A ocorrência de eventos climáticos devastadores, aumentados de tamanho e espalhados horizontalmente pelo país nas últimas 72 horas, levou nesta quarta-feira autoridades federais, setores empresariais e organizações da sociedade civil, a uma movimentação pouco vista em Brasília. Uma movimentação oposta ao que se vinha observando antes, geradora de críticas, em face de uma certa apatia e imobilidade diante das exigências que o momento impõe.
Foram várias as manifestações e tentativas de se dar um sentido de coordenação unificada e cooperada a essa questão drástica de incêndios destruidores, que cobrem de fumaça cerca de 60% do território nacional e atingem todos os nossos biomas.
Passa a dominar, ao que parece, a compreensão de que esses eventos, fugindo de controle, podem trazer, além dos visíveis prejuízos ambientais e econômicos, uma ameaça muito grande ao bem-estar de todas as pessoas e acarretem males maiores ainda, como o aumento dos preços de alimentos.
O que se visualiza, a partir desse esforço, é que o combate aos focos de incêndios, a partir do seus nascedouros, interrompendo essa deplorável escalada de devastação, é uma tarefa que requer união nacional.
Vê-se necessário envolver, de maneira clara e determinada, não apenas a atitude saneadora do governo federal, por todos os seus órgãos, mas a colaboração dos entes federados, do empresariado do setor agropecuário, dos organismos de ciência, pesquisa e inteligência, das Forças Armadas no seu conjunto, no entendimento de que apenas Ministério do Meio Ambiente, ICMBio e Ibama, pouca capacidade têm para dar fim a essa gigantesca tarefa.
A movimentação de hoje foi precedida de uma atitude do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, que ao reunir um grupo afeto ao problema, numa audiência no STF, cobrou do governo federal ampliar os mecanismos de combate aos incêndios, dando até um prazo para que ocorresse, em cinco dias, uma mobilização capaz de atuar com eficiência em regiões emblemáticas, como Pantanal e Amazônia.
Nesse novo momento, coube à ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, chamar a atenção do próprio Supremo para a necessidade essencial de que o sistema de justiça possa frear a regularização de terras devastadas ilegalmente, uma realidade gritante que atinge sobretudo a região amazônica, o Pantanal e os Cerrados, afeta incontáveis territórios indígenas e acelera a crise ambiental no Brasil.
É nas terras desmatadas, muitas vezes, que se iniciam, de forma criminosa, os incêndios, preparando-se as terras, desse modo, para servir ao crime organizado. A situação é de tamanha gravidade, no contexto dessa fala da ministra Marina, que, somente no Estado do Mato Grosso, 41 terras indígenas foram devastadas.
As ideias trazidas à luz no dia de hoje não pararam por aí. O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, anunciou a convocação de mais 150 bombeiros militares da Força Nacional para atuarem no combate aos incêndios florestais no país, um contingente que será direcionado à região da Amazônia Legal.
O Presidente Lula sugeriu usar o serviço militar obrigatório do Exército para permitir que cerca de 70 mil jovens possam ser treinados para missões específicas de defesa civil, criando um quadro permanente bastante ampliado.
O Ministro das Minas e Energia declarou que o governo estuda a volta do horário de verão, em decorrência da crise hídrica que está chegando com esses desastres ambientais trazidos pelas queimadas, uma ideia que acolheu o aval do vice-presidente Geraldo Alckmin, que considerou ser uma boa alternativa.