O Dia de Proteção às Florestas, marcado no calendário neste 17 de julho, tem poucos motivos para celebração, frente aos estudos que os pesquisadores nos apresentam neste momento, trazendo, ao contrário, bastante preocupação. Dados do Atlas da Mata Atlântica, por exemplo, embora constate que o desmatamento caiu, em 2023, na região contínua que vai do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, que é pontuada pelo que eles chamam de florestas maduras, nas áreas de transição, entretanto, entre Cerrado e Caatinga e também nos locais de mata jovem, houve um crescimento inaceitável.
Só no Estado de Alagoas, que no passado era modelo de cobertura vegetal e uma das áreas mais expressivas de mata atlântica do país, o avanço dos desmatamentos atingiu a espantosa marca de 38,8%. Os especialistas nesses biomas advertem para o desmantelamento feito em passado recente sobre os órgãos de fiscalização e controle, e dizem que não será possível conter os desmatamentos sem atuação rigorosa de fiscalização, que resulte em cortar crédito a fazendeiros que estão desmatando ilegalmente e impedindo a compra de matérias-primas (madeiras) extraídas dessas ações criminosas.
Daí, ser preciso reestruturar materialmente os órgãos ambientais, especialmente ICM-Bio, IBAMA e os órgãos estaduais de auxílio, ampliando e melhorando seus quadros de pessoal, tornando esses colaboradores oficiais capazes de fazer enfrentamento aos modernos artifícios que fazendeiros bem aquinhoados e mal-intencionados utilizam cada vez mais para ter acesso a terras que garantam avanço da agropecuária.
Ainda ontem, o Relatório Temático sobre Agricultura, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, produzido ao longo e três anos por um grupo de 100 pesquisadores de várias entidades ligadas a 40 instituições dedicadas a todos os biomas brasileiros, revela que a pressão sobre o capital natural, gerando os impactos ambientais que têm gerado, deverá comprometer o próprio futuro do atual modelo de agropecuária na Amazônia e nos Cerrados, tornando-o inviável.
Constata-se que a viabilidade de 74% das atuais atividades agropecuárias tem se tornado possível graças à redução florestal, aos desmatamentos, queimadas, à extinção progressiva de biomas naturais importantes para o equilíbrio natural do Brasil e sua influência no clima mundial.
O ecossistema brasileiro tem enorme importância para o planeta, abrigando 20% de todas as espécies descritas na terra, sendo nosso país o primeiro no ranking de 17 nações mais megadiversas do mundo. E o agronegócio brasileiro tem bastante importância para a economia nacional, responsável por 20% de todos os empregos formais e mais de 25% de todo o Produto Interno Bruto. Mas como é um negócio expressivamente baseado em monocultura de larga escala, com sistemas de irrigação intensivos e uso excessivo e desregrado de fertilizantes e agrotóxicos, carrega consigo todas as mazelas que afetam drasticamente a natureza.
A conclusão dos pesquisadores e cientistas nesse relatório vão no caminho de que para manter a sua própria existência e êxito, o agronegócio brasileiro terá que deixar de enxergar a biodiversidade como um entrave aos seus interesses, mas como uma necessidade de se adotar modelo em que seja plenamente visível e capaz de ver casadas as agendas de conservação com a de produção.
Os pesquisadores entendem que há necessidade de se olhar, com clareza, para uma paisagem rural multifuncional, em que se possa prover mais do que alimentos, mas todos os serviços ecossistêmicos essenciais ao bem-estar humano, como água limpa, solo fértil, regulação climática e polinização. E, também, evidentemente, lucro para os produtores que sabiamente optarem por essa nova trilha.