José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Como a medida de Milei de barrar brasileiros na Argentina afetará o Brasil

A Argentina sempre se constituiu foco especial de atração de parte de nossos jovens com anseio por curso superior.

Quem imaginou que as medidas de Javier Milei, com possibilidades de atingir o Brasil, ficariam apenas no campo da economia, está tendo agora surpresa de que os ímpetos do presidente argentino podem ser muito mais amplos, pois começa a ganhar corpo a ideia que pôs na cabeça de barrar a presença de estudantes brasileiros nas universidades públicas do país vizinho.

A Argentina sempre se constituiu foco especial de atração de parte de nossos jovens com anseio por curso superior, pois o país vizinho possui várias universidades públicas consideradas mundialmente de boa qualidade, o que tem motivado o interesse dos mais de 10 mil brasileiros que frequentam essas instituições. Além da proximidade territorial, o atrativo por uma universidade pública, gratuita, de bom nível, forma uma receita agradável aos brasileiros que estão por lá.

Outra atração é gerada pelo fato de que o sistema de ensino superior da Argentina é diferente do Brasil, pois uma lei que data de 2015 aboliu o vestibular, permitindo o acesso à universidade por meio de um ciclo básico no primeiro ano, e mesmo nas faculdades particulares as mensalidades para os brasileiros têm valores mais baixos. Desde que assumiu, em dezembro, o presidente Milei propõe uma taxa mais elevada para os brasileiros que usufruem da gratuidade nas universidades públicas.

Agora, porém, ele avançou nesse seu incômodo de ter esses milhares de brasileiros por lá, e já começa a ter efeito prático a medida de barrar a entrada de jovens que estão chegando, sob a alegação de que eles são, de fato, “falsos turistas”. Essa é uma medida que se avolumou significativamente dos últimos dois meses, e é vista como um passo decisivo para mandar embora os que já estão frequentando a universidade.

A relação do Brasil com a Argentina, e vice-versa, não diz respeito apenas a estudantes do ensino superior. Já existe uma tradição de intercâmbio também no campo do aperfeiçoamento do pessoal do ensino superior, graças, sobretudo, a um programa de relações bilaterais criado no ano de 1998, que ampliou e fortaleceu programa de apoio a projetos conjuntos de ensino e pesquisa entre instituições de ensino superior dos dois países. Isso tem permitido que centenas de professores brasileiros frequentem universidades públicas argentinas para ampliação de conhecimentos. Isso se dá, também, no sentido inverso.

Essa boa relação entre Brasil e Argentina, necessária à formação de uma elite universitária alimentada na formação de recursos humanos em nível de pós-graduação e aperfeiçoamento de professores, a troca de informações científicas, bem como a produção conjunta de documentação que tem ajudada nas publicações acadêmicas, por fim, a valorização intelectual extremamente necessária ao desenvolvimento dos dois países nos mais variados campos do conhecimento, pode estar acabando com as medidas discriminatórias do presidente argentino.

Para que se tenha uma ideia do prejuízo que o Brasil poderá ter se as medidas de retaliação de Javier Milei se concretizarem na direção de estudantes universitários e de professores em intercâmbio, entre as 131 universidades existentes e credenciadas na Argentina, 66 são públicas e gratuitas. E muitas delas são reconhecidamente de boa qualidade. A Universidade de Buenos Aires, por exemplo, está entre as 100 melhores do mundo, conforme atesta o QS World University Ranking de 2021.

A Argentina detém instituições centenárias de ensino superior, como a Universidade de Córdoba, fundada em 1613, a mais antiga do país, com mais de 400 anos de existência e reconhecimento. Não podemos ainda avaliar a dimensão do que tudo isso significa. Mas, pensando bem, o prejuízo para o Brasil, para estudantes e professores, e para a absorção de conhecimento necessário ao melhor futuro dos dois países é imenso.

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