José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Brasileiros em Gaza, o viés eleitoral e o fracasso da ONU

Fechamento da Fronteira com o Egito mantém brasileiros na Faixa de Gaza.

O país inteiro acompanha com interesse e apreensão o enorme esforço que o governo e a diplomacia do Brasil têm feito para libertar 34 brasileiros confinados na faixa de Gaza, todos sujeitos à violência da guerra que há mais de um mês trava-se entre Israel e a Palestina. Nesta sexta-feira, depois de muitas idas e vindas, com os brasileiros ficando fora de todas as listas preparadas entre Israel e o Egito, abriu-se a esperança de que essas pessoas sob ameaça pudessem voltar em paz para suas casas no Brasil, diante da informação dos governantes israelenses de que os brasileiros estariam, finalmente, na lista autorizada a cruzar a fronteira com o Egito. 

O governo brasileiro vem dando todo o suporte de apoio a essas pessoas, a maioria delas formada por crianças, não apenas providenciando o transporte de ônibus até a cidade do Cairo, capital do Egito, tão logo a fronteira seja cruzada, como bancando alojamentos para que todos fiquem acomodados com o mínimo de segurança e conforto, e colocando avião da Força Aérea para o transporte de todos, já em liberdade, para Brasília. 

Essa é uma das missões mais sensíveis que a diplomacia do Brasil enfrenta ao longo da história, pois ficou bastante visível que Israel criou embaraços para que os brasileiros entrassem a na lista que autoriza a saída de Gaza para o Egito. Foram seguidas relações, muitas delas com números superiores a 600 pessoas, nas quais foram privilegiadas cidadãos norte-americanos, canadenses e de vários países da Europa. 

Embora os nossos agentes diplomáticos, assim também governantes brasileiros, tenham sido no decorrer desse longo mês bastante cautelosos quanto às razões que teriam motivado Israel a deixar fora os brasileiros em todas suas listas anteriores, apesar de reiterados apelos dirigidos à ONU, a Israel, ao Egito e até mesmo aos Estados Unidos, é notório que parece haver nessa postura israelense um cunho de retaliação. E por que retaliação? 

Pura e simplesmente porque o Brasil, pela conduta firme de seus governantes, não se declarou um aliado de Israel nessa guerra contra a Palestina ( que Israel e Estados Unidos preferem simplesmente rotular de guerra contra o Hamas), por uma razão simples e lógica: ser contra qualquer tipo de guerra , e sempre estar a favor da paz mundial. 

É exatamente esse sentimento e esse desejo de paz que têm movido o governo brasileiro a fazer reiterados apelos para que a paz se estabeleça, não apenas nesse episódio entre Israel e a Palestina, mas igualmente em relação ao outro grande conflito, entre a Ucrânia e a Rússia, com repetidas manifestações do Presidente Lula em todos os fóruns governamentais e institucionais de que participa. 

Essa postura em favor da paz, pelo fim das guerras, pela interrupção das mortes , parece não agradar grandes potências mundiais, que têm nesses conflitos a oportunidade de avantajar os lucros da indústria armamentista, fazendo crescer, de maneira absurda, literalmente espantosa, a venda de armas, munições, tanques, satélites e mísseis, com a mesma simplicidade com que se venderia alimentos para a matar a fome por que milhões e milhões de seres humanos passam no mundo a cada dia. 

Israel, cujo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, em campanha para se manter no poder, é um legítimo ícone da extrema direita mundial, que aparentemente se fortaleceu nessa guerra em razão do apoio recebido, de maneira escancarada, pelo atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, cuja reeleição anda bastante ameaçada. Daí, um conflito que se iniciou com o ataque do Hamas, a Israel em 7 de outubro, considerado um ato terrorista. Poderia ter terminado, não fossem os interesses eleitorais que essa guerra motiva.  

O viés eleitoral de Israel e Estados Unidos, portanto, sustenta essa guerra infame, que já matou mais de 10 mil palestinos (a grande maioria mulheres, crianças e idosos), mas quem lucra com esse espantoso conflito são os fabricantes de armas dos Estados Unidos, que abastecem as forças de defesa de Israel. Não é sem razão a declaração do ministro da Segurança Nacional de Israel, em resposta aos pedidos mundiais de que ajuda humanitária chegue urgente à Faixa de Gaza:

“A única coisa que precisa entrar em Gaza são centenas de toneladas de explosivos da nossa Força Aérea, e nem um grama de ajuda humanitária.” 

E isso ocorre na cara da ONU, uma organização mundial montada para preservar a paz, que hoje é apenas um destroço das guerras que ela foi incapaz de evitar. É isso que o mundo está entregando à humanidade. Simplesmente trágico.

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