Há exatamente 50 anos, em 09 de Abril de 1970, Paul McCartney anuncia oficialmente seu desligamento dos Beatles, alegando diferenças pessoais, musicais e empresariais, mas principalmente o fato de querer passar mais tempo com sua família.
A união com os Beatles, desde a formação do grupo em Liverpool, durou dez anos de sucesso. Um sucesso estrondoso, seguido de um término abrupto. Nessa data, Paul McCartney anunciava o fim dos Beatles.
E não foi um comunicado formal.
Na verdade, o músico concedia uma entrevista para divulgar seu primeiro disco solo, McCartney, e acabou revelando que não tinha planos de lançar outro álbum ao lado dos Beatles ou mesmo voltar a compor em parceria com John Lennon.
Em maio daquele ano, o quarteto de Liverpool lançaria ainda o derradeiro disco Let It Be, cuja gravação tinha sido feita meses antes das sessões que deram origem ao penúltimo álbum da banda – o antológico Abbey Road.
A relação começou a minar após a morte de Brian Epstein, empresário do grupo, em 1967.
Em uma entrevista à Rolling Stone, em dezembro de 1970, John Lennon deu sua versão sobre o fim da banda, expressando uma recente amargura em relação ao ex-companheiro de banda.
"Não aguentávamos mais ser figurantes para o Paul. Depois da morte do Brian, foi o que começou a acontecer conosco, sabe? (...) Depois que o Brian morreu, entramos em colapso. Paul assumiu o comando e, supostamente, nos liderava. Mas o que seria nos liderar, se estávamos correndo em círculos? Nós nos separamos ali. Essa foi nossa desintegração (...) Acho que Paul tem a impressão de que devíamos ser gratos pelo que ele fez, sabe? Por ele ter incentivado a continuação dos Beatles, mas quando olhamos objetivamente, ele fez isso pelo seu próprio bem."
Após a morte de Epstein, McCartney sugeriu que Lee Eastman (pai de Linda Eastman, sua futura esposa), assumisse os negócios do selo da banda - que passava por problemas financeiros.
A indicação de McCartney não foi aceita pelos outros integrantes da banda, que indicaram o empresário e produtor Allen Klein para o cargo. As condições de trabalho e divisão de ganhos deixaram Paul descontente.
No final da década de 1960, as tensões artísticas e pessoais eram grandes e todos tocavam projetos paralelos, mantendo contato apenas no âmbito comercial. Os boatos sobre uma possível separação circulavam.
Klein, que também trabalhava com os Stones, deu um jeito nos negócios da banda, mas também ficou com uma considerável parte dos lucros. A empresa dele, inclusive, ficou responsável pelos direitos de lançamento dos discos dos Beatles nos EUA.
Inconformado com os rumos tomados, McCartney processou os colegas em 1970 e se distanciou de Lennon, seu grande companheiro de composições.
Em uma entrevista à BBC em 2016, Paul McCartney admitiu que foram os negócios que separaram os Beatles. Nada além disso. O término naquele abril de 1970, no entanto, causou muita dor ao músico.
"Foi difícil descobrir o que fazer depois dos Beatles. Como você continua depois disso? Eu fiquei deprimido. Você ficaria. Você está se separando de seus amigos de uma vida inteira. Então eu comecei a beber."
O beatle viajou então para a Escócia, onde viveu por um tempo, e conseguiu vencer o problema de abuso do álcool com a ajuda de Linda McCartney, então sua esposa, que passou a tocar com ele em sua nova banda, o Wings.
O grupo teve diversas mudanças de integrantes, mantendo-se em atividade de 1971 até 1981.
McCartney retomou contato com John Lennon anos depois, pouco antes de Lennon ser assassinado, em 1980. "Eu ligava de vez em quando para John. Nós só conversávamos sobre as crianças e sobre fazer pão", disse.