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Eliza Samudio: A vítima ignorada até ser tarde demais

A modelo foi morta em 2010 e até hoje seu corpo nunca foi encontrado

Eliza Silva Samudio nasceu no dia 22 de fevereiro de 1995, em Foz do Iguaçu. Filha do arquiteto Luiz Carlos Samudio, e da agricultura Sônia Fátima Silva Moura, ela teve uma vida humilde no interior do Paraná carregada de batalhas familiares. A menina, que sonhava em ser goleira, precisou enfrentar a vida cedo, sem proteção, carinho, amor e apoio, ela prometeu a si mesmo que iria átras de seus sonhos.

Até que em 2008, seu caminho cruza com um dos maiores jogadores do Brasil, o goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes das Dores de Sousa. Ela não sabia, mas esse encontro acabaria com sua vida definitivamente, destruiria seus sonhos e esconderia seu corpo para que nunca fosse encontrado.

Eliza teve um filho do goleiro Bruno

A vida antes de bruno

Desde os 13 anos, a menina já tinha o sonho de mudar de sua cidade natal para buscar uma carreira de modelo, já que na época uma mulher entrar no futebol ainda era muito dificil. Assim ela deixou o sonho de ser goleira de lado.

Aos 18 anos ela fugiu de casa e se estabeleceu em São Paulo. Sem apoio na nova cidade e enfrentando dificuldades financeiras, ela começou a trabalhar em filmes pornográficos para se sustentar enquanto tentava ingressar no mundo da moda. No entanto, Eliza nunca se sentiu confortavél com esse trabalho, e com o tempo, decidiu deixar a indústria.

Foto:Reprodução/Google

A vida familiar de Eliza também era complicada. Seus pais se separaram quando ela tinha apenas seis meses. Sônia, sua mãe, sofreu agressões constantes do marido, que mantinha vários relacionamentos extraconjugais. Ela deixou Eliza aos cuidados do pai, Luiz Carlos, que era conhecido por ser muito mulherengo, e até já foi acusado por estupro na região onde morava. Quando Eliza desapareceu, Sua mãe não a via a seis anos e se comunicava com ela apenas por telefone.

O Encontro Fatal 

Eliza relatou que conheceu Bruno em um churrasco com amigos no Rio de Janeiro. Ela o achou atraente, e, após saber que ele tinha interesse nela, os dois acabaram se envolvendo. O goleiro, por sua vez, sempre afirmou que o encontro foi casual e que teria visto a modelo apenas uma vez, algo que ela contestava. 

O caso dos dois era um segredo, até que em agosto de 2009 tudo muda, e Eliza resolve aparecer na imprensa contando que estaria gravida do jogador. Ela tomou essa decisão após descobrir, por meio de uma matéria, que o goleiro estava noivo de Ingrid Silveira. 

“Eu vi uma matéria no jornal falando que ele estava namorando, foi quando me revoltei e resolvi vir a público e contar que estava grávida", afirmou Eliza na época.

Foto:Reprodução-Goleiro Bruno

A materia que Eliza viu, fazia parte da coluna “Almoce com seu idolo”, do jornal extra. Onde os fãs tinham a chance de almocar com o famoso em que se inspiravam. No almoco Bruno apareceu ao lado de sua noiva, Ingrid, com quem se relacionava havia um ano. Nesse período, Bruno também mantinha contato com Eliza, que não sabia de seu envolvimento com Ingrid até a publicação da matéria.

Começa o caos

Quando Elisa vem á tona falando da Gravidez ela afirma que já tinha contado para o goleiro, que perguntou o que ela ia fazer e ela disse que queria ter a criança. Eles continuaram se vendo, e se falando até que em um determinado momento ele mudou com ela. O jogador já não atendia mais suas ligações, e a tratava mal constatemente.

Bruno negava qualquer envolvimento com Eliza, afirmando não conhecê-la e insistindo que ela não estava grávida dele. A credibilidade de Eliza foi abalada por essas declarações, com muitas pessoas a acusando de ser uma "maria-chuteira", de estar mentindo para ganhar fama ou mesmo de ter engravidado apenas por interesse financeiro. Enquanto isso, a mídia aproveitava o enredo como uma novela. 

Sempre que Eliza aparecia na mídia, Bruno a desmentia publicamente, alegando que ela era desequilibrada e que o filho não era dele. A situação o deixava cada vez mais irritado, pois ele temia que a exposição pudesse prejudicar sua carreira. 

Enquanto isso, Eliza buscava que ele reconhecesse a paternidade e pagasse a pensão do futuro filho, sem entender por que Bruno mentia sobre o relacionamento dos dois.

O primeiro sinal ignorado

Em 13 de outubro de 2009, Eliza Samudio registrou uma queixa na polícia, alegando que no dia anterior havia sido mantida em cárcere privado por Bruno e seus amigos, "Russo" e "Macarrão". Ela também relatou ter sido forçada a ingerir substâncias abortivas, além de acusá-los de agressão física.  Segundo Eliza, o próprio Bruno teria apontado uma arma para sua cabeça durante o episódio. 

Além disso, uma amiga próxima de Eliza Samudio revelou que, ao longo do relacionamento com Bruno Fernandes, ele já havia sido agressivo em outras ocasiões. Mesmo assim, Eliza, apaixonada por Bruno, justificava as agressões, afirmando que ele agia assim porque a amava. A amiga também contou que Bruno costumava ligar para Eliza no meio da madrugada fazendo ameaças

Ainda em 2009, o pedido de proteção feito por Eliza foi negado pela juíza Ana Paula Delduque Migueis Laviola de Freitas. A magistrada justificou a decisão afirmando que não havia uma relação íntima entre Eliza e o goleiro, e que a modelo estaria tentando "punir o agressor", o que, segundo ela, poderia banalizar os objetivos da Lei Maria da Penha.

Nasce o menino

O filho de Eliza Samudio e Bruno nasceu em 10 de fevereiro de 2010, em São Paulo, enquanto ela morava na casa de uma amiga. A mãe do menino colocou o nome do filho inspirado no mome do pai, Bruno, o apelidando de "Bruninho". Enquanto isso o pai da criança se recusava a reconhecer a paternidade, alegando que não tinha um relacionamento sério com Eliza. Ele também mencionou o passado de Eliza como prostituta, acusando-a de tentar aplicar o "golpe da barriga" por causa de sua situação financeira.

Eliza então entrou com uma ação de reconhecimento de paternidade, depois de passar um período no Rio de Janeiro com o filho, hospedada em hotéis pagos por Bruno. Além de exigir pensão, ela também já tinha o denunciado por agressão, o que complicou a carreira do goleiro, já que foi indiciado. 

Ingrid e Bruno

A situação prejudicava ainda mais a imagem de Bruno, especialmente em um momento crucial de sua trajetória profissional. O goleiro era cogitado para integrar a Seleção Brasileira e possuía planos de atuar no exterior.  No entanto, os acontecimentos envolvendo Eliza Samudio e as denúncias públicas afetaram negativamente suas chances de ver esses objetivos concretizados.

Desaparecimento de Eliza: Linha do Tempo dos Acontecimentos

4 de junho de 2010 

Eliza Samudio, na época com 25 anos, foi vista pela última vez em contato com amigas, que relataram uma conversa telefônica na qual Eliza mencionou que Bruno queria que ela fosse para o seu sítio em Minas Gerais. Naquela data, Eliza deixou o hotel Transamérica, na Barra da Tijuca, acompanhada por Luiz Henrique Romão, conhecido como Macarrão, amigo do jogador. 

Segundo investigações policiais, Eliza estava no sítio de Bruno em Esmeraldas, interior de Minas Gerais, a pedido dele. 

Sitio de Bruno

7 de junho de 2010

No dia seguinte, testemunhas afirmaram que o filho de Eliza foi levado à fazenda de Bruno por Macarrão, onde ficou sob os cuidados de Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, ex- esposa do goleiro. Essa informação foi confirmada por três testemunhas que prestaram depoimento à Delegacia de Homicídios de Contagem em 25 de junho. 

No mesmo dia, a polícia apreendeu o jipe Range Rover de Bruno devido a várias infrações, incluindo multas por excesso de velocidade. Logo depois a perícia concluiu que foram encontrados manchas de sangue correspondente a 500 ml, que seriam de dois DNAs: Um masculino, que nunca foi identificado, e o outro de Eliza.

24 de junho de 2010

A Polícia de Minas Gerais recebeu a primeira denúncia de que Eliza teria sido espancada até a morte por Bruno e outros dois amigos. A partir daí, as autoridades começaram a investigar o caso, descobrindo que Eliza não tinha contato com ninguém desde 5 de junho.  Policiais foram até um endereço na zona oeste do Rio para tentar encontrar Eliza e ouviram suas amigas e a advogada, que confirmaram não ter notícias dela há semanas. 

Dayane, ex-esposa de Bruno

Neste dia, Dayanne disse ter recebido uma ligação de Macarrão, ordenando que entregasse o filho de Eliza, ou Bruno seria acusado de sequestro, pois Eliza “estaria armando alguma coisa”.

28 de junho de 2010 

Uma amiga de Eliza, considerada testemunha-chave, relatou que falou com ela no dia 9 de junho, quando Eliza afirmou estar com o filho no sítio de Bruno.  Durante o depoimento, a amiga mencionou que Eliza sofria ameaças de Bruno. A polícia rastreou as últimas ligações telefônicas de Eliza e descobriu que ela esteve em Minas no período, contradizendo as afirmações de Bruno, que negou saber de seu paradeiro.

5 de julho de 2010

Uma nova testemunha informou ao chefe do Departamento de Investigações de Minas Gerais que o corpo de uma mulher teria sido jogado na água, levando a polícia a iniciar buscas por Eliza em um lago conhecido como Lagoa Suja, na região metropolitana de Belo Horizonte. 

As buscas na Lagoa Suja continuaram sem sucesso. Um menor de 17 anos, primo de Bruno, foi encontrado na casa do jogador e afirmou que Eliza estava morta, revelando que deu uma coronhada nela dentro do carro de Bruno. Nesse momento, O Ministério Público pediu prisões temporárias de Bruno, Dayanne, Macarrão e mais quatro pessoas.

28 de julho de 2010

O inquérito sobre o desaparecimento e a suposta morte de Eliza foi concluído, resultando em um documento de 1.600 páginas que indicia Bruno e outros por homicídio, sequestro, ocultação de cadáver, entre outros crimes. As provas incluíram registros de telefonia que corroboravam os deslocamentos de Eliza e os depoimentos dos envolvidos. O goleiro Bruno, seu amigo Macarrão, e o ex-PM Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola, foram identificados como participantes do crime.

Em Agosto de 2012, novas buscas foram realizadas no sítio de Bruno em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte, na tentativa de localizar os restos mortais de Eliza, após denúncias de que o local abrigaria o esconderijo de sua ossada. No entanto, a polícia não encontrou qualquer sinal da presença da ex-amante do atleta.

Em 2013  Em entrevista ao Fantástico, Jorge Luiz Rosa, 19 anos, primo de Bruno, afirma que Luiz Henrique Romão, o Macarrão, pretendia matar, além de Eliza Samudio, o filho da modelo com o jogador.

"Pelo Macarrão, a criança tinha morrido também. Dentro do carro, pegou e falou para mim que só não deixou, só não mandou matar a criança também, porque o cara que executou a mãe da criança não quis fazer nada com a criança. Falou que, com a criança, não. Não quis matar a criança", disse o jovem. 

Em meio a declarações contraditórias, o jovem inicialmente disse que Bruno não sabia do plano de Macarrão para matar sua ex-amante, mas, posteriormente, afirmou que o goleiro dificilmente estaria alheio às ações de seu amigo e braço direito. "Não tinha como não desconfiar. Estava debaixo do nariz dele. Com o Macarrão do jeito que gostava tanto dele, fazia qualquer coisa por ele, não desconfiar daquilo ali?", questionou. 

Condenações e Prisões

Bruno foi condenado a 22 anos e 3 meses de prisão por homicídio, sequestro, ocultação de cadáver e outros crimes. Luiz Henrique Romão, o Macarrão, recebeu uma pena de 15 anos e 6 meses, enquanto Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi condenado a 29 anos por homicídio qualificado. Dayanne, esposa de Bruno, também enfrentou acusações e teve sua pena fixada em 6 anos de prisão. Os demais envolvidos, como Flávio Araújo e Fernanda Gomes, também receberam sentenças que variaram de 6 a 15 anos.

Até hoje, o corpo de Eliza Samudio nunca foi encontrado. 

Na época até surgiram suspeitas de que ela teria sido morta na casa de Bola, que teria asfixiado Eliza até a morte e depois dado seus restos mortais para os seus cachorros. No entanto a perícia confirmou que os cachorros não tinham comido o corpo de Eliza. Outros suspeitas surgiram, como o fato de que teriam colocando o corpo de Eliza em uma parede com argamassa, o que também não foi corroborado pela perícia. 

Foto: Reprodução/Google

Além disso, durante os primeiros momentos da investigação, após o desaparecimento de Eliza, o laudo final do exame realizado em 13 de outubro de 2009, após a modelo afirmar que Bruno teria dado substâncias abortivas a ela foi concluido. O exame de urina coletado um ano antes detectou a presença de piperidina, uma substância associada a medicamentos abortivos. Isso indica que, desde o início, Eliza e seu relato estavam sendo verídicos, enquanto a justiça falhava em ouvi-lá. 

Quem teria matado Eliza? Quais pessoas participaram do crime? Como ela morreu? Onde está o seu corpo? São algumas das perguntas que permanecem sem respostas sobre o caso de Eliza Samudio.

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