Neste 15 de outubro celebrou-se mais uma vez o Dia do Professor, uma data instituída pelo presidente João Goulart em 1963, portanto há exatos 60 anos, mas que apresenta poucos motivos para festejar. De lá para cá, a despeito dos mestres serem lembrados como os mais importantes na formação dos brasileiros, não ocorreram avanços marcantes para elevar essa extraordinária categoria de servidores ao patamar de justiça que merece.
Pelo contrário, os professores seguem tratados como profissionais inferiores. Basta ver, por exemplo, uma pesquisa que acaba de ser anunciada, levantando informações colhidas pela Fundação Getúlio Vargas junto a profissionais que trabalham em empresas privadas, em ocupações que exigem ensino superior.
O estudo conduzido pela economista e pesquisadora Janaína Feijó, a partir de informações da FGV e de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, revela que os professores do ensino pré-escolar são os profissionais com ensino superior com pior remuneração no Brasil.
O levantamento fez comparação com a situação alcançada no ano de 2012, portanto, há 10 anos, e mostra que o rendimento médio dos professores apresentou um ligeiro crescimento real ao longo desse período, mas a profissão continua sendo a mais mal remunerada entre todos os detentores de ensino superior.
O rendimento médio dos professores de pré-escola, conforme os dados colhidos pela pesquisa, é de R$ 2.285,00 mensais. Associam-se aos professores da pré-escola, com os rendimentos mais baixos, os físicos, astrônomos, assistentes sociais, bibliotecários e fonoaudiólogos. Os médicos especialistas- que nesse comparativo de 10 anos, de 2010 até o segundo trimestre de 2023-, tiveram uma queda de remuneração na casa dos 13%, seguem como a profissão com maior remuneração, em torno de R$ 18 mil.
Ao lado dos médicos, com melhores remunerações, o matemático, o geólogo, o engenheiro mecânico e o desenvolvedor de software. A propósito, os desenvolvedores de páginas de internet e multimídia tiveram a maior valorização salarial do período, apresentando um crescimento médio de 91% nessa década.
PAULO FREIRE
O Brasil, apesar das sábias manifestações do notável e exemplar Paulo Freire, ainda não compreendeu que educar não é uma tarefa que se faz “por amor”, como sempre é a tendência de qualificar o papel do professor. É importante que eles tenham bons salários, levando em conta as responsabilidades que sobre eles recaem, pelo papel que desempenham na formação de crianças e jovens, portanto, edificadores das bases que vão sustentar todas as demais escolhas que se faça na vida a partir da escola.
Está ainda longe de governantes, políticos, classe empresarial e sociedade como um todo, terem o entendimento de que remunerar bem os professores e ter políticas educacionais que reflitam esta necessidade, é papel essencial de justiça e merecimento. Se a educação é tão importante para todo o conjunto social, para o desenvolvimento social e econômico das nações, seus agentes, esses profissionais abnegados que vivem sob adversidades, precisam ser remunerados de forma justa.
Embora se saiba que 77% dos professores brasileiros encontram-se no ensino público, onde na grande maiores dos Estados e municípios os salários são baixos, também nas escolas privadas a situação não é diferente. As escolas particulares igualmente pagam mal aos seus professores. E isso se transforma num ciclo de degradação do ensino, algo que não combina com o anseio de se ter um país minimamente desenvolvido. Já passa do tempo de pensar claramente sobre esta realidade. É preciso mudar essa lógica que, na prática, leva os professores a condições inferiores.