Foi nesta data, há 10 anos, em 20 de Janeiro de 2010, que Barack Obama assume a Presidência dos Estados Unidos da América, tornando-se o primeiro negro a chegar ao poder na nação mais poderosa do mundo, e também o um dos países do planeta em que a descriminação contra a população negra foi tão intensa e duradoura ao longo da história.
Líder popular influente, de discurso vigoroso e fluente, Obama tornou-se um dos mais importantes líderes da política norte-americana. Ao deixar a Presidência, em 2017, sua popularidade atestada pelas pesquisas de oponião pública, era de 61%.
Não seria para menos: desde que se tornou o primeiro negro a ocupar o cargo de liderança mais cobiçado do mundo, Obama se consagrou como o verdadeiro popstar da política internacional.
“Ele tem o poder de aproximar as pessoas neste contexto de diversidade, conflitos e dificuldades da história contemporânea”, aponta Sidney Ferreira Leite, especialista em Relações Internacionais e Pró-reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
Dentro e fora dos Estados Unidos, as razões para o prestígio do ex-presidente envolvem carisma, capacidade de comunicação e visão acerca de temas atuais, conforme explica o especialista.
— Em primeiro lugar, ele usa uma linguagem simples, firme e direta, que foge do discurso rebuscado de muitos políticos. Mais importante que isso, Obama é uma figura comum, com hábitos e gostos e das pessoas médias. Ele não se coloca em um pedestal e tem fortíssimas habilidades sociais. A imagem que temos é de que ele é um cara com quem se pode encontrar na esquina, sentar em um banco e bater um papo.
Junto desses fatores, Leite destaca o fato de que o ex-presidente fala um inglês de fácil compreensão e defende questões de abrangência global — como a importância da educação e da saúde públicas.
“É muito difícil encontrar todas essas características em um mesmo político. São diferenciais importantes não só para figuras públicas, como para qualquer ser humano. Um papel como o de Obama — de alguém que gera empatia e defende valores admirados globalmente — é vital para o cenário da política internacional, em que vemos uma forte ascensão do nacionalismo”, pondera o professor.
Logo em seu primeiro pronunciamento depois de ser eleito o 44º presidente norte-americano, Obama já surpreendeu críticos e apoiadores ao abordar a questão racial nos EUA de um jeito bem diferente do esperado. É o que diz Bruno Dallari, professor de linguística na UFPR (Universidade Federal do Paraná) e especialista em análise do discurso.
— O discurso racial nos EUA sempre foi e continua sendo muito antagônico — seja da parte dos brancos, seja da parte dos negros. O que foi novo é que Obama, sendo negro, não reafirmou posturas de confronto, o tempo todo ele ressaltou que governava para todos os americanos e não prioritariamente para os negros. No primeiro discurso após ser eleito, por exemplo, todos esperavam uma alusão a Martin Luther King e, em vez disso, ele contou a história de Ann Nixon Cooper, uma senhora negra de 106 anos que havia registrado seu voto em Atlanta. Ele evitou caracterizar sua vitória como uma espécie de revanche.