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Luiz Gonzaga: Grandes shows lembram 30 anos de morte do rei do Baião

Um sertanejo do interior de Pernambuco que revolucionou os ritmos, sobretudo o baião e o xaxado

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Há 30 anos, no dia 02 de Agosto de 1989, a música brasileira perdia um dos seus mais expressivos ícones, Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, um sertanejo do interior de Pernambuco que revolucionou os ritmos, sobretudo o baião e o xaxado, e compôs canções que ficaram imortalizadas na memória das pessoas, a exemplo de “Asa Branca”, “Luar do Sertão”, “Súplica Cearense”, “Feira de Caruaru”, “No Meu Pé de Serra”, “Assum Preto”, “Xote das Meninas”, “Riacho do Navio”, e tantas outras. 

Gonzaga nasceu em Exu, interior pernambucano, em 13 de dezembro de 1912, filho de Januário, que também era sanfoneiro e de quem Luiz herdaria o gosto pelo instrumento e pela música.Tornou-se o mais renomado sanfoneiro do Brasil e é reconhecido como compositor de extraordinária qualidade e talento. Foi responsável pela valorização dos ritmos nordestinos, levou o baião, o xote e o xaxado, para todo o país. A música "Asa Branca" feita em parceria com Humberto Teixeira, gravada por Luiz Gonzaga no dia 3 de março de 1947, virou hino do Nordeste brasileiro.

O mestre Januário, seu pai, era "sanfoneiro de 8 baixos", casado com Ana Batista de Jesus, mãe de Luiz Gonzaga, e o casal teve oito filhos. Luiz Gonzaga desde menino já pegava na enxada, mas preferia ficar olhando o pai tocar sua sanfona. Logo aprendeu a tocar e animar as festinhas da região. Cresceu ajudando o pai na roça e na sanfona, mas também fazia pequenos serviços para os fazendeiros da região.

Luiz Gonzaga era protegido do Coronel Manuel Aires de Alencar e de suas filhas e com elas aprendeu a ler, escrever e falar correto. Aos 13 anos, com o dinheiro que juntou e o emprestado pelo coronel, Luiz comprou sua primeira sanfona. O primeiro dinheiro que ganhou foi tocando em um casamento, ali sentiu que a música era seu destino.

Em 1929, com 17 anos, por causa de um namoro proibido pela família da moça e de uma surra que levou da mãe, Luiz fugiu para o mato. Mas a fuga maior foi quando deixou a casa para uma festa no Crato, no Ceará. Luiz Gonzaga vende sua sanfona e vai para Fortaleza, onde busca no Exército uma vida melhor. Com a Revolução de 30, viaja pelo país. Era o corneteiro da tropa. Em 1933, servindo em Minas Gerais, não entrou para a orquestra do quartel, pois não sabia a escala musical. Manda fazer uma sanfona e decide ter aulas com Domingos Ambrósio, famoso sanfoneiro de Minas. Transferido para Ouro Fino, sul de Minas, tocou pela primeira vez em um clube.

Em 1939, Luiz Gonzaga deixa o Exército, foram nove anos sem dar notícias à família. Enquanto esperava o navio para voltar para Pernambuco, Luiz ficou no Batalhão de Guardas do Rio de Janeiro, quando um soldado o aconselhou a ganhar dinheiro tocando na cidade. Logo, Luiz estava tocando nos bares do Mangue, nas docas do porto, nas ruas em busca de trocados. Acabou sendo convidado a tocar nos cabarés da Lapa. Nessa época, seu repertório era o exigido pelo público: tangos, fados, valsas, foxtrotes etc. Nesse ritmo fez sua primeira tentativa no rádio, em programa de calouros de Silvino Neto e Ari Barroso, mas sua nota não passava de 3.

Em 1940, um grupo de estudantes cearenses o aconselhou a tocar as músicas dos sanfoneiros do sertão nordestino. Ao participar do programa tocando “Vira e Mexe”, Luiz ganha nota 5 e o prêmio de primeiro lugar. Certo dia, Luiz foi procurado por Januário França, para acompanhar Genésio Arruda numa gravação. Luiz se saiu tão bem que foi convidado pelo diretor artístico da RCA, Ernesto Morais, para gravar um disco. No dia 14 de março de 1941, Luiz gravou dois discos como solista de sanfona. No primeiro: a mazurca “Véspera de São João” e “Numa Seresta”. No segundo: “Saudade de São João del Rei” e “Vira e Mexe”, um chamego de sua autoria.

Durante cinco anos, Luiz Gonzaga gravou cerca de setenta músicas, das quais apenas 10 eram “chamegos”. Fez carreira no rádio e começou a luta para cantar e gravar as músicas nordestinas. Fez parceria com Miguel Lima, que colocava letras em suas músicas, mas só em 11 de abril de 1945 gravou seu primeiro disco como sanfoneiro e cantor com a música "Dança Mariquinha". Foi em busca de um parceiro nordestino e conhece o advogado cearense Humberto Teixeira, era o início de uma parceria que veio durar cinco anos e lançou músicas com versos simples, impregnado de modismos nordestinos. Sua música agora seria acompanhada de sanfona, triângulo e zabumba. Entre os sucessos da parceria, destacam-se: “Baião”, “Asa Branca”, “Kalu”, “Paraíba”, “Assum Preto” etc.

A música “Asa Branca” foi um dos primeiros grandes sucessos nacionais de Luiz Gonzaga. O disco original foi lançado pela RCA, no dia 3 de março de 1947. Segundo Luiz Gonzaga, a música nasceu como toada, com raízes folclóricas. Com letra de Humberto Teixeira e música de Luiz Gonzaga, a música, retrata o sofrimento do povo do Sertão do Nordeste brasileiro diante da seca que assola a região. Asa Branca foi gravada por diversos cantores, entre eles, Dominguinhos, Sérgio Reis e Baden Pawell.

Depois de longos anos, Luiz Gonzaga volta para sua terra natal. Vai ao Recife e se apresenta em vários programas de rádio. Em 1949 leva sua família para morar no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, volta ao Recife, quando conhece o médico Zé Dantas, que sabia cantarolar todas as suas músicas. Foi o início de uma parceria que lançou os sucessos: “Vem Morena”, “A Dança da Moda”, “Cintura Fina”, “A Volta da Asa Branca”.

Entre 1948 e 1954, Luiz Gonzaga morou em São Paulo, de onde viajava para todo o país. O seu sucesso não parou mais. Em 1980, Luiz Gonzaga cantou para o Papa João Paulo II, em Fortaleza. Convidado pela cantora amazonense Nazaré Pereira, se apresentou em Paris. Recebeu o prêmio Nipper de ouro e dois discos de ouro com "Sanfoneiro Macho".

Luiz Gonzaga lutou durante seis anos contra um câncer de próstata. No dia 21 de junho de 1989, foi internado no Recife, Pernambuco, no Hospital Santa Joana, já bastante debilitado. No dia 2 de agosto de 1989 faleceu vítima de uma parada cardíaca. Em 2012, quando se comemorou 100 anos do nascimento de Luiz Gonzaga, foi lançado o filme "De Pai Para Filho", narrando a relação conflituosa entre Gonzaga e Gonzaguinha. O artista recebeu várias homenagens em todo o país.

Durante todo o dia de hoje e nesse fim de semana, várias homenagens estão sendo prestadas a Luiz Gonzaga, lembrando os 30 anos de sua morte. A Prefeitura de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, através da Fundação de Cultura e Turismo (FCTC), realiza hoje o 2º Tributo ao Rei do Baião Luiz Gonzaga.

As atividades começarão às 9h no Museu do Barro, com uma oficina de ritmos nordestinos que será ministrada por Ivson Santos. Às 14h, na Câmara de Vereadores de Caruaru, o gerente de Cultura da FCTC, Hérlon Cavalcanti, realizará a palestra “Três décadas de saudade”. Logo após, o pesquisador Ademário King falará sobre o tema “Luiz Gonzaga e sua relação com os compositores de Caruaru”.

A programação contará também com um debate sobre legado cultural de Luiz Gonzaga através das gerações, com participação de Lucas do Acordeom, Verônica Vaz (do Trio as Fulô) e Gilvan Neves. Ainda na Câmara de Vereadores, haverá a entrega de diploma aos compositores de Caruaru e a exibição ao vivo de um programa de rádio em homenagem ao Rei do Baião.

Em Recife, também hoje, o projeto Tengo Lengo Tengo, promove, a partir das 18h, shows gratuitos em comemoração ao legado do Rei do Baião. A atração é o grupo Quinteto Violado, fundado há 47 anos tendo como inspiração o trabalho de Luiz Gonzaga. A apresentação acontece no Centro Cultural Cais do Sertão, no Bairro do Recife, a partir das 18h. A entrada é gratuita. Os sanfoneiros Joquinha Gonzaga e Terezinha do Acordeon; a cantora Bia Marinho e um coral infantil com 100 participantes também participam da homenagem.

O show Quinteto Violado – 30 de Luiz Gonzaga, montado com base da importância que o Rei do Baião ocupa na história da banda, será apresentado ao público. A noite será aberta com um vídeo com depoimento do Rei do Baião sobre o grupo. “Luiz Gonzaga é a estrela-guia da obra do Quinteto. Para nós, é sempre uma emoção enorme homenageá-lo”, afirma o tecladista Dudu Alves.

A música Hora do adeus abre a programação musical. Em seguida, o repertório segue pelas canções mais marcantes do Rei do Baião, passando por músicas como A volta da asa branca, Sala de reboco, É proibido cochilar, Xote das meninas, Pisa na fulô e Sabiá. Haverá ainda um espaço destinado às marchinhas de quadrilha, como Olha pro céu, São João na roça e Fogueira de São João. Um coral com 100 crianças cantando Asa branca, com arranjos do Quinteto e sob regência do maestro Fernando Furtado, do Colégio Real, encerra o show.

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