José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Economia aquecida começa a mostrar carência de mão de obra no Brasil

Essa escassez de mão-de-obra, embora ainda setorizada, está crescendo e pode alcançar outras áreas da economia nacional

O reaquecimento da economia está fazendo o Brasil passar por uma dificuldade que há pelo menos cinco anos não se imaginaria: está faltando trabalhador para um grande número de atividades profissionais em setores como o comércio, vários segmentos da área de serviços, em quase toda a construção civil e em pontos específicos das atividades industriais.

Essa escassez de mão de obra, embora ainda setorizada, está crescendo e pode alcançar outras áreas da economia nacional, podendo refletir futuramente em elevação de preços aos consumidores finais, como decorrência do aumento de custos nos setores produtivos. Isso serve, evidentemente, para ancorar os discursos daqueles que defendem a constante elevação de juros como arma para impedir o aumento da inflação.

Um estudo realizado pelo Banco Daycoval (instituição financeira de origem síria, fundado no Brasil em 1968, dedicada ao financiamento de empresas) extraído a partir de observação sobre a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do IBGE, mostra que metade dos setores monitorados está com uma demanda por trabalhadores aquecida, e que 20% deles já apresentam escassez de mão de obra há pelo menos seis meses.

Setores como comércio e serviços, e neste caso, especificamente, serviços de alojamento e alimentação, conforme indicam os analistas, parecem ter absorvido o excesso de mão-de-obra e já faltam trabalhadores disponíveis. O outro detalhe relacionado aos trabalhadores, é que tem ocorrido um sistemático e duradouro crescimento da massa salarial e existe uma tendência de que mais segmentos da economia brasileira possam impulsionar uma elevação maior por demanda por trabalhadores, agravando a escassez de mão de obra, sobretudo aquela mais especializada.

Nesse quadro, ganha força o falatório dos que pregam manter juros elevados como trava para impedir que uma elevação de preços, a partir da escassez de trabalhadores e maior elevação de seus rendimentos, cause um aumento significativo de preços finais de produtos e serviços, contribuindo, assim, para forçar o retorno de inflação mais alta.

Isso chama bastante atenção num momento em que o COPOM, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, decidiu, já pela segunda reunião consecutiva, interromper o ritmo de queda dos juros Selic, que vinham baixando nos níveis de 0,50% por 6 sessões seguidas, uma prática que foi zerada na última dessas reuniões, realizada em 14 e 15 de junho.

Há dois fatores reais que têm causado todas essas mudanças vividas hoje no campo da economia. O primeiro deles, é o reaquecimento em si dos setores produtivos nacionais, retomando um ciclo de crescimento que há mais de seis anos havia sido interrompido e agravado. O segundo ponto, que é consequência do próprio reaquecimento econômico, é a queda do desemprego, que já esteve nas alturas e que começou a reduzir a partir de 2023. 

 Só nesse primeiro ano do terceiro Governo Lula, a taxa de desempregados caiu 17,6%, chegando a 8,5 milhões de pessoas, enquanto a população ocupada voltou a bater seu próprio recorde, atingindo 100.7 milhões de pessoas em 2023, resultado 3,8% superior ao de 2022.

Em 2024 o desemprego continuou em declínio, apresentando no primeiro trimestre uma queda de 7,9%. Os índices de diminuição do desemprego no Brasil de agora estão bem próximos dos que foram alcançados em 2014, de 7%. Nessa série histórica de medição da empregabilidade brasileira feita pelo IBGE, que foi inaugurada em 2012, registra-se que em 2021, sob Bolsonaro, a taxa de desempregados no país chegou a 14%.

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