José Osmando

Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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O pantanal pega fogo e quem está causando isso é o próprio homem

Já são mais de 3 mil focos de incêndio registrados entre 1º de janeiro e 25 de junho deste ano de 2024

Temos visto com frequência diária notícias de que o fogo está tomando conta do Pantanal brasileiro, devastando esse importante bioma, conhecido pelas imensas áreas alagáveis e uma das mais importantes reservas de água doce do planeta. Já são mais de 3 mil focos de incêndio registrados entre 1º de janeiro e 25 de junho deste ano de 2024.

Já foram transformadas em cinzas áreas elevadíssimas, que equivalem a 680 mil campos de futebol, uma comparação muito  compreensível, por dar a dimensão de um espaço bem conhecido do brasileiro, sempre amante desse esporte. As consequências são drásticas e agravam-se pelo fato de que aquela região do Pantanal não se encontrar ainda no período agudo de seca, quando o volume de incêndios cresce de maneira incontrolável.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Os biólogos e especialistas em clima entendem que as mudanças climáticas, que fazem elevar as temperaturas da terra têm grande influência no desencadeamento desse processo de queimadas, mas o que de maneira particular, no caso brasileiro, mais surpreende e apavora é o fato de se constatar que os maiores responsáveis por esses crescentes incêndios são os próprios seres humanos.

E essa responsabilização aos humanos se dá por duas razões bem visíveis, reais, incontestáveis. Primeiro, pela falta de medidas efetivas de prevenção, uma disposição bem mais necessária do que os investimentos de recursos que se tem de fazer na restauração, depois que as devastações acontecem. O segundo ponto, mais grave ainda, é que está provado que 95% dos incêndios ocorridos no Estado do Mato Grosso, ponto central do Pantanal, têm causas humanas na sua origem. Nada menos do que 90% dessas imensas áreas pertencem a empresas privadas, que no objetivo de explorar o solo para plantios e criação de gado, promovem queimadas visando a expansão de áreas.

Ação do homem

O fogo instalado no miolo desses ambientes naturais não tem limite e não escolhe onde vai atuar com maior ou menor força. Vai levando tudo que encontra pela frente, aniquilando toda a vegetação e comprometendo com violência as reservas de água ali existentes. E como a região do Pantanal, segundo os estudos apontam, está sob regime de seca persistente, de intensidade extrema a moderada pelo menos pelos últimos 12 meses, os incêndios plantados, provocados pela ação do homem, ganham volume que não se imaginava ser possível. A quantidade de focos, desse modo, neste momento, já é superior às tragédias registradas em 1988 e os potenciais de perdas já são superiores ao alcançados nos eventos de 2020, conforme levantamento revelado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ao apontar que a atividade humana é a principal causa de incêndios na região do Pantanal, a UFRJ mostra que a ação de fazendeiros em busca de expandir suas áreas para agricultura e criação de gado representa 84% da responsabilidade pelos focos e só 16% decorrem de efeitos gerados por meios naturais.

O Brasil, na imensidão de seu território, tem 9 grandes biomas naturais sob contínua ameaça, muitos deles tendo perdido quase que totalmente a grandeza de seu ecossistema, como ocorre com a Mata Atlântica, de que só restam 24% do que originalmente representou, mesmo sendo um ambiente importante que abrange 17 Estados e no qual estão contidas grandes fontes de abastecimento da água potável que nos serve.

Outro ambiente rico em água, os Cerrados, nesse aspecto de uma importância que se aproxima da Mata Atlântica, está perdendo sua vegetação de forma progressiva, matando suas fontes de abastecimento. Isso faz pesquisadores de organizações respeitadas no estudo das questões ambientais a advertirem que, além dos prejuízos enormes para o agronegócio, a destruição dos Cerrados poderá levar a população brasileira a ficar sem água.

Vê-se, com tudo isso, que é urgente aos governantes de todos os níveis (federal, estadual e municipais) criarem as condições técnicas, operacionais e humanas para adoção de um modelo de prevenção adequado, permanente e responsável, que seja capaz de punir quem causa essas tragédias, mas no mesmo caminho, de propiciar a fixação de uma nova cultura, que possa conter a ganância irresponsável de fazendeiros que não se incomodam em destruir o ambiente, pois, no vazio de suas consciências, o que interessa é o lucro.

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