Europa e Estados Unidos têm manifestado, de modo reiterado, preocupações com as questões ambientais no mundo, diante da constatação do aumento do efeito estufa provocado pela subida dos níveis de CO2 na atmosfera, que já é 50% superior ao dos tempos pré-industriais. Um atestado que carrega de fato enormes consequências, gerando um desequilíbrio ecológico que pode afetar drasticamente a humanidade.
Ocorre, porém, que tanto europeus quanto norte-americanos focam suas preocupações tão somente nas consequências desses padrões climáticos alterados, como a subida dos níveis do mar, efeitos sobre a hidrologia, ameaças aos ecossistemas, degradação dos solos, redução da oferta de águas, e outros efeitos, mas esquecem as causas que estão levando a esse estado dramático.
DÍVIDA HISTÓRICA
Foi necessário que o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, postado diante de uma multidão aos pés da Torre Eiffel, em Paris, dissesse com todas as letras: “Não foi o povo africano ou o povo latino-americano que poluiu o mundo. Quem poluiu o planeta nos últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e, por isso, têm que pagar a dívida histórica que têm para conosco.”
Lula se referia, com coragem e clareza, aos europeus e aos norte-americanos que, no afã de conquistas econômicas (muitas delas importantes, inovadoras e benéficas para a humanidade, outras nem tanto), nunca tiveram preocupação com as questões ambientais, permitindo a extinção indiscriminada de valiosos ecossistemas ao redor do planeta.
PRESIDENTE OVACIONADO
Lula, em alguns momentos, chegou a ser ovacionado pela multidão que participa do festival Power Our Planet, uma iniciativa pela causa ambiental, especialmente quando proclamou que sua meta de governo é zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até o ano 2030, e conclamou pessoas de todos os países do mundo e seus governantes a visitarem Belém do Pará, durante a COP-30, que será realizado ali no coração amazônico em 2025.
O presidente brasileiro ressaltou a importância de o mundo conhecer na realidade o que é a Amazônia, com seus povos indígenas, a majestosa biodiversidade e a matriz energética limpa do Norte e Nordeste do país, de maneira a partilhar com os brasileiros os compromissos de preservação das florestas e de seus ecossistemas. E voltou a cobrar a responsabilidade dos países ricos para que financiem os países em desenvolvimento que têm reservas florestais capazes de proporcionar o equilíbrio do planeta, pagando parte da dívida que carregam nas costas pelas ações destrutivas históricas, ainda hoje prevalentes em muitas partes do mundo.
Ele também tornou público que desde a COP-9, realizada há 13 anos, os países desenvolvidos se comprometeram a pagar R$ 100 bilhões de dólares por ano aos países mais pobres, para uso na preservação de florestas, mas nunca cumpriram o dever assumido no papel.
Em seu discurso, Lula denunciou ao mundo que pessoas de má-fé invadem e desmatam a Amazônia para criar gado, plantar soja e fazer garimpo ilegal, e foi além dos temas ambientais.
Cobrou a participação dos países ricos em ações contra as desigualdades sociais, de raça e de gênero, defendeu um novo desenho do Conselho de Segurança da ONU, mostrando que o atual formato de membros permanentes não mais satisfaz à realidade politica atual, e disse: “Se essa representação foi boa em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, em 2023 é preciso mudar, pois a ONU precisa voltar a ter representatividade, ter força politica.”
APELO
Fez um apelo veemente para que os países desenvolvidos se engajem no esforço para o combate à fome no mundo, uma realidade crescente e assustadora, com grande predomínio em países latino-americanos, asiáticos e africanos, mas que já atinge regiões da própria Europa. Em 2021, mais de 111 milhões de pessoas estavam submetidas a essa deplorável condição. Esse tema, aliás, juntamente com a necessidade do fim dos conflitos armados no mundo, com destaque para Rússia/Ucrânia, foi abordado com profundidade na conversa que o presidente brasileiro teve esta semana com o Papa Francisco.
Lula colocou o dedo na ferida sobre os verdadeiros responsáveis pelos desastres ambientais e outras questões relevantes para a humanidade. Aguardemos para ver quem assumirá a carapuça.