Rany Veloso

Coluna da jornalista Rany Veloso, direto de Brasília

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Governadores contestam números do Governo Federal sobre os repasses

Wellington Dias diz que repasses são obrigatórios como todos os anos e Ciro Nogueira afirma que o governo do estado usa da calamidade pública para fazer caixa eleitoral

Por Rany Veloso

Pelo menos 16 governadores assinam uma carta reagindo a uma publicação do presidente Bolsonaro nas redes sociais, na qual ele traz uma lista com os valores repassados pelo governo federal aos estados durante a pandemia, em especial para a Saúde. O presidente descreve o total em dinheiro, R$ 800 bilhões, e quanto foi retirado para o pagamento do auxílio emergencial. Para o Piauí, por exemplo, foram repassados R$ 19 bilhões, destes R$ 5,68 destinados ao auxílio emergencial.

Wellington Dias (PT) também assina o documento. E não só governadores da oposição, como também os mais próximos do presidente, como, Ronaldo Caiado (Goiás), Ratinho Junior (Paraná) e Cláudio Castro (Rio de Janeiro).

Eles argumentam que a maioria desses repasses é de obrigação do governo federal, previstos na Constituição Federal, por isso feito todo ano.

VEJA A NOTA DOS GOVERNADORES NA ÍNTEGRA: Nota Pública sobre repasses financeiros aos Entes Federados.pdf

RESPOSTA DE WELLINGTON DIAS 

O governador do Piauí também fez um post nas redes sociais afirmando que o presidente Bolsonaro "confunde e engana a população ao informar dados distorcidos" e diz que os valores transferidos também são equivalentes aos fundos constitucionais FPE, FPM, Fundeb, SUS e benefícios previdenciários. "As transferências constitucionais obrigatórias e os benefícios previdenciários não podem ser vistos ou divulgados como uma ação extraordinária do governo federal. São recursos que cada estado e município tem direito pelo pacto federativo. Não é favor algum", finaliza. 

CIRO NOGUEIRA TAMBÉM SE PRONUNCIA: "GOVERNO USA DA CALAMIDADE PARA FAZER CAIXA ELEITORAL"

O principal líder da oposição no Piauí e aliado de primeira hora do presidente Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), fez uma crítica nas redes sociais destacando o valor de R$ 19 bilhões para o Piauí, mas que segundo ele, por falta de gestão, foi decretado o toque de recolher. O senador vê a medida como uma "punição" e diz que "o governo faz tudo isso ao mesmo tempo que entope seu caixa de recursos como nunca antes na história deste estado", isso tendo em vista 2022.

Para Ciro, o governo recebeu apoio do governo federal, mas não fez a sua parte, como, montar hospitais de campanha, habilitar leitos de UTIs, entre outras. E conclui dizendo que "o lockdown é a história de um governo rico de caixa e pobre de ações".

VEJA A PUBLICAÇÃO NA ÍNTEGRA:  

Desde o primeiro momento, eu denunciei que a destrambelhada iniciativa do governo do Estado de decretar o lockdown era uma punição ao povo do Piauí, um exemplo de falta de gestão e uma decisão errada do governador Wellington Dias. Agora, para que não reste mais nenhuma dúvida, nada melhor do que os números dos repasses oficiais do governo federal para a saúde e para o enfrentamento à pandemia da Covid-19 para comprovar que o lockdown no Piauí é pior ainda do que todos imaginávamos.

O governo está usando uma tragédia humanitária como instrumento político para fazer uma cortina de fumaça e esconder seus erros administrativos e o mais grave: o governo do Piauí está usando o lockdown para desviar o foco e a atenção dos piauienses para uma das mais perversas políticas públicas engendradas por qualquer governo em qualquer momento de nossa História. Enquanto alardeia o caos e, com isso, apavora a população, paralisa a economia, destrói a vitalidade do comércio, mutila milhares de empregos, prejudica o dia a dia e a normalidade de estudantes e empreendedores, pais de família, o governo faz isso tudo ao mesmo tempo em que entope seu caixa de recursos como nunca antes na história deste estado.

Aos números: em 2020, segundo o Portal da Transparência (dados de 15 de janeiro deste ano), o Piauí recebeu 19 bilhões de reais de recursos federais, seja através de repasses para a saúde e outros ou suspensão/renegociação de dívidas.  Só de auxílio assistencial foram R$ 5,7 bilhões. Ou seja, o problema da pandemia nunca foi a falta de recursos para o Piauí. Foi e continua sendo a falta de competência e de gestão.

O governo do Piauí tem recebido todo o apoio do governo federal, mas não tem feito a sua parte. Qual seja, montar hospitais de campanha, leitos, UTIs adicionais. Dinheiro para isso? Tem de sobra! Mas o governo tem adotado uma política (genocida?) de abarrotar o seu caixa, talvez com objetivos eleitoreiros com vistas às eleições de 2022, enquanto a pandemia grassa e o governador coloca a culpa no governo federal por tudo.

Do ponto de vista político, por mais hedionda que uma estratégia fria e calculista como essa possa ser, não há como deixar de reconhecer o alto grau de maquiavelismo e matreirice que essa forma possui para alcançar objetivos eleitorais e confundir o povo.

Mas do ponto do vista ético e humanitário, fazer a opção pelo caixa em detrimento da vida das pessoas, dos irmãos e irmãs do Piauí - e além disso criar uma narrativa deliberadamente falsa de jogar a culpa justamente no governo federal que está ajudando o Estado como nunca antes - é uma atitude mesquinha e nefasta. Um verdadeiro estelionato que seria só político se não significasse a morte de pessoas.

O lockdown no Piauí não é só um castigo para o povo. É um dos capítulos mais tristes de nossa História, de quando um governo usou uma calamidade pública para fazer caixa eleitoral, para encobrir seus próprios erros e incompetências, para desviar a atenção e culpar o governo federal por todos os leitos e vagas de UTI que, mesmo tendo dinheiro em abundância, o governo do Piauí não fez ou não quis ou não soube fazer. O lockdown é a história de um governo rico de caixa e pobre de ações. Enquanto isso, as mortes aumentam e o drama da pandemia no Piauí se alastra e a politicagem governa o nosso estado. Muito triste.

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