Os brasileiros conheceram os resultados do Censo geral da população, que o IBGE realiza a cada 10 anos, e que foi concluído com mais de dois anos de atraso. Os números causaram frustração ao próprio instituto, a vários setores do mercado que se valem dos dados demográficos para fixar suas estratégias e a analistas econômicos, pois a população ficou quase 10 milhões abaixo do que se esperava, e inferior igualmente às estimativas anuais que o próprio IBGE realiza. Em números absolutos, o Brasil tem agora 203.062,512 habitantes.
O nível de crescimento da população foi o mais baixo em todos os 150 anos, em toda a série histórica dessa medição. O avanço populacional foi de apenas 0,52% no longo período de 12 anos. Até então, o menor crescimento havia sido registrado entre os anos 2000 e 2010, quando o índice ficou em 1,17%.
PERFIL SOCIOECONÔMICO
O censo é uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para fazer uma ampla coleta de dados sobre a população brasileira. Por ele, permite-se traçar um perfil socioeconômico do país, uma vez que conta os habitantes do território nacional, identifica suas características e revela como vivem os cidadãos, do nascimento à velhice. Os estudos gerados por esse instituto são reconhecidos, por universidades, por profissionais e cientistas de todo o mundo, fazendo o Brasil de larga tradição e respeito.
As informações geradas pelo Instituto, sobretudo através do Censo, interessam de modo positivo aos meios acadêmicos e empresariais estrangeiros, em várias partes do mundo, em razão da qualidade dos dados e elementos estatísticos e espaciais postos à disposição para análises, avaliações, gestão e planejamento, algo que, substancialmente, falta a outros países.
A quem interessa?
A quem interessaria não ter um Censo demográfico do IBGE sendo realizado normalmente, a cada 10 anos, com todos os preparativos de qualidade, segurança e fidelidade, capaz de aferir a verdade sobre nossa população?
Eis aqui uma questão relevante, que merece ser refletida e cobrada para que se tenha uma real compreensão. O Censo, como é feito a cada 10 anos, em 150 anos de história, deveria ter ocorrido no ano de 2020. Ocorre que o governo da época, liderado pelo Presidente Jair Messias Bolsonaro, sob influência e comando verdadeiro do ministro da Economia, Paulo Guedes, cortou as verbas para a realização do levantamento. E aí, transferiu-se de 2020 para 2021, e mais vez surgiram outros cortes no orçamento do IBGE para essa finalidade.
CAMUFLAR O PAÍS
Com grandes dificuldades internas, impossibilitado de nomear os recenseadores aprovados em concurso, retardando a contração desses técnicos específicos, o IBGE foi se arrastando ao longo de dois anos, oferecendo, finalmente, um resultado que causa estranheza e questionamentos e que pode camuflar o país real que todas as pessoas de bom senso esperam.
As causas do boicote aplicado ao Censo, pelo governo passado, podem ser explicadas por algumas motivações, sobre os quais verdadeiramente dificilmente se saberá um dia, mas apontam para duas possibilidades: ignorância avassaladora e desejo de ocultar da população brasileira, e também do mundo, o retrato fiel do que somos como nação. Muito provavelmente, a ignorância ganha força nesse terreno. E eu acrescento ainda, a ausência de boa vontade, num governo que foi marcado fortemente pelo negacionismo, pelo desprezo à ciência e à pesquisa.
E o IBGE é uma casa importante e significativa de aplicação da ciência e da pesquisa. Agora, verdade que temos diante da nossa mente e dos nossos olhos é uma só: faltou ao governo Bom Senso. E por falta de bom senso, não era para se esperar um resultado diferente do que esse Censo nos apresenta.