A Revista norte-americana Forbes, dedicada a economia e negócios, divulgou nesta semana, como faz anualmente, a lista das maiores fortunas do mundo. Particularizando, trouxe, também como é de costume, a relação dos bilionários brasileiros, onde dormem sossegados aqueles que têm riqueza superior a US$1 bilhão, ou pouco mais de 5 bilhões de reais.
No tocante ao Brasil, 69 pessoas estão nessa seleta lista de ultra-milionários, alguns até com fortuna bem aproximada de alguns dos mais ricos do planeta. É o caso, por exemplo, de Eduardo Saverin, que encabeça a lista nacional, que hoje tem apenas 42 anos de idade, ostentando uma fortuna de US$28 bilhões (algo em torno de R$156 bilhões), situando-se como a 60ª maior riqueza do mundo.
E aí vêm os demais bilionários brasileiros, fechando o top 10: Vicky Safra (US$ 20,6 bilhões), Jorge Paulo Lemann (US$ 16,4 bilhões), Marcel Herman Telles (US$ 10,9 bilhões), Carlos Alberto Sucupira (US$ 8,9 bilhões), Fernando Roberto Moreira Salles(US$ 7,6 bilhões), Pedro Moreira Salles(US$ 7,1 bilhões), André Esteves (US$ 6,6 bilhões), Alexandre Behring(US$ 6,3 bilhões) e Miguel Krigsner (US$ 5,7 bilhões). A soma da fortuna abarcada pelos 10 super bilionários brasileiros bate nos US$118 bilhões, correspondendo a mais de 550 bilhões de reais.
O que me chama a atenção nessa lista é que apenas um entre os 10 formou sua fortuna às custas do capital produtivo, de algum setor industrial, por exemplo. Só Miguel Krigsner alcançou fortuna bilionária originalmente no setor industrial, produzindo, portanto, bens de consumo, pois ele é o fundador de O Boticário, que se transformou na maior rede de franquias do Brasil, com mais de 3.700 pontos de venda em quase 1.800 cidades do país.
Os demais, todos eles sem exceção, têm origem em suas fortunas no setor bancário, no sistema financeiro, ou em segmento ligado a tecnologias da informação, em plataformas digitais, como é o caso de Eduardo Saverin, apontado como o brasileiro mais rico, que iniciou seu processo de enriquecimento ao criar, junto com Mark Zuckerberg, o Facebook, mais tarde transformado em Meta Platforms, controladora do próprio Facebook, Instagram e WhatsApp. Saverin, a propósito, teve um grande impulso financeiro em 2023, porque esse conjunto de plataformas apresentou robustos resultados no quarto trimestre do ano.
Jorge Paulo Lemann, apelidado de Rei da Cerveja, por ser hoje o maior fabricante dessa bebida no mundo, tem de fato toda sua origem e grande marca empresarial fundada em negócios bancários, cujo princípio foi o Banco Garantia, vendido ao Credit Suisse em 1989. Muitas vezes esteve mergulhado em bolhas financeiras e juntos com seus sócios Marcell Hermann Telles e Carlos Alberto Sicupira( também na lista dos 10 bilionários) tomaram conta das Lojas Americanas e levaram, conforme denunciam acionistas e credores, essa grande empresa à falência( hoje está em recuperação judicial), com rombo fiscal de fiscal de R$ 20 bilhões em seu balanço e dívidas superiores a R$ 40 bilhões.
A lista segue com os irmãos Roberto e Pedro Moreira Salles, também do mercado de capitais, André Esteves, fundador e dono do banco Pactual, Alexandre Behring, co-fundador e sócio-diretor do 3G Capital.
Por esses e outros perfis, dá para entender como é a elite empresarial brasileira, centrada no lucro e nas facilidades para obtenção de fortunas, muitas vezes valendo-se do exercício da especulação, com gigantesco afastamento da realidade do Brasil. Daí, acentuarem-se progressivamente as intoleráveis desigualdades sociais. Mais de 30 milhões de brasileiros estavam, em 2022, submetidos à fome. E ainda temos um Parlamento que luta para impedir a taxação das grandes fortunas. Uma vergonha.