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Primeira fábrica de laticínios do NE tem patrimônio em ruínas

Esse é certamente mais importante marco do desenvolvimento industrial do estado do Piauí.

A primeira fábrica de laticínios (queijos e manteigas) do Nordeste e segunda do Brasil, foi instalada há 145 anos no local em que hoje é o centro da cidade de Campinas do Piauí. Esse é certamente mais importante marco do desenvolvimento industrial do estado do Piauí, posto em funcionamento em 20 de Abril de 1897.O projeto da fábrica foi elaborado pelo engenheiro alemão Alfredo Modrak, o mesmo que projetou o Teatro 4 de Setembro, em Teresina, e teve sua execução dirigida pelo também engenheiro Antônio José de Sampaio. 

Era conhecida como “Fábrica de Laticínios dos Campos”. Tinha como principal objetivo receber todo o leite advindo das antigas Fazendas Nacionais, daí funcionando a todo vapor na produção dos derivados do leite. Todo seu maquinário foi fabricado na Suíça e de lá transportado pelos oceanos e, daí, pelo rio Parnaíba.  

Esse foi certamente, em território piauiense, o mais importante evento da ocupação do interior do Brasil processada nos séculos XVIII e XIX. Essa pioneira indústria se instalou numa área erma, no ponto central do que é hoje a cidade de Campinas do Piauí. No entorno dessa fábrica começaram a surgir habitações para abrigar os operários da indústria, daí ir aos poucos se formando o que é a cidade. 

Primeira fábrica de laticínios do Nordeste é em Campinas do Piauí - Foto: Reprodução

Seguida pela instalação da fábrica, veio a vila operária onde moravam os funcionários da então fábrica, muitos sertanejos que foram usados como mão de obra, acabaram por se fixar na região. O povoado de Campos foi por muito tempo parte do Município de Simplício Mendes, em 1964 foi elevada à categoria de cidade. 

Devido às grandes secas e ao extermínio dos rebanhos, a fábrica sucumbiu funcionando até 1947. Atualmente o imóvel encontra-se abandonado, restando hoje um imponente edifício, em estado precário e bastante vandalizado, o prédio é tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural do Estado desde 1990 e pelo Iphan desde 2015.  

O valor arquitetônico da edificação merece destaque, por ser exemplo emblemático do patrimônio edificado no interior do Brasil no final do século XIX, utilizando tanto a arquitetura tradicional piauiense, que se utiliza de materiais e técnicas locais, quanto da arquitetura industrial. Possui quatro volumes: o corpo principal em forma retangular, outro volume retangular na parte frontal e dois outros na parte posterior. A chaminé se sobressai acima do corpo principal da edificação. 

Na fachada principal um frontão em estilo neoclássico, óculo,  trabalhada e uma modenatura bem marcada com pilastras. 

Conselho do Patrimônio Cultural aprovou o tombamento da Fábrica de Laticínios - Foto: Reprodução

TOMBAMENTO E RESTAURAÇÃO 

Em 15 de Maio de 2014 o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural da União, aprovou o tombamento da Fábrica de Laticínios, no município de Campinas do Piauí, e do Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara, em Floriano, dois imóveis integrantes das Fazendas Nacionais do estado. 

O Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara e a Fábrica de Laticínios decorrem das antigas Fazendas Nacionais do Piauí que, originalmente eram grandes extensões de terras doadas aos primeiros desbravadores, no Brasil colônia. Mais tarde pertenceram à Companhia de Jesus e, quando foram expulsos, em 1759, as terras passaram à Coroa Portuguesa e, em seguida, ao Império.  Com a República, as Fazendas Nacionais ficaram em poder da União, que arrendou ou vendeu parte das terras que originaram vários municípios no atual Estado do Piauí. 

Fábrica é importante testemunho da ocupação do interior do Brasil - Foto: Reprodução

A Fábrica de Laticínios, em Campinas do Piauí, e o Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara, em Floriano, são importantes testemunhos da ocupação do interior do Brasil durante os séculos XVIII e XIX.  Nesse sentido, proposta de tombamento pelo Iphan está relacionada com o processo de ocupação decorrente da utilização das Fazendas Nacionais a partir de projetos de aproveitamento da mão-de-obra remanescente da escravidão. O valor arquitetônico das duas edificações também merece destaque. São exemplos emblemáticos do patrimônio edificado no Brasil entre o final do século XIX e começo do XX, tanto da arquitetura tradicional piauiense, que se utiliza de materiais e técnicas locais, quanto da arquitetura industrial implantada no interior do país em pleno século XIX. 

Embora tombado pelo Patrimônio da União, o principal edifício desse valioso conjunto permanece em ruínas, sujeito a desaparecer pela fúria do tempo e descaso da gestão pública federal. 

Recentemente, o secretário de Cultura do Estado do Piauí, deputado Fábio Novo, revelou que o Governo do Estado pretende intervir para revitalizar o espaço, abrigando um Museu e um Centro Administrativo. O projeto de revitalização elaborado pelo Estado, aguarda aprovação do Iphan.    

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