Recém-formada em engenharia civil, Sheyla Resende se inscreveu no programa de trainee da construtora e incorporadora brasileira Gafisa, em 2009. Em 2010, iniciou sua trajetória na empresa, onde agora assume o cargo mais alto, de CEO, e diz o que fez para chegar lá. “Os desafios do setor, até hoje liderado por homens, me forçaram a buscar uma atuação com ênfase técnica e de alta performance, indicadores universais de reconhecimento.”
Há quase 14 anos na Gafisa, Resende passou por algumas áreas na companhia, e desde 2019 ocupa cadeiras executivas de gestão de pessoas. Isso em um momento em que ser diretor de recursos humanos está se tornado um caminho mais comum para chegar ao cargo de CEO e assumir mais responsabilidades na empresa. “A experiência na gestão de pessoas me trouxe o olhar humano que é um dos principais pilares de qualquer negócio atualmente”, diz a executiva, que desenvolveu habilidades como empatia e liderança nesse período.
A nova CEO diz como foi de trainee a presidente da construtora e o que é mais importante – especialmente para executivas mulheres – para assumir essa posição em uma grande empresa.
O C-Suite desta semana também traz movimentações nos setores de alimentos e aeronáutico. Juliana Bonamin é a nova vice-presidente de vendas da Mondelez, Dimas Tomelin, vice-presidente de estratégia, digital e inovação da Embraer, e Carol Dias assume como diretora de RH da Kraft Heinz.
Sheyla Resende: A faculdade de engenharia civil me deu a capacidade de ver o macro e gerir projetos, garantindo uma boa execução seja de uma obra, um projeto ou gestão de pessoas. Além disso, o cenário sempre competitivo no setor me exigiu buscar capacitação e me tornar uma profissional com perfil mais dinâmico, com habilidades e competências diversificadas. Isso fez de mim uma profissional determinada, em busca constante por novos desafios e sempre atualizada dos mais diferentes assuntos.
F: Você entrou como trainee e chegou à presidência. Como se destacar no início da carreira e subir na mesma empresa?
SR: No início, eu tinha muita convicção de que naquele local estaria a oportunidade de me desenvolver, fosse com treinamentos de capacitação com grandes instituições de ensino, job rotation, treinamentos internos para conhecimento do negócio, áreas e processos e ainda com o exemplo de grandes líderes. Aproveitar as oportunidades, ter entregas consistentes, aderir à cultura da empresa, absorver conhecimento, conhecer profundamente o negócio, executar a estratégia e somar dedicação a tudo isso para a gestão de pessoas.
F: Quais habilidades foram mais importantes para desenvolver e chegar a essa posição?
SR: A minha construção de carreira me ajudou a ter habilidades como dinamismo, resiliência, adaptabilidade, além do conhecimento do ciclo do negócio, que tornou mais assertivas as tomadas de decisão. Esse conhecimento também me deu mais autonomia e facilidade de gestão, porque eu sabia quem acionar e os caminhos para resolver certas questões rapidamente. E assim foi durante todo o meu crescimento de carreira.
F: Quais habilidades e características você busca em um profissional da sua equipe hoje?
SR: Acredito que a disposição a aprender sempre, se adaptar, com foco em resultados, e ter em mente que a formação é constante. O profissional precisa entender que o mercado e o conhecimento mudam a cada hora. Aqui na Gafisa, estimulamos muito o desenvolvimento de profissionais que tenham a inovação como uma premissa do trabalho. Na nova cultura organizacional, os pilares de inovação e “senso de dono” são estimulados constantemente.
F: O que você indica, tanto em termos de habilidade quanto de formação, para quem quer chegar à presidência de uma grande empresa?
SR: A minha dica é estar em um ambiente que favoreça o crescimento, com uma cultura organizacional que esteja alinhada com o seu propósito. Isso faz muita diferença. Trabalhar com foco e resiliência e entender que você é peça fundamental para o negócio é importante. Isso permite que você esteja sempre aberto às oportunidades e a trabalhar de forma colaborativa. Além disso, é necessário se manter atualizado, ainda mais num mercado como o da construção civil, em que a antecipação de tendências é algo fundamental. Afinal, as pessoas compram um imóvel que será entregue em três anos. Temos que conseguir entregar um produto que esteja atual e moderno anos à frente. Isso exige uma capacidade de inovação constante dos times para conseguir acompanhar as mudanças.
F: E o que você diria especificamente para as mulheres?
SR: Diria sobre a importância de ser protagonista da sua própria carreira, de não se deixar intimidar por ambientes predominantemente masculinos, não ter receio de expor opiniões e pontos de vista. Os desafios do setor, até hoje liderado por homens, naturalmente me forçaram a buscar uma atuação com ênfase técnica e de alta performance, indicadores universais de reconhecimento. Hoje entendo que uma atuação multidisciplinar, com ênfase na visão de negócio, também é uma forma de “driblar” quaisquer resquícios de resistência às lideranças femininas.
FONTE: FORBES