A semana se inicia com a divulgação de mais um relatório Focus, do Banco Central, que chegou hoje de cara limpa, sem máscara nem maquiagem, apertando o cerco contra o Comitê de Política Monetária, o Copom, projetando que a taxa de juros Selic de dezembro deste ano, será de 10,50%, o mesmo percentual que fora fixado em maio.
Isso parece uma demonstração de que as próximas reuniões desse colegiado não seguirão a estratégia adotada em agosto do ano passado de reduzir as taxas Selic como fez em todas as suas sessões a partir dali. A vontade pré-anunciada é de redução zero a partir de agora.
Ou seja, o boletim do próprio BC já vem dando o tom das decisões que serão tomadas nessas próximas terça e quarta-feira, quando o Comitê realiza mais uma de suas sessões (que ocorrem a cada 45 dias) e vai mais uma vez decidir como fica a Selic, esse parâmetro oficial que regula os juros aplicados pelo sistema financeiro e que pode tanto ajudar, quanto desfavorecer o mercado produtivo.
Aliás, na última sessão, dias 7 e 8 de maio, o órgão revelou uma ruptura entre seus integrantes, vencendo o grupo liderado por Roberto Campos Neto, presidente do BC, que resolveu interromper a marcha descendente de juros, que caí em 0,50% já há seis ocasiões seguidas, e aí teve redução de apenas 0,25%. Os sinais trazidos pelo BC nesse boletim de hoje são de que não haverá mais queda de juros durante este ano.
Embora essa perspectiva de que o Copom vai dar uma parada na tarefa de reduzir as taxas oficiais não seja nenhuma surpresa- diante de manifestações públicas do próprio presidente do BC e das pressões do mercado especulativo, que propalam temores de aumento da inflação-, a verdade é que os setores produtivos brasileiros ficam frustrados.
Os que produzem, geram riquezas, garantem a vitalidade dos empregos e propiciam elevação da renda e do consumo, esperam, e sobram razões para esse anseio, que os juros cheguem ao final de 2024 abaixo de 10%. Muitos até calculam que o percentual tolerável para manter ativos os seus negócios e acessíveis os créditos que os alimentam, tivessem a marca de 9% como ideal, uma meta próxima da realidade atual do Brasil, que tem inflação controlada e até mesmo em queda, e uma economia que volta a crescer, depois de mais de seis anos de paralisação.
Observo que cabe razão ao Presidente Lula por postagem recente nas redes sociais, quando diz que “estamos reféns de um sistema financeiro que praticamente domina a imprensa brasileira. Ninguém fala de taxa de juros de 10,50% em um país com inflação de 4%. Pelo contrário, dão uma festa para o presidente do Banco Central. Quem deu a festa deve estar ganhando com esses juros.”
Muitos enxergam que há sabotagem de um grupo entre os conselheiros do Banco Central. Valendo-se do poder formal que ostentam, associam-se aos interesses de setores da economia especulativa, que fazem fortuna com juros altos, e tentam impedir o êxito de um governo que tem claras opções pelo desenvolvimento e por investimentos em áreas sociais. Mirando permanentemente na especulação financeira para aumentar a rentabilidade de seus investimentos e elevar suas fortunas, não têm qualquer vontade de colaborar para a redução das desigualdades e para a eliminação de dramas reais, crescentes, como o aumento da fome.
Surfando nas flutuações de preços dos ativos, como ações, moedas e commodities, comprando ativos que desvalorizam e vendendo quando estão em alta, esses especuladores, que são muitos e poderosos, espalhados Brasil afora, mas com influência gigantesca, inclusive na política, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Rio Grande do Sul, Paraná, entre outros Estados, querem juros elevados, porque quanto maiores eles forem, mais dinheiro eles ganharão. E ao contrário de condenarem, setores poderosos da mídia os aplaudem e estimulam.