O ex-presidente dos Estados Unidos, que derrotou Gerald Ford nas eleições de 1976 e se tornou o 39º dirigente do país, disse há alguns anos, do alto de sua experiência, em resposta a um telefonema do ex-presidente Donald Trump, que se dizia preocupado com o crescimento geopolítico da China, o seguinte:
“Você tem medo de que a China nos supere, e eu concordo com você. Mas você sabe porque a China nos superará? Eu normalizei as relações diplomáticas com Pequim em 1979. Desde essa data, você sabe quantas vezes a China entrou em guerra contra alguém? Nem uma vez, enquanto nós estamos constantemente em guerra”.
NAÇÃO MAIS GUERREIRA
E disse mais: “Os Estados Unidos é a nação mais guerreira da história do mundo, pois quer impor aos Estados que respondam ao nosso governo e aos valores americanos em todo o Ocidente, e controlar as empresas que dispõem de recursos energéticos em outros países. A China, por seu lado, está investindo seus recursos em projetos de infraestrutura, ferrovias de alta velocidade intercontinentais e transoceânicos, tecnologia 6G, inteligência robótica, universidades, hospitais, portos e edifícios em vez de usá-los em despesas militares.
Quantos quilômetros de ferrovias de alta velocidade temos em nosso país? Nós desperdiçamos U$ 300 bilhões em despesas militares para submeter países que procuravam sair da nossa hegemonia. A China não desperdiçou nem um centavo em guerra, e é por isso que nos ultrapassa em quase todas as áreas.”
BASE PARA COMPREENSÃO
Jimmy Carter, aos 98 anos, está recluso no Center Carter, uma instituição criada por sua mulher para tratar de atenção à saúde, submetido a cuidados paliativos. Mas suas afirmações, embora estarrecedoras, partindo de um ex-presidente norte-americano, revigoram-se nesta etapa da política internacional, servindo de base para compreendermos o que nos diz agora o Professor Fulufhelo Netswera, reitor executivo da Faculdade de Ciências da Gestão da Universidade de Tecnologia de Durban, na África do Sul:
“ Nos últimos anos, tem havido um aumento no número de países interessados em se juntar ao BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul do Sul) e esse interesse está ligado, em parte, à perda de credibilidade das organizações lideradas pelos Estados Unidos. O BRICS ganhou destaque devido à sua postura pró-multilateralismo em questões geopolíticas e econômicas, o que tem atraído outros países. O BRICS reconhece que cada região tem necessidades, interesses e objetivos econômicos distintos, e defende o apoio mútuo para o desenvolvimento.”
PERDA DE CREDIBILIDADE
Na visão do professor Fulefhelo, os grupos liderados por Washington perderam credibilidade devido à violação de resoluções do Conselho de Segurança da ONU e ao envolvimento em guerras por procuração, como ocorreu na Síria e na Ucrânia. Ele afirma que essas guerras têm causado devastação nas nações mais pobres, enquanto enriquecem o complexo industrial-militar e seus acionistas.
No outro lado da questão, a neutralidade dos países do BRICS em relação aos conflitos armados, enfatizando que armar ambos os lados e falar de guerras não traz resultados positivos, tem feito grande diferença.
Ele menciona a África do Sul e o Brasil exemplo, destacando a opção dos países em mediar uma resolução de paz em vez de difamar a Rússia no contexto do conflito na Ucrânia.
Além disso, o professor aborda a intenção dos países do BRICS de rejeitar o dólar americano como moeda dominante. Ele reconhece que esse processo levará tempo, mas destaca que as nações do BRICS estão considerando o uso de suas moedas nacionais entre si e até mesmo a criação de uma nova moeda do BRICS. Ele conclui afirmando que o dólar americano está enfrentando seu maior desafio até o momento e é altamente provável que nunca recupere sua posição histórica.
Essa sequência de adesões de países ao Brics começa a mudar a relação de forças na política internacional, fazendo crescer a esperança de que muitos países utilizados como massa de manobra possam, daqui pra frente, alcançar desenvolvimento econômico e paz social.