Setores produtivos da economia brasileira reagiram com firmeza à decisão do Banco Central, tomada ontem, de manter as taxas de juros Selic no maior patamar entre todos os países do mundo, fixada em 13,75% pela sétima vez consecutiva. Empresários, investidores e governantes têm feito reiteradas críticas a essa insistência do BC e reiterado apelos para que as taxas sejam reduzidas, como caminho para o reaquecimento da economia.
Logo após o anúncio de que os juros não baixariam e diante da ausência no comunicado de qualquer sinal de que a redução poderia se dar no mês de agosto, quando ocorre a próxima reunião do Copom, surgiram fortes reações dos setores produtivos, com críticas pesadas à posição do Banco Central, uma atitude que parece vir se tornando uma obsessão pessoal do presidente da instituição, Roberto Campos Neto.
SETOR IMOBILIÁRIO
Uma das primeiras reações veio do setor imobiliário, representada pela ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), que viu a decisão do BC como “preocupante”, defendendo que a redução dessas taxas é crucial para impulsionar o desenvolvimento econômico do país. Na nota, a associação diz que “é preocupante constatar que o Brasil detém as maiores taxas de juros reais do mundo (quando descontada a inflação), com uma taxa de 9,4% ao ano, hoje, muito acima do segundo colocado, o México, que possui taxa real de 6,6%.”
“Esses números”, concluem os investidores do mercado imobiliário, “representam um obstáculo significativo para investimentos e têm impacto prejudicial na geração de empregos, especialmente para a população de baixa renda. A taxa de 13,75% inviabiliza a aquisição de imóveis para milhares de famílias, uma vez que os altos juros resultam em um aumento exorbitante de 23% nas parcelas do financiamento".
INDÚSTRIA
No mesmo tom, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção lamentou a manutenção da taxa “nesse patamar exorbitante”, ressaltando que "isso está claramente afetando o desempenho da atividade produtiva no país, justamente ela que gera renda e emprego. Particularmente, a indústria da construção está sendo muito impactada por esse juro elevado, haja vista a queda de 30,2% dos lançamentos imobiliários nos primeiros meses do ano e o segundo resultado consecutivo negativo do seu PIB, o que certamente nos levará à revisão da nossa projeção de crescimento para este ano”.
Ao concluir a nota, a Câmara Brasileira da Construção Civil afirma que “o cenário atual, com menor pressão inflacionária, a melhoria das expectativas e a redução de incertezas com a aprovação do arcabouço fiscal pela Câmara dos Deputados, demonstra que ou reduzimos os juros ou continuaremos a atrasar o crescimento do país".
INÚMERAS MANIFESTAÇÕES
Essa percepção de que não dá para conviver com as taxas de juros Selic que o Banco Central tem imposto ao país, vem sendo exposta claramente por inúmeras manifestações dos setores de produção .
Ontem mesmo, antes do anúncio feito pelo Copom depois das 18h30, como é habitual nesse horário, uma figura influente, o ex-ministro das Comunicações de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Carlos Mendonça de Barros, se antecipou nessas reações, postando no seu twitter que “o radicalismo do Comitê de Política Monetária do Banco Central representa um risco de abrir espaço para a mudança na lei de independência do BC pondo fim à autonomia da instituição.”
SABOTAGEM À ECONOMIA
Na sequência dessas contrariedades, a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores fez um duro pronunciamento no plenário da Câmara, logo após conhecido o anúncio do Copom, afirmando que os dirigentes do BC sabotam a economia e atuam propositadamente contra o país. Não há mais como tolerar essa situação. O certo é a saída desse pessoal.”
Estamos diante de uma situação que se tornou política e que está trazendo consequências danosas à economia brasileira, com grande contribuição na eliminação de vagas de trabalho, na redução drásticas das atividades produtivas, num momento em que todos os componentes econômicos dão sinais claros de que o Brasil está no caminho certo, aprovando medidas necessárias ao equilíbrio fiscal e ganhando confiança e crédito no cenário internacional.