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Caso Trump faz pensar sobre a violência armada que sempre move os EUA

O episódio precisa ser visto como algo muito mais abrangente, que resulta de uma cultura histórica de violência dominante na política norte-americana

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Esse atentado à vida do ex-presidente e candidato à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, ocorrido no último sábado, quando participava de um comício na Pensilvânia, não pode e nem deve ser tratado apenas como uma tentativa de assassinato, que se resolva na esfera policial. Precisa ser visto como algo muito mais abrangente, que resulta de uma cultura histórica de violência dominante na política norte-americana. Não é de hoje que as disputas políticas nos Estados Unidos têm sido movidas à bala.

Trump não é o primeiro influente político a sofrer tentativa de morte. Antes dele, quatro Presidentes da República, em pleno exercício de seus mandatos, foram assassinados, vitimados por disputas políticas ou pelo desejo ensandecido de fanáticos, numa nação fortemente armada, que estimula o acesso de armas e munições às suas populações e que é, de fato, o país que mais fabrica e exporta armas em todo o mundo.

Foi por esse ódio armado que Abraham Lincoln, presidente republicano no exercício de seu cargo, morreu no dia seguinte a ter sido baleado (14 de abril de 1865), quando assistia e uma peça de teatro, em Whashington, atingido na cabeça por balas disparadas John Wlkes Booth, um fanático que defendia a escravidão e, assim, se vingava do Presidente que comandara os federados à vitória na Guerra de Secessão e à libertação dos escravos.

Passados apenas 16 anos, em 2 de setembro de 1881, o também republicano James Garfield, no exercício da Presidência, foi baleado durante um ataque na Estação Ferroviária de Baltimore e Potomac, morrendo alguns meses depois em consequência dos ferimentos. Seu assassino foi Charles Guiteau, que apoiava a facção de oposição a Garfield dentro do partido republicano;

Em setembro de 1901, em Buffalo, NY, o presidente republicano William McKlinley, no exercício do cargo, foi assassinado quando participava de uma Exposição Pan-Americana. Seu assassino, F. Czolgosz, alegou ideologia anarquista e antagonismo de classe como motivação para o crime.

Em novembro de 1963, John F. Kennedy, democrata no exercício do cargo, considerado até hoje como o mais popular dos dirigentes norte-americanos, foi morto a tiros quando participava de uma manifestação pública em Dallas, Texas. Foi atingido quando desfilava em carro aberto, ao lado da primeira-dama Jackie. O atirador, Lee Oswald, um ex-fuzileiro naval, foi morto na prisão antes de ser julgado.

Outro episódio chocante e tão controverso quanto o de J.F.Kennedy, foi o que tirou a vida de seu irmão, Robert F. Kennedy, que no momento era o candidato à Presidência dos EUA pelo Partido Democrata, assassinado dentro de um hotel, em Los Angeles, Califórnia, logo após fazer seu discurso durante as primárias de seu partido.

Outros atentados, que não resultaram em morte, tiveram como alvos o presidente democrata-eleito Andrew Jackson, em 30 de janeiro de 1835, em Washington; Theodore Roosevelt, progressista, que era candidato a Presidente, ferido à bala em 14 de outubro de 1914; Franklin D. Roosevelt, democrata, presidente eleito, vítima de disparos que feriram o prefeito de Chicago. Anton Cermak, em 15 de fevereiro de 1933, em Miami; Harry S. Truman, democrata, presidente em exercício, teve vários tiros disparados contra sua residência, a Blair House; Ainda foram vítimas de atentados: os presidentes Gerald Ford, Ronald Reagan, Bill Clinton e George Bush.

Fora do campo político, mas certamente por consequência dessa cultura de violência que marca a história e fomenta o impulso que governantes e dirigentes partidários dão ao armamentismo nos Estados Unidos, o número dos assassinatos ligados à violência armada da população disparou três vezes mais do que qualquer outro período, aumentando espantosamente o número de vítimas decorrentes do recrudescimento dos extremismos ideológicos.

Somente em 2023 os Estados Unidos registraram 665 tiroteios em massa, alguns deles deixando 16 mortos, como o registrado em Maine, e há casos em que os mortos chegaram a 58 pessoas, como aquele ocorrido num festival de música country em Las Vegas, em 2017. Pelo menos 203 pessoas morreram resultantes destes ataques.

Estudos criteriosos desenvolvidos por grandes centros acadêmicos têm mostrado que “quanto mais guerras, mais negócios...”. Isso reforça a constatação de que os EUA, nos últimos cinco anos, tenham consolidado o seu complexo industrial-militar. Suas vendas de armamentos pesados cresceram 17% e já chegam a 107 países, representando 42% de toda a exportação global de armas. Isso pode justificar a necessidade de alimentar guerras como Ucrânia X Rússia, Israel X Palestina, como o próprio Biden tem feito sem esmorecimento.

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