José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Brasileiros começam a entender necessidade de cuidar da saúde mental

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking mundial de pessoas ansiosas, com 9,3% da população afetada

A pandemia da Covid-19, com seus mais de 700 mil brasileiros mortos, trouxe, além dessas milhares de vidas interrompidas, muitos danos irreparáveis e consequências lastimáveis, a exemplo do adoecimento mental que atingiu e segue atingindo outras tantas milhares de pessoas. 

Contudo, para fazer valer o conceito de que toda moeda tem dois lados, foi essa mesma pandemia a responsável por despertar na população o entendimento e a consciência sobre a existência das doenças mentais e da necessidade de tratá-las e de preveni-las.

A situação sobre o adoecimento mental está de tal modo disseminada na população, que uma pesquisa recente conduzida pela ONG Cause, em parceria com o Instituto de Pesquisa Ideia e PiniOn, atesta que o termo "ansiedade" foi escolhida por 22% dos entrevistados como a palavra do ano no Brasil em 2024.

Sua escolha ficou à frente, no consciente coletivo, de outras expressões da moda, bastante difundidas na mídia e redes sociais, como "inteligência artificial", que recebeu 20% das menções e "extremismo", outra palavra/ação muito em prática nos últimos tempos, que alcançou apenas 4%. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking mundial de pessoas ansiosas, com 9,3% da população afetada, um resultado de pesquisa que reflete uma realidade alarmante. Um relatório internacional mostra que mais de um terço dos brasileiros está “angustiado”; os jovens com menos de 35 anos são os mais afetados.

O processo para se chegar a essa pesquisa Cause foi todo elaborado de maneira científica por especialistas em comunicação e ciências sociais, que selecionaram palavras que pudessem expressar, na prática, os principais desafios e inquietudes da população na dinâmica de suas vidas em sociedade. As palavras, então, foram postos à avaliação por meio de pesquisa de opinião, com os resultados surpreendendo quanto ao termo "ansiedade".

O Brasil, que durante todo processo mais grave da pandemia teve à frente de seu Governo, dirigentes negacionistas, que desacreditavam publicamente as vacinas preventivas contra a Covid, e receitavam remédios cientificamente reprovados, foi afetado de forma significativa, com altas taxas de infecção, mortalidade e abalo econômico. 

O impacto prolongado da pandemia pode ter contribuído para o quadro de estresse crônico e ansiedade, comprometendo a saúde mental da população. As consequências do negacionismo do governo passado continuam presentes e não se sabe se poderão acabar.

Esse achado em relação à preocupação com adoecimento mental registrado no Brasil tem relação e semelhança com o que tem sido verificado no mundo inteiro, onde as pessoas se deparam com uma necessidade urgente de se adaptarem a novas realidades, rearrumando e reinventado suas próprias dinâmicas, diante dos danos trazidos pela Covid, e em face de outras graves pressões que chegam todo dia, carregadas pelas ameaças ambientais, tragédias climáticas, temores e apreensões sobre inteligência artificial, presença permanente de modos de agir intolerantes, homofóbicos, de propagação rotineira de ódio, o que, em plano futuro, só fazem aumentar incertezas. Tudo isso afetando a mente.

Depressão, insegurança,  transtorno de ansiedade, são realidades que estudantes de universidades de Portugal, por exemplo, têm manifestado sentir em pesquisas feitas pela Associação de Saúde Mental de Hong Kong e Macau e da Faculdade de Medicina da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, atestando, como igualmente se passa no Brasil, que a Covid-19 aumentou de maneira exponencial esse adoecimento, mas teve o valor de fazer  despertar para problemas das doenças da mente.

Nas pesquisas realizadas em ambiente universitário de Portugal, constante-se que entre os residentes de Medicina a taxa de risco de perturbações mentais, de depressão e ansiedade, chegam até 27%. Os jovens têm o risco mais elevado do que outros grupos etários  adultos.

Os analistas dessas pesquisas fazem uma severa advertência: pessoas que não despertam e não se tratam de doenças da mente, habituando-se a uma situação tão negativa, não desenvolvem mecanismos de resiliência. E isso afetará não apenas a vida de quem está adoecido e de seus familiares, mas compromete em cadeia o próprio desenvolvimento dos lugares, dos países em que residem, pelo afastamento do trabalho de pessoas que poderiam oferecer grande contribuição.

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