O Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central, iniciou nesta terça-feira mais um ciclo de reuniões, devendo anunciar no final deste dia 31 de julho qual será a decisão de seus conselheiros sobre a taxa Selic, os juros básicos que regulam o sistema financeiro nacional. Ninguém espera qualquer novidade. Nem sonhando é possível prever-se outro resultado que não seja o que já esteja antecipadamente previsto e acertado.
Os conselheiros do Copom apenas cumprem pauta, seguem um calendário anual que determina que a cada 45 dias eles devem cumprir essa rotina de revelar se as taxas de juros caem, descem ou ficam como estão. Por que, na verdade, quando eles sentam para tentar decidir, a decisão já foi previamente tomada. Quem decide, de fato, sem muitos rodeios, é o invisível mercado, o segmento mais conservador e especulativo da economia brasileira, cujo poder de decisão está nas mãos de pouquíssimos privilegiados.
Às vésperas de mais uma dessas reuniões do Copom (como aliás sempre costuma acontecer), o mercado deu mais uma prova cabal de que tem pleno e rigoroso controle sobre o Banco Central. O Boletim Focus, que o BC divulgou na segunda-feira, claramente dentro da sintonia com o que pensam e querem as lideranças do setor, estabeleceu as regras para que os membros do Comitê mantenham a decisão da reunião passada e não se aventurem a baixar as taxas Selic.
Os sinais transmitidos pelo BC no seu boletim de ontem apontam para um aumento nas previsões de inflação, de 4,05% para 4,10% em 2024, e mencionam um certo alvoroço no câmbio, com o dólar crescendo diante do real, aproximando-se de R$ 5,70, ante uma previsão que era de R$ 5,30 para o fechamento do ano.
Ora, como a economia brasileira tem dado provas de ânimo, com o PIB em elevação, crescimento das atividades da indústria, comércio e serviços, diminuição da taxas de desemprego, aumento do emprego com carteira assinada, reanimação da construção civil, presença de altos recursos em obras públicas, elevação da massa salarial dos trabalhadores e crescimento expressivo do consumo das famílias, resta ao poderoso mercado especular sobre possibilidades de aumento da inflação e desequilíbrio cambial(que o sistema financeiro sabe mexer como ninguém) como fatores de risco, capazes por si só de impedirem a redução das taxas de juros.
A influência decisiva que o mercado especulativo exerce sobre o Banco Central é de tal forma expressivo, que algumas vozes desse setor chegam mesmo a celebrar que o Copom, a partir da sua última sessão (quando decidiu interromper o ciclo de quedas da Selic) “estará muito mais atento às palavras do que aos números.” Não importa, assim, que a economia nacional esteja andando em caminho reto e seguro, com o PIB crescendo, indicadores plenamente positivos dos setores produtivos, medidas adotadas no terreno tributário, com aprovação de reforma, e garantia do governo de que não abrirá mão do controle fiscal.
As palavras já foram plantadas no consciente coletivo, através da mídia corporativa e das redes sociais: “o câmbio está desequilibrado e há projeções de aumento nas taxas de inflação.” Por mais que isso resulte de esforço especulativo, é suficiente para que os conselheiros do Copom fechem os olhos aos números e prestem a devida atenção ao que o mercado está dizendo. Tem que parar a queda nas taxas Selic, pois a inflação é uma ameaça batendo à porta.
Uma piada. Mas é assim que a coisa anda. E o Brasil vai ficando, sempre e mais, aos pés do mercado.