O Pantanal está pegando fogo, em consequência dos mais volumosos focos de incêndios de toda a história, 90% deles provocados pela ação humana, quase sempre pela atitude de fazendeiros de tocar as queimadas para aumentar as suas áreas de plantio e criação de gado. Junto a esse vexame que se repete ano a ano, tem-se outra constatação vexaminosa. É a de que os organismos oficiais de combate aos incêndios não estão devidamente aparelhados para dar conta do recado.
Nesses episódios de agora foi necessária a ação pessoal do Presidente da República, chamando a si a responsabilidade de liberar recursos extras para o combate e mandar recrutar equipamentos ( como aeronaves) existentes em outras esferas da administração federal, pois os órgãos diretamente responsáveis, no caso Instituto Chico Mendes e o Ibama, não estão tecnicamente aparelhados para cumprir a tarefa.
Para toda a operação de combate aos incêndios do Pantanal, que se alastram sem tréguas e vão aumentando de tamanho a cada instante, ICMBio e Ibama contam apenas com seis aeronaves, que já estão em operação. Sem considerar a capacidade de cada um desses aviões, aqui vale lembrar uma contradição ao menos curiosa: a Esquadrilha da Fumaça chega a usar 12 aeronaves próprias em suas atraentes apresentações que faz pelo Brasil afora e até em outras partes do mundo, demonstrando incríveis peripécias no ar.
Aqui não vai nenhuma censura à Esquadrilha da Fumaça, uma instituição criada em 1952, que honra bastante as Forças Armadas e eleva o nome do Brasil. O que chamou a atenção é o fato de que numa só apresentação, como nas comemorações de 7 de Setembro, esse braço da Aeronáutica chega a utilizar 12 aeronaves próprias num único evento. É que isso representa o dobro de toda a força operacional aérea que, juntos, ICMBio e o Ibama, que têm atribuições específicas e obrigatórias de combate, possuem em suas estruturas.
Isso prova que nós só estamos cuidando da casa depois que ela é arrombada. Não tem havido no Brasil os cuidados necessários para a prevenção, nem estamos dando aos organismos destinados ao combate de tragédias as condições mínimas de uma atuação eficiente. Agora mesmo, nesse episódio que já dura alguns dias, o Presidente Lula teve que ordenar que aeronaves pertencentes a outros órgãos, como o Ministério da Defesa, sejam recrutadas para auxiliar os cerca de 300 brigadistas que estão trabalhando, na esperança de que os incêndios sejam contidos.
Está sendo necessária, agora, que o Ciman (Centro Integrado Multiagências de Coordenação Nacional) se mantenha em reuniões permanentes, para integrar e intensificar as ações, com o poder atuar junto a outros organismos fora da competência exclusiva de ICMBio e Ibama. É assim que está sendo possível contar com a mobilização de mais 14 aeronaves pertencentes ao Ministério da Defesa.
Mas está claro que os órgãos específicos nas questões ambientais necessitam urgentemente (pois isso é uma carência histórica, que se arrasta há anos) de reaparelhamento, modernização e de adequação às necessidades crescentes de intervenções. Vivemos num momento crucial em que o mundo amarga um avanço desproporcional dos desequilíbrios ambientais, fatores que contribuem diretamente para a incidência de desastres irreparáveis, como esses provocados por enchentes, como vimos recentemente no Rio Grande do Sul, ou por queimadas destruidoras que estão transformando nossas reservas naturais em cinzas.