Graciliano Ramos de Oliveira, o grande romancista de Vidas Secas, São Bernardo, Memórias do Cárcere, dentre outras obras marcantes, faria hoje 128 anos em que nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892. Graciliano foi eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios em 1927,tomou posse em janeiro de 1928, ficando no cargo até 1930, quando renuncia o cargo, após constatar que não dava para esse ramo de atividade. Foi como prefeito que Graciliano se revelou escritor e foi descoberto por um editor interessando nos textos formidáveis que ele expunha nos relatórios feitos ao Governador Álvaro Paes.
Além de ter-se firmado como um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, com estilo próprio, direto, marcante, Graciliano foi um marco na política. Uma espécie de precursor da chamada lei de “responsabilidade fiscal”, tal o zelo que ele aplicava à administração da cidade.
Num dos trechos do relatório encaminhado ao governador em 1928, ele diz:
“[…] Havia em Palmeira innumeros prefeitos: os cobradores de impostos, o commandante do destacamento, os soldados, outros que desejassem administrar. Cada pedaço do Municipio tinha a sua administração particular, com prefeitos coroneis e prefeitos inspectores de quarteirões. Os fiscaes, esses, resolviam questões de policia e advogavam.
Para que semelhante anomalia desaparecesse luctei com tenacidade e encontrei obstáculos dentro da Prefeitura e fora della — dentro, uma resistencia molle, suave, de algodão em rama; fora, uma campanha sorna, obliqua, carregada de bilis. Pensavam uns que tudo ia bem nas mãos de Nosso Senhor, que administra melhor do que todos nós; outros me davam tres meses para levar um tiro.
Dos funcionários que encontrei em Janeiro do ano passado restam poucos: saíram os que faziam politica e os que não faziam coisa nenhuma. Os actuaes não se metem onde não são necessarios, cumprem as suas obrigações e, sobretudo, não se enganam em contas. Dêvo muito a eles.
Não sei se a administração do Municipio é boa ou ruim. Talvez pudesse ser peor (ALAGOAS, 1929).”
Diante do embate que foi forçado a travar com a burocracia reinante na Prefeitura, cuja cultura era das facilidades pessoais, nas quais o interesse público passava longe, Graciliano escreve ao governador: “Para os cargos de administração municipal escolhem de preferência os imbecis e os gatunos. Eu, que não sou gatuno, que tenho na cabeça uns parafusos de menos, mas não sou imbecil, não dou para o ofício e qualquer dia renuncio”.
E terminou renunciando, para entrar de vez na literatura que o consagrou.
O extraordinário escritor faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de março de 1953, vitimado por um câncer. foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do século XX, mais conhecido por sua obra Vidas Secas. Alguns de seus filmes, como o próprio Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere, chegaram ao cinema com grande sucesso.