A reunião que o Presidente Lula teve na manhã desta quarta-feira com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, contando com a presença do assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, guarda bastante relação com a missão que o presidente brasileiro desempenha atualmente, na condição de presidente, durante todo este ano, do G20, o importante fórum que reúne as mais importantes economias mundiais. Cumpre, assim, o papel de liderança internacional incorporado a essa nova missão.
Além de tratar da grave crise que se abateu sobre o Equador, cujo presidente, Daniel Noboa, baixou decreto de Conflito Armado, diante da existência de enfrentamentos com grupos armados, considerados pelo governo como “terroristas e atores beligerantes não estatais”, o Presidente Lula serviu-se desse encontro com o pessoal do Itamaraty para atualizar informações acerca de outras questões mundiais, como a guerra Israel e Palestina, a guerra Ucrânia e Rússia e os recentes terremotos registrados no Japão.
A propósito, também ontem o Presidente Lula teve encontro com o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, e conversou por telefone com o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, inteirando-se da situação gerada pelos terremotos que atingiram territórios japoneses em 1ª de janeiro, expressando solidariedade e apoio ao povo japonês, em especial às vítimas dos abalos sísmicos. Os terremotos deste início de ano já deixaram 168 mortos no país asiático.
ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS
O fato que mais preocupa o governo brasileiro diz respeito, evidentemente, à situação de conflitos no Equador. Por sua proximidade com o Brasil e pela presença significativa de organizações criminosas nos dois territórios, a gravidade equatoriana põe em alerta o governo brasileiro, sobretudo pela influência que essas facções do crime organizado exercem em áreas da Amazônia. O Equador é parte integrante desse território, com importantes 120.000 km2, correspondendo a 48% de todo o território nacional.
O decreto de “Conflito Armado”, assinado pelo presidente Daniel Noboa, é um degrau acima do “estado de sítio”, ou da GLO (Garantia da Lei e da Ordem, constante da legislação brasileira), conforme explica o jornalista João Paulo Charleaux, especialista em conflitos internacionais e questões humanitárias, segundo ele, “um termo técnico previsto no direito internacional e popularmente conhecido como guerra civil.”
GUERRA CIVIL
Isso mesmo. O equador está bem próximo de uma guerra civil, tamanha a dimensão da criminalidade, da marginalidade, e da fragilidade das forças de segurança. A presença robusta do crime organizado no Equador é visível. A instabilidade política que vinha se arrastando pelo país já há bastante tempo e que resultou no assassinato do candidato à Presidência da República, Fernando Villavicencio, morto por tiros de metralhadoras, na Capital, Quito, em 9 de agosto do ano passado, após realizar um comício, recrudesceu, dando lugar à violência armada comandada por organizações fora da lei.
Desde segunda-feira, o Equador vive dias e noites de terror. Dezenas já foram mortos, estúdio de televisão, que realizava transmissões ao vivo, foi invadido por marginais, com pessoas tornadas reféns, e o próprio presidente, ao ordenar reações enérgicas amparadas no decreto de Conflito Armado, citou nominalmente mais de 20 organizações do crime organizado que estão atuando fortemente no país e tocando o terror.
As autoridades brasileiras têm, de fato, muitos motivos para preocupação. Não apenas pela vizinhança com o Equador, pela situação da Amazônia, onde o crime organizado vem atuando de modo crescente( veja-se, por exemplo, o crescente domínio da criminalidade sobre as Terras Yanomamis) mas, do mesmo modo, por situações peculiares brasileiras, em cujo momento há uma incerteza quanto a quem vai substituir o ministro Flávio Dino na Justiça e Segurança Pública. Esses fatos lamentáveis têm peso expressivo na aceleração, por parte do Presidente Lula, de uma decisão sobre esse delicado tema. Vê-se que é necessário agir com velocidade e energia.