José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Fracasso do mundo faz Davos apelar para “Reconstrução da Confiança”

A concentração de riqueza cresce vergonhosamente e a miséria aumenta de maneira desalentadora, como mostra o relatório da OXFAM

O Fórum Econômico Mundial, instalado em Davos (Suíça) nesta segunda-feira (15), escolheu como tema dessa sua etapa de debates, o apelo “Reconstruindo a Confiança”. Parece evidente que não se trata apenas de um jogo de palavras, mas da constatação de que os esforços de todas as grandes instituições mundiais para fazer frear as desgraças e permitir avançar conquistas significativas para a humanidade têm de algum modo fracassado. Há, intrinsecamente, um reconhecimento de que as boas intenções não têm alcançado os objetivos desejados. 

Desde a ONU, passando por UNESCO, FAO, OMS, OMC, Otan, FMI, Banco Mundial, OIT, OCDE, e lá se vão tantas outras instituições focadas no equilíbrio mundial, todas têm fracassado nas suas reiteradas recomendações de programas e atitudes para uma governança mundial reralmente focada na cooperação, na busca do bem-estar dos povos. 

Fracasso do mundo faz Davos apelar para "Reconstrução da Confiança" (Foto: WER)

Exemplo bastante evidente da pouca eficácia que organismos mundiais têm conseguido para o progresso da humanidade, a despeito de suas notáveis boas intenções, tem sido o papel da Organização das Nações Unidas (ONU), quando tratamos das mais recentes guerras entre nações, especificamente nos conflitos entre Rússia X Ucrânia, Israel X Palestina, Arerbaijão X Armênia. Em todos esses confrontos, contrariamente aos esforços da ONU, têm prevalecido os intereses econômicos e de domínio territorial de seus protagonistas, estimulados por grandes potências, como Estados Unidos, Reino Unido e Rússia. 

Vê-se com bastante clareza que a ONU está tristemente fragilizada, amargando agora os erros cometidos ao longo dos tempos, por ter-se rendido a interesses econômicos muito evidentes impostos pelas grandes potências, muito mais interessadas em lucrar com a produção e venda de armamentos militares do que em ver a paz restabelecida no mundo. 

Além da ONU, as demais instituições mundiais têm alcançado pouco êxito além das suas previsões e recomendações, transmitidas a países, para que concentrem programas e recursos financeiros, e estabeleçam colaboração mútua, para fazer diminuir a desigualdade econômica e social que avança mundo afora. Ao contrário, tais desigualdades têm crescido de forma espantosa, assim como tem evoluído desordenadamente a violência e  o desequílbrio ecológico. A devastação de ambientes naturais em todas as partes do planeta representa uma ameaça permanente à vida de pessoas e animais e tem trazido consquências danosas ao aumento da miséria, diante da destruição e diminuição de áreas para a produção alimentar. 

Apelos oficiais, relatórios, documentos,  têm tido quase nenhum efeito. Ao contrário, a concentração de riqueza cresce vergonhosamente e a miséria aumenta de maneira desalentadora, como mostra o relatório da OXFAM agora mesmo liberado. E há outra grande constatação para fazer aumentar o desânimo: todos os estudos mostram que as populações urbanas estão crecendo no mundo todo, trazendo a desconfiança de que passem de 75% em 2050. Trata-se aqui de  aumento de habitantes urbanos que traz consigo moradias precárias (ou ausêncioa de moradia), demanda por escola e saúde, lazer, emprego e renda, tudo fazendo degradar as condições de vida nas cidades. 

Vêm daí  os conhecidos “objetivos do milênio”, da ONU, incorporados por outros organismos, e que agora voltam aos debates em Davos, no sentido de que as governanças mundiais se esforcem para implantar “cidades sustentáveis”, capazes de acolher com segurança, conforto e dignidade, as imensas legiões que hoje ocupam e amanhã ocuparão as áreas urbanas. Há em tudo uma preocupação centrada na qualidade de vida, algo muito longe de ser alcançada pelas condições que agora vêm sendo expostas.  

Mas, como até Davos já reconheceu o fracasso de quase tudo que pregou até hoje, vamos ter fé e esperar que o mundo desperte, que os detentores de poderes, nas suas mais variadas formas, se abram para a tarefa da reconstrução, e possamos, assim, devolver “confiança” a todas essas bem intencionadas organizações mundiais.

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