Produtor de aço, fabricante de sabão em pó, empresa de depilação a laser e pizzaria. Empresas dos mais variados segmentos e portes buscam o crescimento bem longe das capitais, voltando-se cada vez mais para o interior. Os números comprovam esse movimento, que foi acelerado pela pandemia do coronavírus. Se entre 2015 e 2020 o consumo nas 50 maiores cidades avançou quase 15%, nos outros 5.520 municípios do país o crescimento teve um ritmo mais acelerado: 23%, segundo dados da consultoria IPC Marketing.
— Desde o início da pandemia, muitas pessoas se mudaram para locais menores, e elas buscam as marcas que conhecem das grandes cidades. Hoje, o foco é 100% interior — diz o presidente da rede espanhola de depilação Não+Pelo, José Rocco.
A migração para o interior, ressalta ele, fez a empresa redirecionar seus negócios. Das 15 aberturas previstas para os próximos meses, todas são em locais com menos de 50 mil habitantes. Hoje, 70% das 265 franquias da rede estão no interior.
Essa interiorização já vem permitindo que a rede, por exemplo, registre na loja de Nova Prata, uma cidade de quase 28 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul, um faturamento até 60% superior ao da capital Porto Alegre.
Marcos Pazzini, diretor da IPC Marketing, também ressalta esse movimento de mudança, com pessoas que buscam em locais menores uma melhor qualidade de vida, o que aumenta o poder de compra das cidades pequenas. Outro fator, segundo ele, é a alta de 36% no número de indústrias nos últimos seis anos nesses 5.520 municípios, de 1,5 milhão para 2,1 milhões. Com mais empresas, avalia ele, houve maior geração de emprego, o que ajudou a elevar a renda, dando fôlego ao setor de serviços:
— Muitas empresas passaram a investir no interior porque os custos são menores, o que torna abrir um negócio mais vantajoso.
Modelo adaptado ao local
Gabriel Di Blasi, advogado especialista em franquias e diretor jurídico da Associação Brasileira de Franchising Rio de Janeiro (ABF Rio), aponta outro efeito da crise provocada pela pandemia:
— O sistema de franquias vem se adaptando ao novo cenário da pandemia para compensar as perdas que o setor tem enfrentado. As redes de franquias enfrentam neste momento duras negociações com os shoppings centers dos grandes centros. Por isso, há aceleração de expansão de marcas e unidades de negócio para o interior do Brasil.
Esse potencial também tem atraído gigantes como a ArcelorMittal. A siderúrgica acaba de lançar um plano para abrir franquias em cidades do interior, a fim de vender ao consumidor final produtos feitos a partir de aço, como arames, cercas e chapas. Segundo Silmara Vernucio, gerente de Estratégia de Varejo da ArcelorMittal, a meta para 2021 é abrir 15 lojas, chegando a cem endereços em quatro anos.