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Exclusivo Gregório ou Gorete Canivete? A história do verdureiro que se tornou personalidade em Teresina

Entre conversas animadas e opiniões trocadas, o verdureiro labuta, distribuindo simpatia e alegria por onde passa

Livre e feliz. É assim que se sente Gregório Amario da Silva, aos 62 anos. O verdureiro humilde, que ganhou os holofotes dando vida a destemida travesti Gorete Canivete, viu sua história ser contada e admirada por milhares de pessoas em um documentário produzido em Teresina, no Piauí. 

Natural de Teresina, é no popular Mercado do Mafuá, situado na zona Norte da capital piauiense, que Gregório encontra seu sustento. Entre conversas animadas e opiniões trocadas, o verdureiro labuta, distribuindo simpatia e alegria por onde passa. Em entrevista exclusiva ao MeioNews, ele contou um pouco de sua trajetória.

Meio News - Há quanto tempo você trabalha no Mercado do Mafuá, e qual a sensação de ser tão popular por aqui?

Gregório - Minha labuta aqui tem mais de 30 anos. Eu todo dia venho pra cá desde novinho, eu e minhas irmãs. Olha ali uma delas, aquela que me ajuda aqui, a Gardênia (falou apontando para sua irmã). Antes, no começo, eu vinha pra cá bem cedo, agora eu venho mais tarde, sou empresário (contou com sorriso no rosto). Chego mais tarde, recebo meus clientes que são fiéis, os clientes do Gregório todo dia tem que passar por aqui. Eu gosto de ser conhecido por aqui, todo santo dia eu circulo isso aqui tudo, passo pelas bancas das minhas amigas dou um abraço um beijo, aquela frescura toda. Eu gosto, eles me tratam com carinho. 

Gregório Amario figura ilustre no Mercado do Mafuá (Foto: Welligton Oliveira)

Meio News - Estamos entrevistando o Grigório ou a Gorete?

Gregório - Agora nesse momento você está falando com o Gregório. Durante o dia você vai me encontrar assim. Eu fico assim de rapaz durante o dia. A travesti é só de noite. De dia verdureiro, a tarde cabeleireiro e a noite “ladrona de marido alheio”.

Gregório mostra com alegria seu local de trabalho (Foto: Welligton Oliveira)

Meio News - Gorete Canivete ganhou holofote, sua história de vida foi contada em um documentário. Como começou tudo isso, quando a Gorete surgiu?

Gregório Gorete Canivete surgiu quando tinha quadrilhas, agora só tem quadrilhas de ladrões (brincou), festas juninas. Eu brincava na quadrilha Vai Vai, aí nos finais dos ensaios os meninos diziam - agora vai entrar a rainha caipira- é a Gorete Canivete, é a Gorete Canivete, e isso pegou. Por onde eu passo o povo me cumprimenta me chamando de Gorete. Eu não tenho problema nenhum se me chamarem de Gorete, é quase meu segundo nome, podem me chamar de qualquer um dos dois nomes, eu atendo do mesmo jeito, é uma pessoa só. 

Gorete Canivete (Foto: Reprodução)

Gregório - Você sofreu algum tipo de preconceito ao longo desses anos. Sentiu que a Gorete foi reprimida pelos familiares ou pelos amigos?

GREGÓRIO -  No começo tinha preconceito. No colégio eu não brincava no recreio, não participava da educação física. Eu sempre fui assim mais tímido, ficava só em casa. Minha família são seis mulheres, agora são sete porque tem a Gorete. No começo lá em casa ninguém aceitava, mas foi só no começo, eu “birrei” e disse que ia ser assim, mas eu apanhei até de sipó de tamarindo, eita dói demais (brincou). Mas tudo passou, aí eles viram que eu não ia mudar e eu continuei sendo desse jeito, alegre e feliz como sempre fui. Hoje não é mais um problema. Eles tem que me aceitar assim. Minha mãe já é velhinha, todos os irmãos estão crescidos, cada um cuida da sua vida, e eu cuido da minha. Nós somos todos unidos, ninguém é intrigado com ninguém, todo mundo se respeita. 

Gorete Canivete passeando pelo Mercado do Mafuá (Foto: Reprodução)

Gregório -  Teresina hoje tem muitos representantes do movimento Drag, rapazes que se montam e fazem apresentações. Além disso, temos uma Drag Queen brasileira considerada a mais famosa do mundo. Como você vê esse movimento e essa transformação, onde um rapaz montado tem a liberdade de se expressar por meio de sua arte cantando para multidões?

Gregório - Felicidade demais. No meu tempo isso jamais iria acontecer, era tudo proibido, a gente tinha medo, a gente não podia fazer nada. Meus colegas acabaram indo pra rua, trabalhar na rua. Eu nunca quis fazer isso, mas eles precisaram. Hoje ter essa colega fazendo tudo isso, sendo conhecida pelo mundo a fora, enche nós de alegria. Eu sinto como se fosse eu lá “a bicha é linda demais”. Eu fico feliz, sabia? Eu espero que continue e que todos tenham essa liberdade pra gente continuar fazendo o que a gente gosta. 

Meio News - Como você se identifica em termos de gênero? Você se considera trans, travesti ou prefere outra identificação?

Gregório -  Eu sou gay, gosto de ser assim. Agora quando ela entra em cena, quando a Gorete Canivete chega, eu me torno um travesti. Sim, é travesti mesmo. Eu sempre me considerei assim quando tô com essa outra personalidade. Não posso dizer que sou Drag porque eu não canto, não danço e não me apresento, né? Visto minhas roupas, boto minha peruca, e no meu tempo o povo chamava de travesti, agora tudo tá mudado. Mas se for pra dizer o que eu sou, eu sou uma travesti, Gorete Canivete é travesti. 

Meio News - Você se tornou uma personalidade em Teresina. Todos conhecem você. Pelo Mercado do Mafuá sempre encontramos o Gregório. Onde e quando as pessoas poderão encontrar a Gorete Canivete?

Gregório - Aqui no Mercado do Mafuá vou sempre estar. Agora a Gorete vai aparecer sempre nas festas, no carnaval, na parada gay, nas festas juninas. Ela sempre aparece, é nesses momentos de festa aqui em Teresina, que sempre tem [...] é aí que a perigosa aparece e faz a alegria das pessoas. Quer dizer, não só alegria das pessoas mas a minha também sabe por quê? Eu sou feliz fazendo isso, sou feliz sendo assim, me encontrei demais nela, e eu nem sabia desse outro lado. O outro lado do Gregório que me dá alegria. 

Gregório está sempre circulando e conversando com os colegas de trabalho (Foto: Welligton Oliveira)

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As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.


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