José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Brasil e o mundo terão que conviver com as truculências de Donald Trump

A truculência de Donald Trump ameaça a ordem mundial, impactando o Brasil e outros países. Conheça as últimas declarações do presidente eleito sobre o Canadá e o BRICS

Todo mundo já conhece um pouco da capacidade de Donald Trump- o presidente eleito dos Estados Unidos-, de expor suas ideias e seus desejos, quase sempre causando espanto em razão de suas posições extremadas, fora do eixo normal das coisas, muitas delas apenas para provocar contradições e conflitos, gerar embates, mas em algum momento sendo mesmo capaz de tornar real o que diz. 

A novidade da hora diz respeito ao Canadá, nada menos que a  10ª mais vigorosa economia do mundo, uma nação politicamente organizada, segunda maior área territorial entre os países do planeta, sem histórico de graves crises políticas. Trump acaba de declarar que transformar o Canadá, vizinho norte-americano do norte, no 51º estado dos Estados Unidos "é uma boa ideia, uma excelente iniciativa", pois com isso, diz ele, os canadenses "economizariam enormemente em impostos e proteção militar. Acho uma ótima ideia. Estado 51!!!". 

Trump aproveita-se de uma crise política atualmente vivida pelo primeiro-ministro Justin Trudeau, que sofre intensa campanha disparada por integrantes do Parlamento, que exigem a sua renúncia ao cargo, uma situação que se agravou após a ex-vice-premier e ministra das Finanças, Chrystia Freeland, ter pedido demissão de seu posto por divergência interna e discordância com o chefe de governo.

Trump afirma que muitos canadenses querem se tornar norte-americanos, baseado certamente numa pesquisa feita pelo Leger Institute mostrando que 13% da população têm esse desejo. 

Trump já havia manifestado essa sua intenção de anexar o Canadá durante um jantar com o primeiro-ministro canadense Trudeau, no final de novembro, quando se referiu ao Canadá como o seu "51 estado". O que parecia uma brincadeira ou um agrado ao dirigente canadense, agora se vê que já era uma ameaça, contida  nessa declaração de ontem.

Desde esse jantar com Justin Trudeau, Donald Trump tem se referido ao primeiro-mistro canadense, nas suas postagens em redes sociais, como  "Governador",  título com que é tratado o dirigente dos atuais 50 estados norte-americanos. Durante o jantar com Trudeau, o presidente-eleito dos EUA disse em tom de ironia que se o Canadá não tiver capacidade de assumir as tarifas de 25% que os norte-americanos imporão sobre as suas exportações, "então deverá ser absorvido pelos Estados Unidos."

Esses tons de ameaças, próprios de uma personalidade truculenta, de postura imperial, têm saído da boca de Donald Trump com enorme frequência, e não atingem apenas o vizinho Canadá. Têm se tornado costumeiros quando se trata da China, de países da Ásia e da quase totalidade das nações latino-americanas. Ainda esta semana, Trump voltou a ameaçar o Brasil e a Índia com elevadas tarifas sobre suas exportações e não admite que países de qualquer continente  façam suas negociações comerciais se não for através do dólar, a penosa moeda norte-americana que simboliza uma espécie de escravidão dos tempos modernos. Fez referências diretas ao Brasil: "É uma beleza, eles cobram o que querem. Se você perguntar a algumas empresas, elas dizem que o Brasil está entre os mais difíceis do mundo."

Na entrevista coletiva que deu esta semana, a primeira após sua vitória, Donald Trump pôs para fora todo seu afã protecionista, revelando os passos de sua atuação à frente do governo a partir de janeiro, todos voltados para dar prioridade plena à atividade doméstica dos EUA, como se não tivesse qualquer necessidade de boas relações com o resto do mundo. Ele quer limitar ao máximo ou até mesmo eliminar a importação de produtos, incentivando atividades locais da indústria, comércio e serviços, com isso aplicando tarifas tributárias sobre os países que tradicionalmente exportam para eles, de modo a tornar inviáveis as negociações.

As ameaças aos países que integram o BRICs, formando o crescente bloco de países emergentes com forte presença no mundo, são muito mais graves. Ele já revelou que quer taxar em 100% as importações vindas desses países que substituírem o dólar em transações comerciais, pois não aceita que a hegemonia da moeda norte-americana seja afetada em qualquer circunstância. Trump não admite perder a dominação que Estados Unidos exercem sobre o resto do mundo.

E a moeda é o símbolo maior dessa dominação. A perda do poder do dólar implica uma perda de poder político sobre o planeta, levando a perder sua capacidade histórica de maior potência financeira, econômica e política, mas sobretudo potência militar, pois os norte-americanos se alimentam e enriquecem bastante com o fornecimento de armas e munições que sustentam as guerras e conflitos armados pelo mundo afora.

Donald Trump sabe muito bem que a substituição do dólar nas relações comerciais começa a ser debatida abertamente na cúpula do BRICS, um exercício que ganhou corpo no evento deste ano em Kazan, na Rússia. O bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes, já não esconde o desejo de realizar transações em moedas locais dos Estados envolvidos, o que parece ser uma lógica necessária ao equilíbrio no mundo. 

E nesse novo contexto de relações bilaterais, a China tem avançado de maneira vigorosa para tornar-se um aliado muito forte, contrapondo-se ao espírito imperialista que domina os Estados Unidos, realimentado agora pela truculência de Donald Trump.

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