Num momento em que o Nordeste brasileiro parece mesmo reconhecer-se envolvido num vigoroso processo de descoberta econômica, evoluindo para transformar-se no mais importante polo nacional de geração de energias limpas, renováveis, um outro aspecto econômico ganha força a partir dos recursos naturais que a região ostenta, e que ficaram por longas décadas esquecidas e negligenciados.
Refiro-me aqui às imensas possibilidades nordestinas no terreno da bioeconomia, diante de formidáveis ofertas de bioativos e bioinsumos que estão aí, disponíveis em abundância nas nossas caatingas, cerrado e mata atlântica, que podem ser extraídos (e em muitos casos já estão sendo) de forma sustentável em praticamente todo o território nordestino, gerando renda, industrialização, desenvolvimento socioeconômico e proteção ambiental. O que o Nordeste possui de riqueza na sua flora é algo extraordinário, capaz de movimentar toda uma cadeia na produção de medicamentos, suplementos funcionais e alimentares, defensivos agrícolas, e toda uma linha no segmento de cosméticos e produtos de beleza.
Bioeconomia
Esta semana, em Recife, dirigentes da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) se uniram a duas instituições universitárias importantes, a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade do Vale do São Francisco, para lançar a Rede Impacta Bioeconomia, com o objetivo de investir fortemente em pesquisa, inovação, buscando exatamente os bioativos e bioinsumos do Nordeste que possam ser aplicados na área de saúde.
A iniciativa inédita prevê a produção de medicamentos a partir de pesquisa e inovação, centrada nos agricultores familiares agroecológicos da região, da fauna e da flora dos biomas existentes na caatinga, mata atlântica e também dos cerrados. O convênio da Sudene com essas duas instituições públicas de ensino superior objetiva criar as condições científicas e técnicas para apoiar as produções da bioeconomia, identificando produtos e cadeias de valor para o aumento da produção, beneficiamentos variados, sobretudo nesse ambiente recém-criado pelo Governo Lula, de nova política industrial brasileira.
Cooperação científica
A Sudene, a partir da iniciativa desta semana, pretende ampliar e fortalecer as redes de cooperação científica entre as universidades públicas existentes em cada Estado da região, possibilitando a entrada temática de geração industrial, associada à natureza e aos agricultores familiares, com foco em práticas e em insumos que sejam peculiaridades de cada unidade federativa, mas que se somem num conjunto de ação econômica que vise avanços na produção, inserção sustentável e ampliação de mercados.
Profissionais das universidades, que atuam nas pesquisas e no acompanhamento industrial de produção, atestam que as demandas por novos produtos no mercado de biomateriais cresce vertiginosamente a cada ano e demandam grande interesse pelas plantas do semiárido nordestino, que contém propriedades aromáticas, antimicrobianas, antitumorais, mitogênicas, antiparasitárias e antivenenos, que podem revolucionar diversas áreas da indústria em todo o mundo.
Esse nicho de Bioeconomia, que é um modelo de produção baseado no uso de recursos biológicos, oferece soluções para a sustentabilidade dos sistemas de produção, contribuindo de maneira incrível na substituição de recursos fósseis, poluentes e não renováveis, tudo de que o mundo quer se livrar. O Brasil avançou, certamente, muito pouco nesse caminho da Bioeconomia, por ser um segmento que requer um prévio saber científico, algo de que o país sempre se sentiu carente, especialmente no Nordeste. Hoje, porém, parece haver uma imenso despertar e as universidades públicas, associadas a outras instituições e a investidores conscientes do mundo empresarial, estão dispostos a ampliar esses caminhos e a vencer esse atraso. O que é uma bela notícia.