialmente, a tendência seria apoiar Motta, com quem a sigla se reúne hoje (30), mas muitos acham que ainda é cedo. Ontem, Elmar, o preterido por Lira, esteve com a bancada do PT. Isso, logo após o atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP), declarar apoio a Motta. A grande moeda de troca desta rodada de negociação é o Projeto de Lei para anistiar os condenados pelo 8 de janeiro. O PL de Bolsonaro e o PT de Lula impõem condições diferentes para o mesmo tema.
A coluna ouviu o vice-líder do governo, Merlong Solano (PT-PI), que defende uma "convergência numa candidatura vitoriosa". Para ele, o partido do governo precisa apoiar o vencedor, uma vez que o presidente da Câmara é "estratégico" para o governo. Afinal, é ele quem pauta o que é votado e os pedidos de impeachments de presidente da República.
Solano também revelou a condição do PT: "nós queremos do próximo presidente o compromisso de que esse assunto [PL da anistia] não irá à votação da forma como a extrema-direita está querendo" (VÍDEO ABAIXO).
"Há um debate interno muito forte, eu percebo uma certa divisão na bancada em relação a este assunto. Eu não vejo muita diferença entre Hugo Motta e o Elmar Nascimento. O que eu considero essencial, e tenho trabalhado por isso dentro da bancada, é que a gente não parta para um enfrentamento, que a gente procure uma convergência numa candidatura vitoriosa. Somos o partido do governo, o presidente da Câmara é um cargo absolutamente estratégico para quem é governo, então nós temos que estar em entendimento com o próximo presidente da casa".
CONDIÇÃO PARA APOIO
O PT não deve anunciar apoio a ninguém nesta semana. Alguns defendem que espere até um mês ou mais para ver até onde vão as negociações. Mas a condição imposta é: não votar o PL da Anistia, o que poderia no futuro favorecer Bolsonaro, que também é investigado pela tentativa de golpe de estado.
Pelo menos, até agora, Arthur Lira fez uma jogada certa que agradou "gregos e troianos", criou uma comissão especial para analisar o PL.
"Ele [Lira] empurrou para frente, é uma decisão inteligente dele, porque o assunto divide muito a casa, é um dos pontos que a gente considera importante de compromisso com o próximo presidente da casa, que a gente não aceita essa ideia de anistia geral aos golpistas do 8 de janeiro, especialmente o intento de incluir o presidente Bolsonaro como um dos anistiados. Nós queremos do próximo presidente o compromisso de que esse assunto não irá à votação da forma como a extrema-direita está querendo", disparou Merlong Solano.
BRIGAS: "FOGO NA FOGUEIRA DO PT"
O PT que enfrenta dificuldades após o resultado abaixo do esperado das eleições municipais também vive uma crise interna. O fogo amigo do ministro Alexandre Padilha contra a presidente nacional Gleisi Hoffman, e vice-versa, levou a público as críticas sobre o desempenho da sigla, que segundo o ministro não sai do Z4 (zona de rebaixamento) desde 2016. Gleisi disse que o ministro ofende o PT e contribuiu para o resultado por problemas na condução da sua pasta, que é articulação com o Congresso Nacional.
Merlong Solano puxou a orelha dos dois: "porque essa divergência interna, tratada publicamente, só ajuda a colocar fogo na fogueira contra o PT".
"Eu achei a declaração do Padilha infeliz, a gente tem que reconhecer as dificuldades que o PT teve sem puxar a bola demais para baixo do partido, porque nós tivemos um crescimento do número de prefeitos, tivemos um crescimento do número de votos. É claro que nós temos que reconhecer as dificuldades, o PT ficou de fora das grandes cidades, a exceção de Fortaleza. Mas a presidente, do meu modo de ver, ao invés de ter feito uma contra declaração dura como devia ter procurado o Padilha para conversar, para os dois já saírem a público num tom de conciliação, porque essa divergência interna, tratada publicamente, só ajuda a colocar fogo na fogueira contra o PT".